Não sou a melhor pessoa para assistir prêmios e acompanhar em tempo real os babados da cultura pop, confesso. Eu esqueço que vai rolar, nunca sei como se assiste programas ao vivo pela televisão, e quando percebo já acabou. É triste, pois adoro conferir os lookinhos das famosas, descobrir filmes, séries e músicas que não conheço, além de acompanhar a reação dos vencedores ao serem pegos de surpresa com seus nomes no palco.
Assim, para não ficar de fora de todo o Glamour, eu recorro a notícias e fotos que enchem a internet após as premiações. Foi então que, em uma dessas fuçadas online, encontrei um trechinho da fala de Miley Cyrus ao receber o prêmio de “Gravação do Ano” nessa última edição do Grammy Awards.
Em seu discurso, a cantora de “Flowers” (que, aliás, foi tema de uma coluna minha aqui no comecinho de 2023) lembrou a história de um menino que, após tentar sem sucesso pegar uma borboleta se balançando com uma rede, só entendeu como isso seria possível quando desistiu e ficou imóvel – e assistiu, assim, a borboleta parar em seu nariz.
Para Cyrus, a canção Flowers foi sua borboleta. Foi apenas quando parou de “se debater” e aguardou que os louros de seu trabalho chegassem naturalmente, que eles se concretizaram.
A reflexão de Miley Cyrus me chamou atenção. “Não é que até mesmo as pessoas mais bem sucedidas, ricas e famosas, também passam por aflições e inseguranças como as nossas?”, pensei. E logo conclui que havia nela também uma boa metáfora para o mundo dos investimentos.
Não afaste a borboleta do retorno dos seus investimentos
No mundo dos investimentos, a borboleta no nariz do menino com a rede e da música de Cyrus é o retorno consistente no longo prazo. Já o balançar da rede é a mania de muitos de constantemente mudar de estratégia nos investimentos, comprar e vender ativos, e “balançar tudo o que tem investido”, especialmente em momentos de maior instabilidade nos mercados.
Já contei aqui como a consistência nos investimentos faz toda a diferença no longo prazo, e como deixar o dinheiro investido por mais tempo é melhor do que tentar acertar o melhor momento do mercado – provando isso com dados!
Entendendo isso, e buscando seguir a tal consistência, você já está com meio caminho andado – ou, se mantendo na metáfora, criando um ambiente mais propício para que a borboleta se aproxime um pouquinho mais.
Agora, só falta a cereja do bolo: a diversificação. Em mais uma máxima do mundo financeiro, não colocar todos os seus ovos na mesma cesta é um dos principais segredos para colher os bons retornos plantados por meio da consistência nos investimentos. Quer ver?
Conforme ilustrado no gráfico abaixo, uma carteira de investimentos composta por diferentes investimentos e geografias, como ações brasileiras e gringas, e títulos de renda fixa emitidos dentro e fora do país, entrega os maiores retornos acumulados ao longo do tempo (no caso do exemplo abaixo, aproximadamente 8 anos).
Isso se compara a ganhos menores em carteiras que optaram por menores graus de diversificação – com a pior sendo composta apenas por investimentos atrelados ao CDI, como o famoso Tesouro Selic.
![O Grammy, a borboleta de Miley Cyrus, e a consistência e diversificação nos investimentos — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/OWouLwbH0YV51PW9JW5BuRWpBRI=/0x0:886x443/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2024/W/Q/wa8nUCQLWKQgcuQ8OalA/imagem1.png)
Mas isso também não significa que você deva investir em tudo o que vier pela frente, trocando de estratégia e composição de ativos da sua carteira a todo momento. Muito pelo contrário! A diversificação é também melhor amiga da consistência e da paciência.
No caso da nossa parábola, a diversificação deve andar lado a lado da “rede paradinha, que aguarda atenciosamente a borboleta”.
Voltando a um exemplo prático do mundo dos investimentos, a importância de não tentar adivinhar o “melhor momento do mercado” é ilustrada nesse dado: uma pessoa que opta por entrar e sair de investimentos sem avaliação detalhada ou a devida cautela, pode ter perdido os 10 melhores dias da bolsa nos últimos 20 anos por aqui – e, com eles, mais de R$ 50 mil em retornos.
Ou seja, a opção pelo “balançar ininterrupto e sem rumo da rede” em uma carteira de investimentos afastou dela a borboleta dos retornos consistente de longo prazo.
Por isso, além dos lookinhos e boa música, por que não tirar mais uma lição desse Grammy Awards repleto de mulheres talentosíssimas? Mire em sua borboleta, mas não foque apenas naquela que carrega consigo uma busca inalcançável. Faça seu trabalho consistente e confie: os frutos virão sem a necessidade de um eterno balançar sem rumo.
![Rachel de Sá — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-glamour.glbimg.com/7WdXgGgSAG_kyo7QCe3MownCkp0=/0x0:1024x683/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2022/B/q/9PrpdJREOhs51l8jModA/raquel-de-sa-1389-editar.jpg)