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Por LUANDA VIEIRA (@luandavieira)


Comemorar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é entender que o feminismo não fala por todas as mulheres e precisa ser segmentado entre as minorias até esgotar as questões de preconceitos no país. O racismo é o mais urgente deles.

Nos últimos meses, tivemos exemplos de como o crime atinge todas as esferas da sociedade e vai além do xingamento de macaco: crianças foram mortas pela polícia; Thelminha sofreu injúrias raciais em diversas lives que participou; e Fatou Ndiaye foi cruelmente ofendida por uma turma de garotos de seu antigo colégio, o Franco-Brasileiro, no Rio de Janeiro.

Fatou (Arte: Erik França) — Foto: Glamour
Fatou (Arte: Erik França) — Foto: Glamour

Foi a atitude da estudante de 15 anos, porém, que comprovou a sua própria teoria: “A educação de mulheres negras vai mudar o rumo das discussões sociais. A forma como eu reagi às injúrias mostrou um comportamento diferente do que as pessoas estão acostumadas a ver na televisão e é exatamente o que eu espero paro o futuro da mulher negra. Com conhecimento, nada nos paralisa”, diz Fatou.

Ter consciência de seus privilégios dentro da comunidade negra também faz dela uma pessoa segura e determinada. “Sei que existem pessoas passando por situações raciais piores do que a minha, mas vir de uma família acadêmica me deu estrutura para conseguir passar esse incentivo adiante. Sobre as injúrias que sofri? Usei todas como combustível para conquistar meus sonhos e me inscrevi para vários programas de bolsas, inclusive internacionais”, conta.

Enquanto Fatou gerencia as redes sociais da marca de sua mãe, a África Arte (@africaarte), ela pensa em ser ginecologista para cuidar da saúde da mulher negra, tão desassistida no Brasil e no Senegal, de onde vêm seus pais. "Se eu conseguisse propagar a medicina africana, seria um grande ganho para o mundo", diz. Por aqui não sobra dúvidas de que a jovem simboliza o futuro que nós esperamos para a comunidade negra.

Confira 5 coisas que aprendemos com a Fatou:

1. OS ALGORITMOS SÃO PODEROSOS

"Estamos vivendo uma revolução digital e o racismo precisa ser uma pauta recorrente nas redes sociais e na internet. Neste caso, eu acho mais importante, inclusive, uma pessoa publicar um #BlackLivesMatter, sem se importar, do que não publicar. Se nós conseguirmos manter esse assunto nos trend topics durante meses, conseguiremos pressionar os órgãos públicos e esperar por mudanças concretas. Mas as pessoas subestimam o poder da internet e esquecem que essa ferramenta elege presidentes e também os depõem."

2. REPRESENTATIVIDADE VAI ALÉM DA IMAGEM

"As pessoas acham clichê quando eu digo que uma das minhas inspirações é a Beyoncé. Claro, é muito difícil não achá-la incrível. Mas ninguém consegue enxergar além, o que ela representa fora dos palcos ajudando a comunidade negra nos Estados Unidos. Assim como as atrizes Lupita Nyong'o e Viola Davis. Acho suas atuações fantásticas, mas as admiro pelo trabalho longe das telas."

3. SER RACISTA É OPCIONAL

"Com o meu caso as pessoas começaram a entender que ser racista é realmente uma escolha e independe de classe social. Ali falávamos de garotos que tiveram todo acesso à informação, estudavam em um dos 10 melhores colégios do Rio de Janeiro e ainda assim propagaram coisas extremamente racistas. O racista não fala ou faz aquilo por que não sabe, mas por que ele tem total noção de como machucar e ofender uma pessoa negra."

4. A MULHER NEGRA QUE SE DESTACA INCOMODA

"A Thelma é o exemplo mais próximo que temos. Fiz várias lives com várias mulheres negras relevantas, mas só na vez da Thelminha sofremos xingamentos - e foram vários. O histórico de racismo dela nas redes sociais deixa claro que ser mulher, negra, médica e milionária incomoda muito. Por isso a minha missão é incentivar que todas busquem conhecimento e ocupem espaços de poder."

5. É PRECISO MANTER O POSITIVISMO

"Não é fácil ser negra, brasileira e ter saúde mental. Têm dias que dá vontade de jogar a toalha por achar que o Brasil não vai mudar nunca, mas vamos chegar lá. Talvez eu não veja a democratização racial acontecer, mas insisto na educação para quem vier depois de mim. Precisamos investir o nosso tempo e recurso educando a população preta para dar meios de combate e destaque acadêmico, nas empresas e nas esferas políticas federias"

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