Uma modelo com jaqueta de couro preta e tachas segura no ombro uma escultura enrolada em um lençol diante de um fundo de telas, caixas e entulhos. É esta a imagem, pertencente à última campanha da Zara, que suscitou a indignação entre os ativistas pró-Palestina, que apelam ao boicote à marca do grupo espanhol Inditex.
Para divulgar os novos designs criados pela linha Zara Atelier, sob o nome “Collection 04_The Jacket”, a empresa publicou no último domingo (10) uma série de fotos em seu perfil no Instagram. Todas mostram a modelo americana Kristen McMenamy vestindo as peças – jaquetas e casacos – no que sugere ser um armazém artístico. Sua vestimenta escura contrasta com um fundo branco e cinza onde se destacam moldes de esculturas, peças e fragmentos delas, entulhos, sacos plásticos, tábuas de madeira...
![Última campanha da Zara com a modelo Kristen McMenamy — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/zNtmSlUf7ZeJc5Ribf5yP_M4SLw=/0x0:1080x1350/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/Y/4/7Gh4h7Ru2DC2OAAyKkXw/11124436f620152.jpeg)
Considerando o atual clima político internacional, têm sido muitos os usuários das redes sociais que veem nestas imagens uma evocação das fotografias desoladoras que há semanas chegam do conflito entre Israel e Palestina, e as consideram uma clara alusão à guerra em Gaza. Isso deve-se, entre outras coisas, ao fato de algumas das esculturas representadas terem membros faltantes e outras aparecerem envoltas em um pano branco, como contempla a tradição funerária islâmica.
A reação levou a marca a apagar as fotos das redes sociais, bem como ocultar as imagens do site. As peças, porém, permanecem acessíveis no catálogo. Em um comunicado divulgado através do Instagram, a marca explicou que a campanha foi planejada em julho e o shooting feito em setembro, antes da eclosão do conflito. “Zara lamenta o mal-entendido e reafirma seu mais profundo respeito por todos”, dizia o pedido de desculpas.
Mas o comunicado parece ter chegado tarde demais. Artistas, jornalistas, figuras reconhecidas internacionalmente e até portais e meios de comunicação muçulmanos aderiram à hashtag #BoycottZara que, durante três dias, foi inundada de comentários negativos contra a empresa liderada por Marta Ortega.
Muitos fizeram comparações entre a campanha da marca e as imagens da guerra e afirmaram que não voltarão a comprar da empresa, considerando a publicação das fotos uma falta de humanidade e até uma certa cumplicidade no sofrimento do povo palestino. Internautas ainda descreveram a marca como “hipócrita” e “insensível” e a estratégia de marketing como “equivocada”.
Além disso, as reações transcenderam as redes sociais e estão encontrando manifestação nas ruas. Alguns ativistas pró-Palestina passaram a realizar protestos organizados em frente às lojas Zara, como aconteceu em Montreal (Canadá), denunciando as imagens da campanha ou pintando grafites nas vitrines das lojas.
Vale lembrar, no entanto, que no início de outubro, logo após a eclosão do conflito, a companhia espanhola Inditex, que controla uma série de franquias incluindo a Zara, fechou temporariamente suas 84 lojas em Israel.