Marinas espalhadas pelo país esperam movimento fora do padrão entre dezembro e janeiro: seis embarcações estrangeiras da categoria dos super iates (gigantes que chegam a medir de 60 a 130 metros) devem passar pela costa brasileira nos dois meses, segundo a gestora BYS International, que cuida da logística dessas embarcações. "Desde a Olimpíada [em 2016] a gente não via 6 iates desse tamanho se movimentando simultaneamente no Brasil", conta à GQ Brasil João Raphael T. Kossmann, fundador da multinacional.
Um deles, de 63m, passou este mês pelo Rio de Janeiro em direção à Patagônia. Outro, de 60m, deve fazer Rio e Florianópolis, partindo de Cabo Verde e a caminho também da Patagônia. Ainda em águas cariocas, outro super iate (o maior deles, com 126m) saindo de Trinidad e Tobago faz parada em território brasileiro antes de seguir para a Antártida. Finalmente, uma embarcação menor, de 45m, deve atracar em Ilhéus saindo das Ilhas Marshall.
Kossmann, que enxerga um movimento nulo de iates estrangeiros no país nos últimos dois anos, aponta que a natureza das políticas fronteiriças forçaram até mesmo os super ricos a descer âncora mais perto de suas moradas - ou em países de medidas sanitárias mais relaxadas. "O que aconteceu é que eles optaram por lugares em que as fronteiras ficaram, por assim dizer, mais flexíveis. No Caribe algumas ilhas não podiam se dar ao luxo de não ter turistas, por exemplo", comenta.
A gestora não é a única a enxergar uma tendência de interesse renovado no país. Até meados de dezembro de 2022, nove iates estrangeiros (de pequeno ou grande porte) ancoraram nas oito marinas do grupo BR Marinas, maior do Brasil no setor. Para o ano seguinte, já há pedidos para 16 embarcações.
Em 2016, o grupo observou a chegada de 17 iates de fora do país durante a Olimpíada no Rio. Nos anos seguintes, principalmente com a pandemia da Covid-19 e surtos de doenças com o zika, esse movimento internacional chegou a despencar 75% ao ano.
Parada de milhões
Kossmann, fundador da BYS, encara a chegada de um super iate como "grande redistribuição de renda, parado por aqui uma semana que seja". "A gente tem uma média, nos últimos 12 anos, de um gasto superior a meio milhão de reais por destino que o proprietário pára", diz. No caso de estadias maiores, de dois ou mais meses, esse consumo pode chegar à casa da dezena de milhões, contando combustível, serviços de marina, passeios e entretenimento.
O tipo de serviço requisitado a equipes como a de Kossmann é não raro cercado de curiosidades. Em 2016, uma marca de bolsas brasileira organizou um desfile dentro do barco Tatoosh, de dono americano. Da mesma forma, um desfile exclusivo de joalheria ocorreu no Rio, em 2012, na embarcação escocesa Lady Christine. Já o russo Here comes the sun (inspirado no clássico do Beatles) teve direito a uma espécie de shopping montado a bordo em 2018.
"Na Olímpiada, tivemos o caso de um dono de barco que adquiriu mais de 20 milhões de reais em ingressos [de primeira fila] para todos os possíveis eventos que quisesse ir", lembra Kossmann.
Potencial
"Começamos a perceber uma retomada, estamos voltando a ser parte do roteiro de desejo dos barcos estrangeiros. Mas é muito pouco ainda para o potencial que tem o litoral do Rio de Janeiro. Temos expectativa que esse cenário esteja mudando. Sinto nas feiras náuticas internacionais um aumento cada vez maior do interesse pela costa brasileira" afirma Gabriela Lobato Marins, CEO da BR Marinas.
A melhoria da estrutura náutica é apontada por Gabriela como um dos pilares desse movimento. O grupo pretende abrir no litoral do Rio de Janeiro, no início de 2023, uma marina com capacidade para abrigar super iates com mais de 90 pés. Quando as obras, orçadas em R$ 4,5 milhões, estiverem concluídas, a Marina Bracuhy, em Angra dos Reis, terá 165 vagas secas e 250 molhadas, 30 delas destinadas aos gigantes náuticos.
Kossmann, da BYS, observa que, de cerca de 6 mil iates acima de 30 m de comprimento, 2 mil passam pelo menos uma vez a ano do corredor Caribe/Europa, que os leva próximos da costa brasileira. "São dois dias de distancia de Fernando de Noronha. O potencial é gigantesco", comenta.