Negócios
Por

A arte de transformar algo sem valor em um novo produto não é uma tecnologia recente. Comunidades ao redor do mundo, há séculos, vêm transformando roupas velhas em novas peças, com um pensamento natural de aproveitamento máximo e bom senso. Atualmente o termo upcycling vem ganhando espaço como uma solução para a economia circular e nomeando esta técnica ancestral, e assim trazendo possibilidades para a moda mais sustentável, como, por exemplo, marcas que trabalham apenas com a criação de roupas a partir de outras peças que foram descartadas pela indústria. Porém, perante aos grandes impactos negativos da moda, o upcycling pode ir além e contribuir de forma mais robusta.

O desperdício têxtil é uma consequência direta do nosso sistema econômico linear. De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, em todo o mundo, a grande maioria dos têxteis (mais de 80%) vaza do sistema quando é descartada: é incinerada, depositada em aterros sanitários ou acaba no meio ambiente. Os sistemas separados e dedicados de coleta de têxteis são pouco desenvolvidos e não atendem à demanda. Só na cidade de São Paulo, é estimado que mais de 40 toneladas de resíduos têxteis sejam descartadas incorretamente todos os dias.

Agustina vestindo Comas — Foto: Victor Affaro/ Divulgação
Agustina vestindo Comas — Foto: Victor Affaro/ Divulgação

Agustina Comas é uma das estilistas-referência quando se fala em upcycling. A designer uruguaia somou sua vasta experiência profissional (que inclui nomes como Jum Nakao e Daslu), a criatividade e a vontade de mudar o mundo, para criar a marca autoral Comas, que hoje também traz soluções para o upcycling em larga escala.

"Como estilista, eu tinha acesso a grandes fábricas e ficava impressionada com os estoques parados e a quantidade de sobras de tecidos. Fiquei muito incomodada em como as roupas eram feitas, todo esse volume, processos, poluição. Então, em 2008, decidi criar minha primeira marca de upcycling que usava roupas para criar roupas. Eu fazia a ressurreição, comprava lotes de roupas com defeitos e criava novas peças", conta Agustina sobre o início de sua trajetória.

Enquanto o movimento de sustentabilidade crescia na Europa, no Brasil o assunto era recente, e a estilista conta que se sentia sozinha nesse processo. Ela se aprofundou em cursos de empreendedorismo e decidiu seguir trabalhando a partir da transformação de camisas. A Comas, sua marca, cresceu e trouxe o upcycling para um lugar interessante no mercado, fez desfiles, eventos e participações, mas ainda tinha questões limitantes e precisava ter saída mercadológica.

"Mesmo com tantos avanços durante mais de uma década de trajetória no upcycling, eu percebi que o mundo seguia produzindo mais e mais, e eu vendo tantas sobras, pensei em como poderia atuar de forma mais potente e aplicar tudo que venho estudando há tantos anos. Tinha vontade de usar minha energia de forma mais direcionada, e alcançar resultados mais robustos e efetivos", conta Agustina, que alçou voo em uma nova transição, porém, desta vez, criando metodologias de implementação da ferramenta para que o upcycling produzisse a escala necessária para conduzir os problemas atuais do mercado de moda.

Desfile da Comas no Brasil Eco Fashion Week (2017) — Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Desfile da Comas no Brasil Eco Fashion Week (2017) — Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Nessa transição, a Comas passou a atuar no ambiente industrial a partir de uma parceria com a Confecções T.Christina – uma confecção de São Paulo, especializada em moda fitness, que atende marcas varejistas, e a trazer soluções para as sobras de sua grande produção. "Grande desafio, pois a própria natureza do upcycling é ir contra a escala, mas a importância e a necessidade é justamente essa, pois a sobra é em grande escala. Escalar o upcycling de uma forma industrial é uma lógica totalmente diferente e pode gerar postos de trabalho, e inclusive outras possibilidades econômicas a partir do reaproveitamento de materiais ", conta.

Separação de resíduos para criação de novo tecido — Foto: Arquivo da marca/ Divulgação
Separação de resíduos para criação de novo tecido — Foto: Arquivo da marca/ Divulgação

Desta forma, a parceria em busca de escala surgiu com a criação de novos materiais feitos com os resíduos da própria confecção, ou seja, fazer da própria sobra uma nova matéria-prima que seja viável de ser usada internamente. Esse processo já firmou parcerias com marcas como C&A, YD, Renner, entre outras.

"O atual modelo produtivo é muito cruel para todos, pois com a chegada do ultra fast fashion, a produção global está cada vez mais acelerada e descartável, dificultando a existência das próprias marcas nacionais. Confecções já possuem estruturas e capital humano, já têm setor de corte e costura, momentos de produção ociosa, então existem formas de usar esse capital para processar materiais que já existem. Não é sobre esperar novas tecnologias mágicas, e sim investir, continuamente, no que já temos."

Parceria com Rani: peças feitas a partir de ORICLA ELÁSTICO, tecido criado com retalhos da própria Confecção T.Christina — Foto: Divulgação/Jorge Escudeiro
Parceria com Rani: peças feitas a partir de ORICLA ELÁSTICO, tecido criado com retalhos da própria Confecção T.Christina — Foto: Divulgação/Jorge Escudeiro

Uma abordagem ampla de economia circular é a única solução capaz de abranger a escala global do problema de resíduos têxteis. A Fundação Ellen MacArthur Foundation, que acaba de lançar o relatório "Transcendendo os Limites da Política de REP para Têxteis", mostra como políticas de Responsabilidade Estendida do Produtor (REP) são necessárias para enfrentar a poluição por materiais têxteis e ressalta a importância da atuação do setor público. O material também aponta a relevância de ações coletivas, iniciativas do próprio setor privado e inclusive um olhar para o design circular.

A Economia Circular, assim como o upcycling, traz ferramentas que conectam a nossa sociedade a uma sabedoria natural da humanidade, por isso podemos dizer que é uma tecnologia ancestral. É um olhar integral que considera as pessoas e a natureza como partes do mesmo ecossistema. Logo, o que é bom para um precisa ser bom para o outro também, criando sistemas de prosperidade mútua.

"A nossa vontade é também gerar renda, trazer prosperidade para mais pessoas, promover condições de vida melhores para mais mulheres, mesmo com todos os desafios. Precisamos ir além da crítica. Eu tenho o sonho de ver processos consolidados que gerem meios de vida saudáveis, que aconteçam de forma positiva para todos da cadeia da moda, assim como para a natureza", conclui Agustina.

Conheça mais sobre a Comas.
Conheça o
relatório Transcendendo os Limites da Política de REP para Têxteis, da Fundação Ellen Macarthur:

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.

Mais recente Próxima Mulheres negras: a soma da representatividade na economia
Mais do Vogue

Mensagem do chef de cozinha e apresentador chega um dia após a perícia apontar que Ana teve assinaturas falsificadas em contratos oficiais firmados com três instituições financeiras

Após perícia apontar que Ana Hickmann teve assinaturas falsificadas, Edu Guedes diz: "Gatinho queria se passar por leoa"

"Estilo total", escreveu uma seguidora, que aprovou o visual do cantor

Junior Lima surge com as unhas pintadas de preto e ganha elogios dos internautas

A eterna Garota de Ipanema faz aniversário neste domingo (07.07)

Helô Pinheiro celebra 81 anos de vida com clique à beira da piscina: "Gratidão e emoção"

Marcas como Dolce & Gabbana, Gucci e Louis Vuitton apostaram na fusão de suas características luxuosas com estes doces

Dia Mundial do Chocolate: Confira grifes de moda de luxo que investiram no mercado do chocolate

"Contigo, sempre", escreveu a estudante de medicina

Tainá Castro sai em defesa de Militão após eliminação do Brasil na Copa América

Você já ouviu falar no produto que trata a acidez dos cabelos? A médica especializada em tricologia Ana Carina Junqueira explica as principais dúvidas sobre o produto

Acidificante capilar: o que é, para que serve e como usar

Modelo segue sendo queridinho das celebridades e fashionistas e, nos dias mais frios, se torna peça destaque em qualquer look

Bota western: saiba como usar modelo e se inspire para o inverno

Neste Dia do Chocolate, confira a receita ideal para os dias frios do inverno

Receita de chocolate quente com whisky ou rum: veja como fazer

Em entrevista à Vogue Brasil, o ator falou de sua experiência inédita com musicais, em como a montagem se relaciona com o brasileiro e convida o público a ir assistir à peça com o "olhar aberto"

Reynaldo Gianecchini: "Me acho um bom representante para estar no palco falando da comunidade LGBTQIAPN+