Ajuda Humanitária e Filantropia Estratégica
Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Ajuda Humanitária e Filantropia Estratégica

Por Mônica de Roure*

Começou-se a discutir no setor social no Brasil e com cada vez com mais ênfase, a importância da Filantropia Estratégica para que alcancemos, de fato, impactos sociais sistêmicos que desafiem as desigualdades históricas e estruturais no cenário nacional e global.

Os princípios da Filantropia Estratégica são, em geral, investimentos de longo prazo, com aportes flexíveis que permitem uma maior geração de capacidade institucional das organizações da sociedade civil, relações horizontais de confiança entre as pessoas que investem e as lideranças sociais, além de uma real geração de efetividade e impacto na infraestrutura da sociedade.

Mas, que papel têm estes princípios quando o mundo enfrenta catástrofes sem proporções devido às emergências climáticas? Desafios impostos à justiça climática têm consequências drásticas para todas as populações, independentemente de poder econômico, de raça ou gênero.

Vimos isso na pandemia de Covid-19 e, agora, vemos o que acontece no Rio Grande do Sul. Infelizmente, para enfrentar os resultados das tragédias climáticas é necessário pensar estrategicamente e a longo prazo. Este é o ponto de convergência entre Ajuda Humanitária e Filantropia Estratégica.

Até hoje, vivemos as consequências dos efeitos da pandemia nas vidas dos grupos socialmente mais vulneráveis. Precisamos pensar e concentrar a atenção e o coração das pessoas por mais tempo do que a pronta resposta gerada pela comoção que as tragédias provocam.

Precisamos manter nossa empatia por mais tempo. Pensar nas organizações do setor cidadão de base, que se preocupam em atender as populações mais vulnerabilizadas pela tragédia. Ter em mente que os nossos esforços devem ser geograficamente referenciados de forma a capilarizar doações por um conjunto abrangente das pessoas atingidas. Apoiar a reconstrução do setor social no RS em sua integridade porque é ele que atende às necessidades mais prementes provocadas pelas desigualdades. 

Nosso papel como sociedade civil é, justamente, compreender que são as OSCs de base comunitária que guiarão a retomada do RS de forma mais equânime. É necessário ter empatia, confiar, apoiar, capacitar e investir não mais na lógica do imediatismo dos projetos de curto prazo. Precisamos dar um salto de confiança, apoio financeiro e formação.

As emergências climáticas nos ensinam uma importante lição, precisamos nos unir de forma estratégica e colaborativa para promover retomadas consistentes e inclusivas da vida, de uma vida digna, democrática e próspera. Esse é o nosso papel.

*Mônica de Roure é Vice-Presidente e Diretora de Relações Institucionais da BrazilFoundation desde 2014, atuando no desenvolvimento de parcerias estratégicas e captação de recursos e na gestão da Fundação no Brasil. Com mais de 20 anos de experiência no setor social, Mônica foi Diretora do Programa Brasil e de Operações Internacionais para América Latina e África da Ashoka Empreendedores Sociais. Traz em seu currículo um doutorado em literatura comparada da UERJ e o mestrado em História Social da Cultura pela PUC-RJ.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do GIFE e de seus associados.

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