Faz pouco tempo que falei sobre essa história de que dinheiro e investimentos não eram coisas “de mulher”. Mas, o que acontece quando fazemos um recorte racial nessa análise? Antes de falar sobre dinheiro, vamos olhar para um breve contexto histórico:
![Mulheres negras e dinheiro: como as desigualdades sociais atrapalham o crescimento financeiro (Foto: Leticia Oliveira) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/klcyYUMm57FuyAaq881ia_beMKQ=/0x0:607x607/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/K/l/XaDNtSQ5apOTurmHbntQ/2020-11-19-mulheres-negras-e-dinheiro.png)
A tal da pirâmide
Se fosse feita uma foto da nossa atual realidade socioeconômica, colocando aspectos como renda, acesso, escolaridade e oportunidades, veríamos uma pirâmide. Essa pirâmide socioeconômica serve para mensurar como está a desigualdade da nossa sociedade atualmente. E quando falamos de desigualdade, fazendo um recorte de gênero e cor, notamos que as mulheres negras estão na base dessa pirâmide. Trazendo os dados de renda como exemplo, uma pesquisa do IBGE mostrou que a mulher negra recebe menos da metade que o salário de um homem branco.
Ao olhar para a luta pela equidade de gênero, é possível perceber que o direito de trabalhar é uma das principais bandeiras. Quando fazemos um recorte de raça, vemos que a mulher negra sempre trabalhou – durante os mais de três séculos da escravidão, as mulheres negras ficavam com os trabalhos domésticos e braçais, e essa realidade não mudou muito de lá para cá.
Para mulheres negras, lidar com dinheiro sempre foi uma questão de sobrevivência – mesmo com salários mais baixos que a média, uma grande maioria é responsável por toda parte financeira da casa. Segundo o IBGE, quando olhamos para os lares de mães solos, 61% do total são chefiados por mulheres negras. Em contrapartida, 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha de pobreza.
Olhar para história faz ter consciência sobre a desigualdade da nossa sociedade, e entender todo esse processo ajuda a desconstruir essa estrutura que temos atualmente para fortalecer e transformar nossa atual realidade. Como? Podemos começar ajudando nossas mulheres afro empreendedoras, até porque, o Sebrae mostrou que, entre as mulheres empreendedoras, as mulheres negras são metade desse número. Por outro lado, uma boa parte ainda está na informalidade (49%) do total.
Estar na informalidade, receber baixas remunerações e ter forças para lutar dia a dia para educar e alimentar a família não é fácil. Por isso, ao falarmos de investimentos e mercado financeiro, primeiro precisamos tirar da frente todas essas dificuldades que a mulher negra enfrenta para conseguir se consolidar.
Por que estou aqui hoje?
Estou aqui hoje por ter esperança, sei que comecei trazendo alguns dados que entristecem, mas que são a realidade. E, como falei, o primeiro passo é ter consciência. Qual o segundo? Ocupar espaços. Quando eu resolvi que iria começar a faculdade em um dos setores mais machistas (engenharia mecânica), tinha um pensamento bem claro: eu quero ocupar espaços. E esse pensamento continuou e continua comigo durante essa trajetória no mercado financeiro.
Meu sonho é ver mulheres negras em todos espaços, setores, indústrias. Quero ver mulheres negras líderes, puxando outras negras. Vale citar aqui a incrível Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela". E eu quero ver essa estrutura se movimentar, a diversidade aumentar e com ela a transformação acontecer.
Então, na coluna de hoje, a dica não é de investimento no mercado financeiro, é de investir seu tempo conhecendo mulheres que estão ajudando a movimentar a sociedade e que produzem conteúdos sobre mercado financeiro. Não quero estar aqui sozinha, quero estar cercada de mulheres negras inspiradoras.
São elas: Monica Costa, do @GranaPretta, Átila Lima, @atilalimafinancas, Dina Prates, do @Dinapratesfinancas, Laura, do @sesitua.financas, Cinara Santos, do @cina.prospera, Nath Amaral, do @Nathamaral.financas, e a Mila Gaudencio, @milagaudencio, entre diversas outras, que se você quiser me indicar lá no meu Instagram (@clarasodree), vou adorar conhecer e me inspirar.
Para finalizar, gostaria de ressaltar que a luta antirracista é para todos. Não existe transformação sem consciência e sem oportunidades. Se você aprendeu algo ou se inspirou com esse texto, não esquece de compartilhar, o conhecimento é transformador. Vamos nessa?
![Clara Sodré é epecialista em Investimentos e Assessora de Investimentos da XP. Criadora de conteúdos voltados para educação financeira e diversidade no mercado financeiro. Antes disso trabalhou no Banco Bradesco e no escritório de investimentos EQI. (Foto: Divulgação) — Foto: Glamour](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/Nm5005HpKNGcoP3OpPcfZTaFGLw=/0x0:607x607/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/O/r/BPB3QBSZWNu6OpAHATcA/2020-10-08-clara-sodre.png)