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Por Marisa Adán Gil


Thiago Charnet, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco — Foto: Divulgação/Arte: Clayton Rodrigues
Thiago Charnet, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco — Foto: Divulgação/Arte: Clayton Rodrigues
Especial Inovação em Grandes Empresas — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini
Especial Inovação em Grandes Empresas — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini

"O Itaú é uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil", diz Thiago Charnet, diretor da área de Tecnologia do Itaú Unibanco. "Se pensarmos em termos de quantidade de recursos, volume de processamento, número de funcionários envolvidos, contratos e valores negociados, essa será a conclusão", disse o executivo em entrevista a Época NEGÓCIOS.

Com um total de R$ 2,46 trilhões em ativos e R$ 30,9 bilhões de lucro em 2022, hoje o Itaú Unibanco é considerado o maior banco privado do país e a marca mais valiosa da América Latina - no ranking Brand Finance Latin America 100, elaborado pela consultoria Brand Finance, seu valor de mercado é de US$ 8,7 bilhões (aproximadamente R$ 42,8 bilhões).

Para se consolidar também como uma das maiores marcas em inovação tecnológica, o Itaú desenvolveu nos últimos anos uma metodologia particular, que combina uma área interna dedicada a emerging technologies, um dos maiores hubs de inovação da América Latina (o Cubo Itaú, em São Paulo), e a proposta de tornar todos os funcionários resonsáveisresponsáveis pela criação de soluções inovadoras, tanto para o banco, quando para os clientes.

"Para mim não faz sentido ter um diretor de inovação tentando convencer outras áreas a adotar as suas ideias. Hoje, eu zelo pela inovação como um todo, mas a responsabilidade é de todos", diz Charnet, que também é responsável pela transformação digital da empresa.

Serviços de Beyond Banking (voltados para o mercado B2B), IA generativa (a empresa trabalha no seu próprio modelo) e computação quântica (com resultados concretos) são algumas de suas prioridades do diretor de Tecnologia neste momento. De acordo com a consultoria global McKinsey, o setor financeiro deve ser um dos mais beneficiados pela capacidade exponencial das máquinas quânticas, “apesar de as possibilidades de utilização no curto prazo serem especulativas”.

Depois de uma parceria (produtiva, segundo Charnet) com a QC Ware, o Itaú agora ensaia novos passos ao lado da IBM Quantum Network, uma rede de empresas, universidades, instituições governamentais, incubadoras e hubs de inovação que têm como objetivo estimular o uso da tecnologia. "Com o uso de elementos quânticos, já conseguimos aprimorar as indicações de investimentos aos clientes", diz o executivo.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

No Itaú Unibanco, não existe um diretor de inovação. Por que isso acontece?

Nós acreditamos que a inovação tem que acontecer em todas as áreas, e que os departamentos de tecnologia e negócios precisam andar juntos. Até para a gente garantir que não tem uma área pensando em algo desacoplado da nave-mãe, do core da empresa. Imagine a situação: você trabalha no setor de inovação, tem uma boa ideia para a área de negócios e daí tem que ir lá convencer o pessoal daquela área a implantar a sua solução. Acreditamos que essa não é a maneira mais eficiente de trabalhar. Então, da maneira como eu vejo, todo mundo é responsável pela inovação. É óbvio que sou eu que estou zelando pela inovação como um todo, mas a responsabilidade é de todos. Isso faz parte do nosso método de trabalho, e nos propicia criar coisas de maneira mais rápida, e sempre resolvendo uma dor de um cliente. É assim que a gente prioriza as nossas ações.

Para nós, a inovação que dois componentes principais. O primeiro é um time pequeno de tecnologias emergentes: uma vez que essas tecnologias aparecem, essa equipe começa a experimentá-las junto com alguma área do banco, para trazer algo útil para o nosso cliente. Coisas como blockchain, tokenização, quantum computing, inteligência artificial generativa, 5G, tudo isso é explorado dentro do banco. E daí temos o Cubo Itaú, e a inovação que vem de lá a gente usa com o mercado, expande para todo o ambiente empreendedor. Então a gente soma as duas coisas, mais a metodologia do banco, e a inovação acaba acontecendo.

De 1 a 10, que nota daria para a transformação digital do banco hoje? Em que fase estão?

Minha resposta talvez seja um pouco frustrante. Porque a transformação digital é uma jornada sem fim. Então a gente não pode falar que a está no começo, no meio ou perto do final. A gente vai estar sempre se transformando. É muito claro para a organização que a capacidade de mudar é um diferencial competitivo. Então a gente avançou muito, a gente está supersatisfeito, mas a gente olha para frente, sabe que tem muito a fazer ainda.

A maioria das inovações que acontecem no banco vêm de fontes externas?

As ideias têm que partir do cliente - a equipe até pode ter uma ideia, mas isso é tratado como hipótese, e tem que ser validado com os clientes. Já a execução dessas inovações pode ser feita tanto com recursos internos quanto por compras ou parcerias com startups. E, para acompanhar tudo isso, a gente expandiu o a oferta de tecnologia dentro do banco, com 17 mil profissionais atuando na área. Temos praticado essa metodologia nos últimos dois ou três anos. Eu diria que não estamos perfeitos ainda.

Qual foi a maior inovação que o Cubo já trouxe para o Itaú?

Houve muitas, mas uma recente foi a startup Zup Innovation, passou pelo Cubo e virou nossa fornecedora, até decidirmos comprá-la em 2019. E essa aquisição foi importante para nós, tanto em termos de capacidade tecnológica quanto para a reforçar os pilares daada nossa transformação digital. Até porque a Zup é nativa nesse ambiente. Em 2023, lançamos junto com eles o StackSpot, uma plataforma que ajuda a tornar mais rápido e eficaz o ciclo de desenvolvimento de um software. Depois que já usávamos a ferramenta no Itaú havia algum tempo, decidimos vendê-la para o mercado. Então isso fala com o futuro do Itaú, fala com o futuro da nossa área de tecnologia e a gente entendeu que isso poderia ser aberto para o mercado. Tem empresas brasileiras que começaram a utilizar, e estamos de olho no mercado americano também. Isso é novo pra gente.

A área de Beyond Banking do Itaú, voltada para o mercado B2B, tende a crescer?

Em todos os produtos dessa área, a gente enxerga a possibilidade de resolver dores, seja do cliente pessoa física, seja do cliente pessoa jurídica. Agora estamos investindo também na área de Itaú as a Service: estamos estruturando APIs e oferecendo para alguns clientes, está bem no começo. Então tudo isso faz parte da nossa agenda de diversificação. Mas foi a associação com a Zup que nos deu a confiança de explorar mais essa frente, até porque eles já vendiam no mercado, já tinham essa experiência.

Como o Itaú tem acompanhado a evolução da IA e a explosão da IA generativa?

Bom, a gente mexe com inteligência artificial faz bastante tempo. Mas, quando surgiu o machine learning, na década de 90, com mais avanços no início dos anos 2000, o termo inteligência artificial foi caindo em desuso. Então aprendizado de máquina é algo muito forte aqui dentro, até pela quantidade de cientistas de dados que a gente tem, mais de 300. Agora, com a popularização da inteligência artificial generativa, o termo IA voltou para moda. Mas mesmo antes de sair o ChatGPT nós já estávamos brincando com modelos de linguagem, só que de uma maneira mais modesta, em um ambiente experimental mesmo. O que aconteceu em novembro do ano passado foi que a OpenAI teve a capacidade de mostrar para o mundo o que era possível fazer com aquela tecnologia. Em 2023 nós mergulhamos nos Large Language Models, montamos uma governança específica para isso. Criamos um centro de excelência em IA e estamos plugados na Microsoft, na Open, na Amazon e no Google. Estamos falando com todos eles, e também montando nosso próprio modelo. Já temos casos rodando, mas decidimos ficar quietinhos sobre isso. Faz parte da nossa cultura, a gente só mostra as coisas que já estão dando resultado.

O banco está fazendo experiências com computação quântica, certo?

Sim. Eu vejo o quantum como uma outra língua emergente. É uma tecnologia que não está disponível ainda, mas que a gente já está estudando há algum tempo, desde antes da pandemia. Queremos entender como é que a gente modela, quais são os casos que podem ter mais valor. Não vou ficar esperando o primeiro computador quântico ficar pronto, estamos aprendendo a mexer na tecnologia já. Em parceria com a QC Ware, a gente conseguiu aumentar a retenção de clientes em 2% utilizando conceitos quânticos. Também conseguimos aprimorar as indicações de investimentos a partir de computação quântica, que consegue olhar para infinitas possibilidades ao mesmo tempo.

O Itaú também está participando do processo de criação do Drex, o real digital, em conjunto com o Banco Central. Como o projeto está avançando neste momento?

Nós estamos ajudando a colocar essa infraestrutura em pé. Estamos ainda na fase ainda de testar os mecanismos, de fazer as transações. E daí a gente precisa ver como é que a gente traduz isso em casos de uso para os clientes. Pode passar por questões de financiamento, questões de vendas de bens... Veja bem, outros bancos internacionais criaram os CBDCs deles para resolver um problema que o PIX já resolveu, transferir dinheiro rápido. Então, esse não é um caso de uso forte para o Drex.

Acha que o público vai receber o Drex tão bem quanto recebeu o Pix?

Olha, o Pix era fácil de explicar. Tinha uma dor ali. Era difícil movimentar o dinheiro: tinha o custo, a demora, o fato de só cair no dia seguinte, dependendo do horário. A experiência não era boa. Então o Pix resolveu tudo isso. No caso do Drex, não está na hora ainda de explicar para o público do que se trata, embora o Banco Central tenha sido habilidoso nessas explicações. De qualquer maneira, acho que o Drex será usado primeiro no B2B.

Acredita que a moeda digital oficial será mais um passo para o dinheiro físico e as agências bancárias desaparecerem um dia?

Não sei se algum dia eles vão desaparecer. Eu acho que é uma questão cultural daí. No Brasil, se for no eixo Rio-São Paulo, pode até ter diminuído o uso de dinheiro, mas olha para o resto do Brasil. Até mesmo no interior de São Paulo o uso continua. Quanto às agências, reduzimos um pouco o número, mas a gente temos um universo enorme delas. O brasileiro gosta de uma agência. Tem brasileiro que se sente mais seguro, gosta de falar face a face com o gerente, quer pegar na célula, quer depositar o dinheiro. Então a gente está atendendo. Não sei se algum dia vai ser só remoto. Quem vai ditar esse ritmo é a própria população.

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