No universo de Helmut Newton transitam mulheres vestidas apenas com stilettos, outras possuem uma aura andrógina com suas peças saídas do guarda-roupa masculino e há também as que abusam dos signos do fetichismo, como Elsa Peretti caracterizada de coelhinha da Playboy ou a atriz francesa Charlotte Rampling, coberta por um casaco de pele entreaberto. As imagens criadas pelo fotógrafo têm sempre um ponto em comum: a provocação. “Helmut gostava de provocar, chocar, desestabilizar, ultrapassar limites, de fazer as pessoas questionarem os seus próprios julgamentos e preconceitos. Estava determinado a fotografar da forma que queria para manter a sua liberdade de expressão, algo fundamental para ele”, contou Phillipe Garner, vice-presidente da Fundação Helmut Newton e curador da mostra, à Vogue.
Nascido em Berlim em 1920, Helmut Newton foi um dos fotógrafos mais influentes na fotografia de moda de todos os tempos. Fact & Fiction, a exposição recentemente inaugurada na Fundação Marta Ortega Perez (MOP) faz um primoroso recorte em seis décadas de produção do visionário artista. O trio de curadores Philippe Garner; Matthias Harder, curador da Fundação Helmut Newton; e Tim Jefferies, proprietário da galeria de fotografia britânica Hamiltons tiveram carta branca da Fundação para criar a mostra, que começa com uma série de polaroides exibidas dentro de um antigo silo, parte do complexo da instituição situada na zona portuária da Corunha, na Galícia.
A exposição continua na área externa, onde um corredor com telas apresenta revistas digitais com as matérias originais para as quais Newton concebeu as imagens. Na sequência, o visitante segue para o edifício principal. Primeiro para uma imersão audiovisual na vida e no trabalho do artista: em uma enorme sala escura estão projetados imagens e vídeos de entrevistas com o fotógrafo, June Newton, sua parceira de vida em todos os sentidos, e inúmeros colaboradores. Em outra sala, estão em exibição câmeras e objetos pessoais, entre eles, itens que o artista colecionava.
As salas seguintes são mais escuras e inteiramente dedicadas às fotografias, estão lá imagens icônicas de moda, como a intitulada Rue Aubriot, criada para uma campanha de Yves Saint Laurent de 1975 que foi publicada na Vogue francesa, onde a andrógina modelo veste um smoking masculino YSL em uma rua deserta na madrugada de Paris. Fazem parte da seleção retratos de celebridades como David Bowie, Monica Belucci, Andy Warhol e Margaret Thatcher, assim como os conhecidos Big Nudes, retratos de mulheres nuas em tamanho natural, criadas inicialmente para um editorial de beleza para a Vogue francesa, em 1981. A ideia para polêmica série surgiu nos anos 80, quando Newton se deparou com fotografias dos escritórios da polícia alemã responsável pela captura dos terroristas de Bader-Meinhof, estas mostravam imagens em tamanho real dos membros do grupo fixadas nas paredes.
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A mente criativa de Helmut Newton era incansável, durante mais de seis décadas ele criou imagens que se tornaram icônicas e influenciaram a história da fotografia moderna. A exposição em cartaz na Fundação MOP não deixa dúvidas de que o trabalho do artista seguirá sendo uma referência fundamental para as gerações futuras por muito tempo.
Helmut Newton—Fact & Fiction está em exibição na Fundação Marta Ortega Pérez (MOP) até 1º de maio de 2024. Mais informações no site.