Caridade e filantropia
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Caridade e filantropia

Por Alexandre Nobre e Tania Haddad Nobre *

É impossível ignorar a generosidade dos EUA, refletida nas doações caridosas e na filantropia profissional. Não só pelas grandes fortunas – para qualquer interesse público, nos EUA, há algum centro de pesquisa ou banco de praça em homenagem a alguém ou instituição que você nunca ouviu falar pelo apoio a tal tema.  No Brasil, estamos avançando.

No World Giving Index (“WGI”) os EUA ocupam o 5º lugar dentre os 142 países mais caridosos em 2022 (1º em 2018). A caridade tem um valor indiscutível. Em paralelo, a filantropia é multiplicadora, através de objetivos, gestão, mensuração de impacto e influência nas políticas públicas. Em 2022, nos EUA, dos $500 bilhões (2,0% do PIB) em doações, $365 bilhões (1,5%) foram feitos por indivíduos e heranças direcionadas (com viés caridoso), e $135 bilhões (0,5%) por fundações e corporações (filantropia), estando de longe na liderança global.

É fácil argumentar que estamos atrás. Ocupamos a 89ª posição no WGI, com um índice 5% abaixo da média global. O IDIS estima doações individuais em $2,4 bilhões (0,13% do PIB, 2022), enquanto as contribuições institucionais devem totalizar $1,1 bilhão (0,06% do PIB, 2023E). O valor médio por instituição nos EUA é de $1 milhão, já aqui é de $12 milhões, sugerindo a concentração cultural e econômica aqui. Mas preferimos ver o filme e não a foto. Historicamente, os grupos empresariais dominavam a ação filantrópica (77% em 2008), mas a participação de instituições familiares e independentes saltou de 23% (2008) para quase 40% (2022), sendo muitas vezes a primeira geração com essa visão. O investimento filantrópico aqui tem crescido a uma taxa real de 5,3% a.a. (2016-2023). Além disso, a profissionalização é evidente nos últimos anos.  Nosso desafio é expandir a mentalidade de uma estratégia de filantropia de longo prazo.

Nesse contexto, lançamos a TAN Salus, com a missão de contribuir para o ecossistema da saúde. Temos sorte de já ter na família um exemplo social na educação e cultura. Queremos cultivar, ainda que modestamente, a visão filantrópica em nosso núcleo familiar, complementando a educação. Se não pela correlação entre qualidade e acesso à saúde e o desempenho acadêmico, ao menos pelo desafio orçamentário iminente na saúde, que competirá com mais intensidade nas contas públicas. 

No último Censo GIFE, a saúde figura em 9º lugar entre 17 temas de apoio, apesar de ocupar o 3º em valor de contribuição (novamente, concentração).  O país foi generoso na pandemia, mas é necessário fomentar os projetos filantrópicos estratégicos na área da saúde.  Institutos como o IEPS, líder em estudos para políticas de saúde, enriquecem o debate e engajam a sociedade. Queremos ver mais empreendedores-sociais na saúde, como os do ImpulsoGov – jovens com sonho grande, investindo suas carreiras em prol da saúde pública.  Caridade conforta, a filantropia muda a sociedade.

*Alexandre Nobre e Tania Haddad Nobre são fundadores e mantenedores da iniciativa TAN Salus.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do GIFE e de seus associados.

Natã Coutinho

Assistente Social | Pesquisador | Assistência Social | Mundo do Trabalho | População LGBTI+ | Mestrando UERJ | Consultor

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