Viagem

Por Darrell Hartman

As montanhas cor de biscoito do Fiorde Ammassalik, no sudeste da Groenlândia, estavam manchadas de neve e envoltas em neblina. A chuva caía e as águas turquesas estavam salpicadas de icebergs com formatos fantásticos: um parecia um dente de tubarão, outro parecia uma pista de skate, e outro, um acordeão, lindamente pregueado. A parte inferior desses enormes pedaços de geleiras distantes eram do tom de azul mais profundo e delicioso.

Seria ir longe demais dizer que eu já havia sentido polarhullar – uma maravilhosa palavra dinamarquesa que significa “anseio pelas regiões polares”. Sinto falta de respirar o ar frio, dos espaços vazios e do clima mal-humorado do norte remoto. Mas também valorizo banhos quentes, wi-fi e um negroni bem preparado. Explorar a Groenlândia a bordo do espaçoso Seabourn Venture se adequou perfeitamente às minhas preferências.

Eu tinha outra razão para fazer um tour costeiro pela maior ilha do mundo. Passei os últimos quatro anos pesquisando e escrevendo um livro, Battle of Ink and Ice (ainda sem tradução no Brasil), que é em parte sobre exploradores polares da virada do século 20. Sou fascinado por entender o que os compelia a buscar ambientes tão hostis e desconhecidos. Riqueza e fama eram algumas das motivações, como aprendi a partir dos relatos, mas o Ártico em si exercia uma certa atração mágica – que viajantes de luxo do século 21 começaram a descobrir. Esta navegação nos deu acesso não apenas a essas terras épicas e implacáveis, mas também às comunidades e culturas que as moldaram.

A Seabourn investiu US$ 200 milhões em sua primeira embarcação com o propósito de expedição, onde as amenidades a bordo incluem um armário aquecido para secar roupas em todas as suítes. Eu joguei minha camiseta de baixo, chapéu e luvas no meu depois de nosso molhado tour pelo iceberg Zodiac do Fiorde Ammassalik antes de visitar a sauna, que tinha vista para a neblina e as montanhas. Era o terceiro dia de 14, e a inauguração de uma agradável rotina: um gostinho dos elementos quase árticos, seguidos pelo tipo de mimos com que aqueles exploradores do século 19 – e mesmo os habitantes de hoje da Groenlândia, devemos reconhecer – nunca sonharam.

Em nossos primeiros dias, navegamos para o oeste pelo Estreito Christian, passando por altíssimas cachoeiras, até a vila Aappilattoq, com a população de cem habitantes e um amontoado de casas vermelhas, amarelas e azuis. Vimos baleias e observamos fiordes. Mas apenas ao chegarmos na cidade de Qaqortoq, com 3.000 habitantes, que começamos a aprender como a vida é vivida na Groenlândia. No Great Greenland Furhouse, o único curtume de pele de focas do país, vi algumas das calças, casacos e kamiks (botas) de pele que os exploradores ocidentais do século 19 reconheceram tardiamente ser superiores aos seus próprios calçados de couro e roupas de lã apertadas. Esse tipo de vestimenta de inverno tradicional dos inuítes ainda é feita aqui, em sua maior parte para ocasiões cerimoniais, juntamente com estilos mais contemporâneos feitos para os mercados dinamarquês e asiático (a importação de produtos de pele de foca para os Estados Unidos é ilegal). Em Nuuk, a maior cidade da Groenlândia e o único lugar em minha viagem onde vi um café, o National Museum conta a história da Groenlândia de maneira brilhante, desde os fazendeiros vikings na Idade Média até os habitantes inuítes que sobreviveram a eles.

Os inuítes desenvolveram grande parte da tecnologia que permitiu que exploradores da virada do século procurassem o Polo Norte – uma busca que os nativos, com sua mentalidade prática, consideravam inútil, mas para a qual ainda assim colaboravam, em troca de rifles de caça e outros bens ocidentais úteis. Caiaques e trenós de cães dos inuítes tornaram possível avançar mais rapidamente pelo gelo do Oceano Ártico, e a dieta nativa composta por carne fresca, frequentemente crua, ajudou os estrangeiros a aguentarem temperaturas abaixo de zero.

Graças a essa adoção de foca e leões-marinhos frescos, o solitário explorador norueguês Fridtjof Nansen voltou de algumas de suas viagens árticas pesando mais do que quando havia partido. Pelo menos essa última questão, muitos de nós a bordo do Seabourn Venture conseguimos entender perfeitamente. O Seabourn Venture não chegou perto do Oceano Ártico congelado que Nansen e outros desbravaram em busca do Polo Norte. Mas ele passou pela Baía Umivik, na costa sudeste, o ponto de partida de Nansen em 1888, quando ele se tornou a primeira pessoa a cruzar a Groenlândia – usando esquis, que foi então considerada uma abordagem inédita. Infelizmente uma ventania impediu que parássemos lá. Mas vários dias depois, em Qaqortoq, a neblina se dissipou por tempo suficiente para que um helicóptero nos transportasse, eu e outros seis hóspedes, sobre uma geleira depois de um voo de 20 minutos – uma experiência maravilhosamente perturbadora que foi como estar em um outro planeta.

Foi apenas em Sisimiut que entramos no Círculo Ártico propriamente dito e fizemos uma memorável caminhada de duas horas ao longo da Trilha do Círculo Ártico, de quase 160 quilômetros, passando por riachos gelados cercados por vegetação ártica, que já estava, no meio de setembro, vestida com as cores do outono. Ao longo da trilha, passamos por uma “cidade de cães” contendo centenas de huskies que alguns habitantes da Groenlândia mantêm para o trabalho de inverno.

De volta a Sisimiut, uma experiência gastronômica havia sido preparada para nós. Deixe-me fazer uma pausa aqui para explicar que eu estava comendo feito um rei durante quase duas semanas a bordo do Seabourn Venture: tudo, desde vieiras assadas e cauda de lagosta cozida até o frango selvagem conhecido como Cornish. Eu estava me beneficiando das maravilhas da refrigeração moderna e da cadeia de abastecimento mundial do século 21, sem mencionar as habilidades do chef executivo Ainsley Mascarenhas. Mas, aqui, um arranjo mais simples foi disposto para nós, incluindo cubos brilhantes de gordura de foca crua e baleia-de-minke crua e pedaços mais escuros de baleia-de-minke seca. A experiência me ajudou a compreender por que, dada a escolha, a maioria dos exploradores preferia comer boi almiscarado cozido a qualquer outra coisa que tivesse sido perfurada por um arpão recentemente.

Apesar de Sisimiut (antigamente conhecida como Holsteinsborg) ter sido frequentemente usada como um ponto de parada inicial para exploradores que iam mais para o norte, ela era o fim da linha para nós. Quando voei de volta a Reykjavik a partir do aeroporto próximo de Kangerlussuaq no dia seguinte, eu estava bem alimentado, bem descansado e intocado pela náusea marítima, pela cegueira causada pela neve, pelo enregelamento, anemia, escorbuto ou qualquer uma das outras inconveniências, incluindo a morte, que atacavam os antigos exploradores.

Excluindo o choque cortante de um voluntário mergulho polar, não cheguei a ficar desconfortável em nenhum momento. Ainda assim, dicas preciosas de uma experiência ártica mais dura e selvagem permaneceram – nas memórias de icebergs envoltos pela neblina, os uivos de lobo dos cães de trenó e o gosto de gordura de foca crua.

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