Se num passado pouco distante as tendências de moda chegavam pelos correios, hoje, é mais provável que, para encontrar a próxima tendência, a gente use uma rede social ou uma inteligência artificial, ferramentas que encurtaram o caminho entre uma ideia e seu uso em massa.
Com menos tempo para assimilação, essas ferramentas também reduziram o tempo de vida daquilo que não é nem mais possível chamar de tendência, mas de viral. Se as tendências conseguiam permanecer por uma estação inteira, um viral pode durar menos que uma gripe.
Viralizar é o desejo de muitos e interpretado como o novo caminho para o reconhecimento. Viralizar na internet pode nos colocar sob efeito da dopamina, criando um ciclo de recompensa que pede que cada novo post seja melhor do que o anterior. E, sob efeito desse desejo viralizante, aprendemos a caminhar pelas ruas digitais sem nenhuma recomendação de segurança, sem regulação própria e perdendo de vista a responsabilidade intrínseca em todos nós, lançando mão até de proteger a própria reputação.
Não é preciso deletar suas redes sociais para se curar deste efeito. Elas são ferramentas de transformação e acesso, mas precisamos aprender a usar. Por exemplo, quem são as pessoas que você segue? Quem vem te influenciando? Quem tem aparecido no seu feed? Ele tem te feito bem? Tem moldado seu comportamento de uma maneira que pode te prejudicar ou prejudicar outras pessoas? E o que você posta? Pode estar prejudicando alguém? Ou mesmo você?
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Por outro lado, só autocuidado não é suficiente para que possamos sair do vortex da desinformação que segue moldando e influenciando nossa sociedade. A falta de clareza sobre o efeito viral dos algoritmos nos coloca como no estágio inicial de uma pandemia digital, sem tratamento, sem vacina, sem respostas para o que é verdade ou mentira. Por isso, cobrar por ambientes digitais seguros, especialmente para nossa saúde mental, daqueles que podem endereçar mudanças estruturais será ainda mais necessário, para garantir que as decisões tomadas reflitam os interesses e valores da sociedade.