• Texto Nathalia Fabro / Produção Bruna Pereira
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Hidromel (Foto: Iara Venanzi  / Editora Globo)

O consumo do hidromel, que já foi muito popular em civilizações ancestrais, tem crescido globalmente e conquistado o patamar gourmet na gastronomia. Na foto, copo do Westwing (Foto: Iara Venanzi / Editora Globo e Produção: Bruna Pereira)

Evidências arqueológicas indicam que anos antes de Cristo, os humanos já produziam hidromel, bebida alcoólica obtida por meio da fermentação de água e mel, considerada a mais antiga do planeta. Há indícios do produto nas civilizações do Egito, Grécia, Império Romano, Idade Média, de povos nórdicos e indígenas. Apesar dessa herança, o mercado moderno de hidromel é tímido, mas começa a se expandir mundialmente.

Segundo especialistas, sua criação aconteceu acidentalmente. “Vestígios mostram que, no período das cavernas, o mel era armazenado em potes de barro. O alimento é sensível e a qualquer contato com a água pode fermentar. Acredita-se que durante grandes chuvas a bebida se formou”, relata Idolo Giusti, produtor de hidromel artesanal. “Na Idade Média seu consumo declinou, em parte porque surgiu na Alemanha a Lei da Pureza da Cerveja”, aponta Marco Massarico, gerente do restaurante Taverna Medieval, em São Paulo.

A lei em questão é a Reinheitsgebot, de 1516, que instituiu que a cerveja só poderia ser fabricada com água, lúpulo e malte de cevada. “Como havia altas taxas para quem não se adequasse às regras, muitos produtores deixaram de fabricar o hidromel para fazer só cerveja.”

A produção da bebida é parecida com a de vinhos: ocorre a fermentação da água, do mel e de leveduras dentro de tonéis de madeira. Nesse processo, dá para usar o mel de diferentes espécies de abelhas e acrescentar frutas, especiarias, lúpulo, malte e outros ingredientes – essas misturas originam diversas variedades com e sem gás, tais como melomel, metheglin e braggot (saiba mais abaixo).

Não há legislação oficial mundial nem brasileira sobre a classificação de hidroméis, mas um decreto nacional de 2009 determina que só pode ser considerado hidromel o líquido obtido “pela fermentação alcoólica de solução de mel de abelha, sais nutrientes e água potável”. As demais versões são categorizadas como “bebidas alcoólicas mistas”. Porém, para os especialistas que atuam no setor, as variações não deixam de ser o bom e velho hidromel. “Ainda não tem uma década que esse mercado começou a ganhar força no Brasil. O nosso desafio é fazer com que o consumidor entenda a sua relevância”, afirma Marcos Rodrigues, diretor comercial da marca OldPony, hidromelaria paulista.

Em busca de reconhecimento nacional, surgiu em 2016 a Associação de Produtores de Hidromel (APH), que elaborou o Mapa Hidromeleiro, identificando mais de 100 pequenos produtores no país. “Esse número pode ser maior. Em grupos de redes sociais, contabilizamos sete mil pessoas interessadas no tema. Em relação às marcas regularizadas, temos mais de 30 fabricantes. Dessas, nove são hidromelarias de fato, e as demais são ‘ciganas’, pois produzem seus rótulos em cervejarias, vinícolas ou em outras hidromelarias”, declara Alexandre Peligrini, presidente da APH e da OldPony.

Nos Estados Unidos, de acordo com a American Mead Makers Association (AMMA) – em inglês, a bebida chama-se mead –, em 2003 existiam cerca de 60 hidromelarias, e no ano passado foram contabilizadas cerca de 450. Na Europa, o portal Mead World levantou que existem mais de 100 hidromelarias regularizadas. Inclusive, no Reino Unido há o costume antigo de presentear recém-casados com hidroméis. A tradição teria surgido na época da Babilônia, quando o pai da noiva fornecia garrafas do produto ao casal, pois acreditava-se que ajudava a fertilidade – assim nasceu a expressão “lua de mel”.

Apesar de pouco difundida comercialmente, a bebida é bastante conhecida por fãs da mitologia nórdica, jogos de RPG e literatura fantástica. Isso porque é citada na saga O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien; na série Game of Thrones; e em diversos filmes, como Harry Potter e Thor; e games medievais. “Temos um público geek fiel, mas queremos mostrar que o produto tem patamar sofisticado para a culinária”, diz Rodrigues.

Apesar de ter mel na composição, a bebida não tem sabor muito doce. “No processo de fermentação, o mel perde o seu adocicado. A experiência gustativa é única para cada pessoa, é difícil fazer uma comparação com algo que existe no mercado”, aponta Rodrigues. Por isso, o hidromel pode ser harmonizado com diversos pratos. “Para quem está conhecendo, sugiro provar como se fosse um vinho branco. A versão tradicional combina com carpaccios. Já os meloméis de frutas, como o de jabuticaba, harmonizam com carnes”, recomenda Giusti. “Também pode ser usado no lugar do vinho no preparo de risotos e para fazer coquetéis, como caipirinha ou o clássico negroni, substituindo o vermute”, completa Massarico. Depois, é só brindar à vida longa!

Tipos mais comuns de hidromel

1.Braggot
Fermentado com malte e lúpulo, é um “misto” de cerveja e hidromel. Também é chamado de brackett.

2. Capsicumel 
Produzido com adição de pimentas, como jalapeño, malagueta, entre outras.

3. Coffee mead 
Na fermentação são colocados grãos de café.

4. Cyser
Resulta da mistura de mel e maçã, semelhante ao espumante cidra.

5. Great mead
Com ingredientes bem selecionados e de alta qualidade, é produzido com o intuito de envelhecer por bastante tempo.

6. Melomel
Composto pela união de água, mel e alguma fruta.

7. Metheglin 
Feito com ervas ou especiarias, que podem ser gengibre, canela ou baunilha.

8. Short mead 
Também conhecido como quick mead, é elaborado para envelhecer rapidamente. 

Confira abaixo duas receitas de drinques que levam hidromel como principal ingrediente. Para acessar o passo a passo, basta clicar no título ou na foto.

1. Drinque 'Poção do Amor' leva hidromel, limão siciliano e morango'

Poção do Amor. Taça e garrafa do Westwing. Tábua da Muma (Foto: Iara Venanzi  / Editora Globo)

Drinque Poção do Amor em taça da Westwing sobre tábua da Muma (Foto: Iara Venanzi / Editora Globo e Produção: Bruna Pereira)

Elaborado por Marco Massarico, gerente do restaurante Taverna Medieval, em São Paulo, o drinque Poção do Amor é fácil de preparar e leva ainda limão siciliano e morango.

2. Receita de drinque com hidromel, limão, hortelã e água com gás

Elixir da longa vida. Tábua da Theodora Home (Foto: Iara Venanzi  / Editora Globo)

Drinque 'Elixir da longa vida', elaborado por Marco Massarico, sob tábua da Theodora Home (Foto: Iara Venanzi / Editora Globo e Produção: Bruna Pereira)

O drinque Elixir da longa vida, também elaborado por Marco Massarico, leva hidromel, limão, hortelã e água com gás. A bebida milenar com sabor semelhante ao do vinho branco traz um toque especial ao preparo.