Cria da favela da Rocinha, na Zona Sul carioca, o artista plástico Maxwell Alexandre, de 33 anos, costuma dizer que o Rio de Janeiro é o melhor lugar do mundo. “Sonho em transformar a cidade na meca da arte contemporânea. As pessoas não vão mais pensar em Londres, Nova York ou Paris, mas no Rio”, profetiza.
A pretensão, um tanto ousada, vem de alguém cada vez mais reverenciado mundo afora. Com traços que não escondem a influência do hip-hop em suas telas, ele exalta a figura do jovem negro em representações do cotidiano, a partir de discussões sobre raça, violência policial e ascensão social.
Em fevereiro, Alexandre levou a Madri a exposição Nuevo Poder: Passabilidad, em La Casa Encendida — também neste ano, na mesma capital, o incensado Museu Reina Sofia adquiriu duas de suas obras. Em julho, protagonizou a mostra Entrega: One Planet. One Health no tradicional Cahiers d'Art, em Paris. Trata-se de um 2023 que enfatiza sua trajetória profissional, iniciada em 2017.
Desde então, ele foi eleito artista do ano pelo Deutsche Bank, em 2020, e um dos 35 principais artistas de vanguarda no mundo pela The Artsy Vanguard. Mesmo com todo o reconhecimento internacional, o rapaz não se vê longe de casa. “Quanto mais você se afasta do seu cerne, mais se lembra do que vale a pena. É afastar para aproximar”, analisa.
Alexandre busca popularizar a arte contemporânea. Neste ano, exibiu telas em dois pavilhões da periferia do Rio: um em São Cristóvão, na Zona Norte, entre abril e julho, e outro na Rocinha, inaugurado há cinco meses e aberto até janeiro de 2024. “Há uma renovação no olhar desse público, que começa a se interessar pelo tema. A arte contemporânea foi criada para distinguir pessoas socialmente. Quando colocamos uma galeria na favela, ocorre uma democratização do segmento máximo da burguesia”, pondera ele, um dos fundadores do coletivo Igreja Reino da Arte, cujo propósito é tornar a arte uma “religião” em regiões mais pobres.
O jovem virou um dos expoentes de um movimento nacional em torno da maior visibilidade de artistas negros e indígenas. Ele considera o cenário positivo, porém com ressalvas. “Não vejo como algo verdadeiro, mas como uma necessidade do mercado. É para onde o dinheiro está indo agora”, atesta.
O criador cresceu em uma casa sem envolvimento com a arte. Suas principais referências apareciam nos animes, os desenhos animados japoneses, a exemplo de Dragon Ball. Durante a graduação em design na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), na qual ingressou como bolsista, conheceu o professor Eduardo Berliner, que lhe apresentou a pintura.
“No design, cria-se algo com alguma finalidade. Na arte contemporânea, o que vale é a não função do objeto, e isso me dá liberdade”, diz. Alexandre calcula ter produzido mais de 500 telas, distribuídas por três acervos em São Cristóvão e na Galeria Millan, uma das mais importantes do país, que o representa desde julho. Os trabalhos custam, em média, entre US$ 50 mil e US$ 60 mil (o mais caro vale US$ 250 mil).
Descrito por seus pares como arredio e antipático, o carioca se defende: “É que sou tímido e pouco carismático”. O homem de sorriso sempre contido, para não dizer quase inexistente, não se preocupa com a opinião alheia a respeito do modo como pensa a arte ou sua própria vida. “Jamais vou entrar nessa de agradar todo mundo. Quero sempre poder me dar a esse luxo.”
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