• Olga Penteado
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Young girl age 5 (Foto: Getty Images)

Histórias de pessoas que passaram pelo processo de fertilização (Foto: Getty Images)

Idade, doenças prévias ou adquiridas, questões genéticas e até mesmo a impossibilidade de engravidar naturalmente quando ambas são mulheres: são muitos os fatores que dificultam ou impedem a gestação espontânea. Conheça a história de quatro casais que, depois de passarem por diversos tratamentos sem sucesso, conseguiram realizar o sonho de ter filhos por meio da fertilização in vitro -- quando a fecundação é realizada em laboratório e o embrião gerado é transferido para o útero.

Parto em plena pandemia

“Superamos vários obstáculos, entre eles, uma tragédia familiar”

Como muitas mulheres de sua geração, Layne Rodrigues de Abreu Motta, 38 anos, investiu na carreira -- é dentista e empresária de sucesso, no Rio de Janeiro. “Casei cedo, mas adiamos a gestação até eu fazer 30 anos. Tentamos durante alguns meses, só que meu marido teve um ataque cardíaco e adiamos o projeto”, relata Layne. Voltaram a tentar de novo, fizeram alguns tratamentos, sem sucesso. Em 2018, perderam uma cunhada que estava grávida de cinco meses --  o bebê, que seria uma criança especial, também não resistiu. “Essa tragédia familiar reforçou nosso desejo de termos filhos”, conta Layne, que procurou uma clínica especializada em fertilidade.

“Optamos pela realização da Fertilização In Vitro, mas fizemos antes, a pedido do casal, um teste genético pré-implantacional, exame que detecta alterações cromossômicas que podem diminuir as chances de gravidez, aumentar o risco de abortos ou de nascer um bebê com alguma síndrome”, explica Maria Cecília Erthal, diretora-médica do Vida - Centro de Fertilidade e especialista em reprodução humana assistida.

Layne engravidou já no primeiro tratamento e tudo estava correndo bem, até que começou a quarentena. “Sempre fui equilibrada, mas juntou a ebulição hormonal da gravidez com o stress da pandemia e eu fiquei insegura. Foi um período difícil”. Para piorar, ela teve colestase gestacional, uma disfunção hepática que põe em risco a vida do bebê. O problema adiantou o parto em três semanas, mas tudo correu bem. “Minha filha, Fiorella Senna, nasceu saudável, linda. Ela é um anjo que veio abençoar nossa família”. Senna em homenagem ao piloto, ídolo do casal em virtude da determinação e coragem. “Daqui a um, dois anos, ela vai ganhar uma irmãzinha, a Antonella. O embrião já está pronto, congelado.”

Duas mães, três filhos

“Depois de cinco anos de casamento, resolvemos engravidar. Éramos jovens, saudáveis, achamos que seria fácil”
Após cinco anos de casamento, Roberta Silveira, 32 anos, secretária de coordenação escolar, e Carolina França, 35 anos, publicitária, ambas do Rio de Janeiro, quiseram ter filhos e viram na fertilização in vitro a solução, já que não poderiam gestar naturalmente. A primeira tentativa não foi bem sucedida. “Foi muito frustrante, éramos jovens, saudáveis, achávamos que seria fácil. Nosso mundo veio abaixo”, fala Roberta. 

Elas decidiram esperar um ano, até as próximas férias de Roberta, e procurar uma nova clínica. Para contornar outro obstáculo, financeiro, ambas resolveram doar óvulos.  “Dessa forma, a fertilização pode ocorrer com o menor custo possível”, esclarece Maria Cecília Erthal, diretora-médica do Vida - Centro de Fertilidade, onde o tratamento foi feito.  No processo, foi descoberta e tratada uma trombofilia, causa provável do insucesso da primeira implantação.

A gravidez aconteceu na primeira transferência de embriões -- o sêmen veio de um doador anônimo, como determina a legislação brasileira. E, na primeira ultrassonografia, veio a surpresa. “Um dos dois embriões implantados se dividiu, algo bastante raro, e ela estava grávida de trigêmeos”, conta a médica. Segundo Roberta, foi um susto e uma alegria ao mesmo tempo. “Até hoje me emociono, pois vencemos várias dificuldades com muita resiliência e hoje estamos aqui, felizes, com três crianças adoráveis -- Aurora, Maria e Joaquim, de três anos”. Para inspirar e ajudar outros casais de mulheres, Roberta criou o perfil @osfilhosdasmaes, no Instragram. 

Infertilidade secundária

“A primeira gestação veio sem planejarmos, mas a segunda levou cinco anos”
Hugo veio naturalmente, depois de três anos de casamento. Tudo levava a crer que Rolland Gianotti, empresário da comunicação, e Deise Vianna, professora, ambos com 43 anos e do Rio de Janeiro, não teriam problema para engravidar de novo. Depois de tentarem por mais de um ano, procuraram ajuda e descobriram que sofriam de infertilidade secundária -- quando a primeira gestação acontece facilmente, mas as seguintes, não.

“Fizemos uma batelada de exames e descobri que eu estava com varicocele, uma condição vascular que interfere na qualidade do sêmen”, conta Rolland. Ele fez uma cirurgia e corrigiu o problema. E passaram a tentar de novo, sem sucesso. Resolveram recorrer à reprodução assistida: fizeram duas inseminações artificiais e também não deu certo. Depois disso, Deise engravidou naturalmente, para a alegria da família, mas acabou sofrendo um aborto natural.
Recorreram, então, à fertilização in vitro. “É um tratamento que exige muito do casal, mas principalmente da mulher, já que a carga hormonal para induzir as múltiplas ovulações mexe como nosso corpo, nosso humor. O companheiro precisa querer tanto quanto a gente, se não, fica muito difícil”, pondera Deise. A primeira não deu certo, mas a segunda sim e Henrique nasceu em 2011. “Até hoje, não sabemos o motivo da dificuldade e apesar de o processo ter sido longo e desgastante, inclusive financeiramente, valeu muito a pena”, fala o empresário, que faz uma ressalva: “Nem todos os casais conseguem, por isso, é preciso ter o pé no chão”.  

Última chamada

“Aos 39 anos e recém-curada de uma endometriose severa, me agarrei á última oportunidade”
Patrícia* (nome fictício, pois a entrevistada preferiu manter a privacidade), 45 anos, de São Paulo, sempre quis ser mãe, mas tinha dois dos principais fatores de infertilidade feminina jogando contra ela: uma endometriose severa (condição na qual o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo) e a idade. Quando conheceu seu marido já havia feito uma cirurgia para se livrar da doença, mas depois de casada, descobriu que a operação não tinha surtido efeito.  “Os focos dos ovários foram retirados, mas não os do intestino, o que exigiu uma nova cirurgia”, conta a paulistana.

Desta vez a operação foi bem sucedida e o casal tentou engravidar -- o que não ocorreu. “Como já estava com 39 anos, a fertilização in vitro seria a minha última chance. Tive, porém, que vencer a resistência do meu marido, foram muitas noites de conversa até ele concordar”. O tratamento não foi fácil -- ela, que já tinha passado por uma menopausa induzida para tratar a endometriose, se viu mergulhada no turbilhão hormonal para a indução das múltiplas ovulações. A primeira tentativa não vingou, o que foi um baque para ambos. “Falei para o meu marido que eu precisava tentar mais uma vez, e que se fosse igual a primeira, desistiríamos e viveríamos a vida como casal”. Mas tudo deu certo na segunda fertilização: a gestação foi tranquila e o menino, que agora tem 6 anos, nasceu forte, saudável.