Empresas reciclam 'lixo', que viram insumo para outras indústrias e geram renda

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A companhia atende, principalmente, indústrias de bens de consumo que buscam solução para recolher resíduos pós-consumo e dar a eles destinação adequada. Indústrias de transformação interessadas em fazer dessas substâncias novas matérias-primas também são clientes.

A operação funciona com a instalação de coletores de embalagens em pontos de venda, para recolhimento de materiais (garrafas, por exemplo), e de contêineres em espaços públicos de municípios onde há parceria com a prefeitura.

Nesses casos, as estações podem receber vários tipos de recicláveis, que são pesados e geram recompensa financeira a quem fez a entrega. Depois, o material é prensado e enviado a usinas de beneficiamento.

Para rastrear os materiais coletados e garantir que eles seguiram o caminho certo até a reciclagem, a startup usa sistemas de georreferenciamento e gestão de notas fiscais, entre outras ferramentas digitais. A empresa tem, atualmente, mais de 30 clientes e seis contêineres em quatro estados.

— Nós nos especializamos em unir tecnologia e meio ambiente para dar eficiência à logística reversa — afirma o CEO e cofundador da Green Mining, Rodrigo Oliveira.

Novo estudo da consultoria S2F Partners, de soluções estratégicas em resíduos e meio ambiente, apontou que o país poderia economizar ao menos R$ 96 bilhões por ano com o alcance das metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), que preconizam o aumento da taxa de reciclagem para 48,1% até 2040 e o fim dos lixões.

Explorar o potencial de reciclagem no país é uma das saídas para melhorar o manejo de resíduos e eliminar gastos, diz Carlos Silva Filho, sócio da consultoria. Ele pondera, porém, que o caminho é complexo.

— Falta infraestrutura para coleta seletiva. Uma em quatro cidades brasileiras não tem qualquer iniciativa nesse sentido. Falta engajamento da população. Não existe cultura de separação do lixo em casa no Brasil. E não há incentivos tributários para que a indústria priorize o uso de reciclados no lugar de matérias-primas virgens — avalia o especialista.

Ele ressalta que países com grau de desenvolvimento similar ao do Brasil, como alguns da América Latina, África do Sul e Turquia, já têm índices de reciclagem perto de 16%, o que mostra quão atrasados estamos.

Mesmo sem incentivo fiscal para reaproveitamento de resíduos, a Upcycling Solutions enxergou uma oportunidade nesse mercado. Fundada há dois anos, ela desenha projetos para ajudar indústrias de alimentos a transformar resíduos em novos ingredientes ou produtos.

— Talos, cascas, bagaços, caroços e folhas são resíduos com fibras, proteínas, óleos e compostos bioativos valiosos. Muitas indústrias jogam dinheiro fora ao descartá-los — explica Natasha Monteiro de Pádua, cofundadora da Upcycling Solutions.

O upcycling é um reaproveitamento criativo do que parecia sem utilidade. Dos resíduos de malte e cevada que sobram da produção de cerveja, é possível fazer suplementos de proteína e farinha para pão. Folhas de oliveira podem ser transformadas em tempero, e os caroços de açaí, em uma bebida muito similar ao café.

A Exchange 4 Change Brasil, organização especializada em impulsionar a economia circular no Brasil, conecta diferentes elos da cadeia produtiva. Em 2020, a consultoria criou o Hub de Economia Circular Brasil, que visa a estimular trocas entre setores e a cocriação de projetos.

Além de empresas — como Hyundai, Gerdau e Electrolux —, bancos de fomento e centros de pesquisa participam da rede, diz a fundadora da Exchange 4 Change Brasil, Beatriz Luz.

— A reciclagem é só uma parte da economia circular. É preciso mudar a mentalidade e enxergar a economia circular como algo desejável, um investimento em matérias-primas de alto valor agregado e pegada de carbono reduzida. É um olhar de oportunidade no mercado, não de gastos e entraves — afirma.

Para Beatriz, o projeto de lei que cria a Política Nacional de Economia Circular, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, será fundamental para o avanço desse novo modelo de produção:

— Enquanto não houver visão comum no Estado sobre o tema, bancos não conseguirão criar programas de financiamento para alavancar as cadeias circulares.

Nos 16 ecoparques da Orizon Valorização de Resíduos, distribuídos em 11 estados, chegam aproximadamente 8,4 milhões de toneladas de lixo por ano. A empresa dá destinação adequada aos resíduos, mas extrai o máximo de valor deles antes de aterrar os rejeitos — ou seja, o que sobra após as possibilidades de reciclagem se esgotarem.

Considerados a evolução dos aterros sanitários, os ecoparques reúnem usinas onde são produzidos biogás — usado na geração de energia — e fertilizantes orgânicos. Para o CEO da Orizon Valorização de Resíduos, Milton Pilão, é preciso estímulo à circularidade.

— Gastam-se milhões de reais com uma planta de triagem para, no fim, a matéria-prima reciclada competir com a fóssil, sem incentivo. Por isso, estamos na expectativa de um pacote de estímulo à economia circular.