Apoio emergencial em educação no contexto da crise climática
Porto Alegre - Nos dias de chuva as atividades físicas são suspensas na Escola Municipal Ana Íris do Amaral (Valter Campanato/Agência Brasil)

Apoio emergencial em educação no contexto da crise climática

Por Anna Carolina Bruschetta * e Rodolfo Garuba de M. Mota **

Enchentes sem precedentes no Rio Grande do Sul (RS), incêndios no Pantanal – a cada semana nos deparamos com notícias relacionadas aos impactos da crise climática afetando ecossistemas, economias e milhares de pessoas em diferentes regiões do Brasil. Dados do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas apontam que 93% dos municípios brasileiros foram atingidos por algum tipo de desastre nos últimos 10 anos, deixando um rastro significativo também na vida de crianças, adolescentes e jovens. 

Estudos mostram que a exposição a desastres pode levar a uma variedade de problemas, desde transtornos de estresse pós-traumático até dificuldades acadêmicas e problemas de saúde física demandando ações emergenciais ou de médio e longo prazo para retomada de suas trajetórias esperadas de aprendizagem e desenvolvimento. 

Se por um lado o Investimento Social Privado (ISP) em Educação, segundo dados do Censo GIFE 22-23, segue como prioritário (71%), por outro, dados da mesma publicação apontam que o foco de apoio emergencial não havia sido indicado como prioridade por nenhuma organização. Chegou a hora de institutos e fundações repensarem este cenário, especialmente conectando apoio emergencial com programas e investimentos em educação e com a pauta climática 

Caminhos não faltam, há uma crescente literatura apontando principais impactos e possíveis focos de intervenções considerando abaixo apenas alguns exemplos:     

O Papel das escolas na resposta a desastres

As escolas desempenham um papel crítico na resposta aos desastres, funcionando como espaços seguros e estáveis para crianças e jovens. Mutch e Gawith (2014) destacam como as escolas na Nova Zelândia ajudaram as crianças a processar emocionalmente suas experiências após terremotos. Horton et al. (2023) enfatizam a necessidade de preparar as escolas para desastres, garantindo que gestores, docentes e toda comunidade escolar saiba como apoiar estudantes  durante e após esses eventos. 

Programas de educação para desastres 

Integração de programas de educação para desastres nos currículos escolares pode preparar melhor os estudantes para enfrentar e responder a eventos climáticos extremos. Esses programas devem incluir treinamento em primeiros socorros, simulações de desastres e aulas sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. Isso não apenas aumenta a resiliência dos estudantes, mas também os capacita a agir de forma proativa em suas comunidades. Experiências como as do Cemanden Educação podem ser utilizadas como referência.  

Vale também destacar impactos e ações relacionadas a recuperação da saúde física e mental de estudantes e de toda comunidade escolar, inclusão da educação climática no currículo de forma transversal, desenvolvimento de políticas públicas e programas que apoiem a identificação e prevenção de desastres considerando fatores demográficos, riscos e vulnerabilidades específicas de cada território.  

O Papel das comunidades e das organizações

A crise climática exige uma resposta global coordenada, comunidades e organizações têm um papel crucial na promoção da conscientização para a ação climática. Especialmente na educação, parcerias entre escolas, ISP, empresas e governos podem criar programas e ações que contribuam para mitigar os impactos nas crianças, adolescentes e jovens preparando-os para lidar com as complexidades de um mundo em mudança e para a construção de um futuro sustentável e resiliente.

No Instituto Votorantim , desenvolvemos a Iniciativa Ação Climática, em parceria com a CBA e o Instituto Itaúsa e tem como objetivo incentivar a gestão pública municipal a adotar boas práticas de enfrentamento à crise climática no âmbito da gestão do risco do desastre, adaptação e resiliência climática. Além disso, incluímos a pauta do desenvolvimento de competências de gestão educacional, escolar e de mobilização social realizada pelo Programa Parceria Valorização da Educação (PVE) para a promoção da equidade no contexto da crise climática. 

* Anna Carolina Bruschetta , gestora de Educação no Instituto Votorantim com 14 anos de experiência na gestão de projetos sociais e agenda ESG na América Latina. Fellowship 2024 em Diversidade, Equidade e Inclusão pela League of Intrapreneurs, formada em gestão executiva de projetos pela Ohio University e em Inovação e Governança para Gestão Pública para Lideranças do Brasil e América Latina pelo Banco CAF/FGV. 

** Rodolfo Garuba de M. Mota , Engenheiro Florestal formado pela UNESP- Botucatu e Mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Oklahoma State University. Trabalhou mais de 10 anos no setor florestal nas áreas operacionais e de sustentabilidade. Atualmente tem como foco os temas soluções baseadas na natureza e mudanças climáticas. Desde 2022 coordena a área de apoio a gestão pública municipal e projetos ambientais do Instituto Votorantim

Regiane Polizer M Soccol

Developing and delivering value, creating powerful collaborations, improving systems, and impacting communities.

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Bruna Lessa Bastos

Co-Founder & Development Director at Instituto E.V.A. | Advisor CBKK | Sustainability | Social Impact | Education

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Excelente e oportuna reflexão. Sem dúvida a Educação e as comunidades escolares têm um papel importante a desempenhar na adaptação e resiliência de comunidades vulneráveis à crise climática. Essencial que a Filantropia se volte para este tema. Nós do Instituto EVA temos trabalhado desde 2020 para trazer a Eduacação Socioambiental e para mudanças climáticas para a educação formal brasileira. Seria ótimo somar forças.

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