Cãoportamento

Por Paula Duarte

Médica-veterinária pela UFLA e Mestre em Ciência Animal pela USP. Professora das disciplinas de Etologia e Bem Estar Animal na USCS e Universidade Brasil


Antes de tudo, precisamos entender o que é este sentimento que afeta tanto humanos, quanto nossos pets. A ansiedade é uma resposta emocional estimulada.

É um estado que engloba vários outros sentimentos, como medo, pânico e estresse, e que existe para proteger a sobrevivência de cada espécie. Associa-se a um perigo em potencial e seu preparo para uma fuga ou enfrentamento e pode ser dividida em dois grupos: traços de ansiedade e estado de ansiedade.

Os primeiros podem ser considerados parte da personalidade ou temperamento não passageiro de um ser vivo, como aquele animal ou humano mais ansioso, quando comparado com outros.

Já o estado de ansiedade, se desenvolve frente a uma situação específica, considerado temporário e passageiro. Quando uma frequência maior destes dois grupos é observada, pode virar um problema, interferindo, assim, na rotina.

Os cães mudam seus comportamentos quando estão com ansiedade de separação — Foto: Canva/ Creative Commons
Os cães mudam seus comportamentos quando estão com ansiedade de separação — Foto: Canva/ Creative Commons

Mas e a ansiedade de separação? Em que grupo se encaixa?

O termo ansiedade de separação parece ser simples, mas ele é muito mais abrangente, pois se refere aos sentimentos gerados pelo distanciamento ou separação de um indivíduo com outro, que possuem uma relação próxima.

É classificado como um transtorno quando o resultado interfere na saúde do animal. No caso dos cães, espécie gregária, que vivem em grupos e são sociáveis, eles sentem mais a falta do tutor do que outros pets.

Durante a pandemia, nossos pets estavam conosco o tempo inteiro, mas agora que estamos voltando à normalidade, eles sentem, sim, a diferença. Por isso é normal um aumento de casos.

Por exemplo, em uma pesquisa realizada nos EUA, no início dos anos 2000, foi estimado que pelo menos 14% dos cachorros analisados em clínicas veterinárias apresentaram sinais de ansiedade de separação. Então, precisamos ficar mais atentos com algumas ações do dia a dia.

Trago aqui algumas ações corriqueiras que podem aumentar esse tipo de ansiedade:

  • Um cão ser muito apegado a uma pessoa só;
  • O tutor que deixa o cão sozinho após algum evento traumático;
  • Isolamento social do cão;
  • Cães que dormem na cama e, às vezes, até no mesmo quarto que os tutores;
  • Seguem os tutores constantemente pela casa;
  • Sempre querem ter um contato físico;
  • Inquietude se o tutor está em outro cômodo e o cão não pode entrar;
  • Ansiedade antes do tutor sair, quando estiver se arrumando;
  • A “festinha” exagerada quando o responsável volta para casa;
  • O apego anormal de seu cão pedir “colo” e você pegar;
  • Barulhos muito altos;
  • Um longo período sem os tutores.

Quando o cão se isola em algum lugar da casa, provavelmente ele está com ansiedade de separação — Foto: Canva/ Creative Commons
Quando o cão se isola em algum lugar da casa, provavelmente ele está com ansiedade de separação — Foto: Canva/ Creative Commons

Normalmente, há uma incidência maior em filhotes, quando estes deixam a mãe e seus tutores vão buscar, pois eles procuram um substituto para a mãe, e acabam se apegando a uma pessoa.

Conforme o tempo passa, esses filhotes se adaptam à rotina de sua nova família, o que diminui a questão da ansiedade. Caso isso não reduza, futuramente, esse cão poderá sofrer com a ansiedade de separação.

Agora, já sabemos o que é a famosa ansiedade de separação e temos também alguns comportamentos que podem agravar ou até despertar esse sentimento que antes não existia.

Sinais da síndrome

  • Latidos em excesso;
  • Choros em excesso;
  • Uivados em excesso;
  • Mordidas;
  • Destruição de objetos de casa;
  • Urinar em lugares espalhados e que ele não tem costume;
  • Hiperatividade;
  • Agressividade;
  • Movimentos repetitivos de andar no mesmo lugar;
  • Respiração forte;
  • Tremores;
  • Arranhar o chão.

Algumas raças, como pastor alemão, foram criadas para “segurança pessoal” e, por isso, sofrem mais com esse quadro do que os cães que não possuem essa genética hereditária.

Outros cachorros que também têm predisposição genética são o basset hound e o cocker spaniel. Saber mais sobre a especificação da raça e personalidades individuais pode ajudar muito na diminuição desse problema emocional. Babar, ofegar e outros sinais cognitivos de ansiedade não podem ser diagnosticados, mas provavelmente irão ocorrer.

Como amenizar a ansiedade de separação do meu cão?

Observei que meu cão apresenta pelo menos três dessas alterações e percebi que faço algumas coisas listadas acima, como posso fazer para melhorar?

Pode-se tentar algumas medidas simples, como a adoção de uma rotina constante, gradualmente aumentar a tolerância de separação e usar distrações, como brinquedos ou comidas, quando o tutor sair. Buscar um treinador para melhorar esses comportamentos também é uma opção.

Pode-se resolver esse problema com o melhoramento de comportamentos, sempre encorajando e dando prêmios (o chamado reforço positivo), pois os resultados serão melhores e mais rápidos do que alguns métodos de punição.

Ser lembrado por algo ruim aumentará ainda mais a ansiedade de seu pet e pode até desencadear novos problemas. Um cão ansioso e com outros problemas relacionados a sentimentos pode ter sua expectativa de vida reduzida, por isso, é bom ficar atento ao seu bichinho.

O estabelecimento de uma rotina pode ajudar na ansiedade de separação — Foto: Canva/ Creative Commons
O estabelecimento de uma rotina pode ajudar na ansiedade de separação — Foto: Canva/ Creative Commons

Caso as técnicas acima não funcionem, algumas medicações e florais podem ser usados, mas lembre-se: as respostas e comportamentos são individuais e sempre é bom ter uma conversa com o médico-veterinário do seu pet para ver quais são os melhores métodos em cada caso.

Hoje, dentro da Medicina Veterinária, conhecer o comportamento dos animais é de extrema importância para conseguirmos oferecer bem-estar adequado a eles. E, para isso, o engajamento precisa ser conjunto, entre profissionais da área e tutores.

Por isso a coluna trará assuntos importantes e relevantes para a rotina dos nossos cães. Informando e orientando os tutores, para que possam melhorar, a cada dia, as ações com seus "aumigos" e, assim, oferecer melhores condições de vida a eles.

Esse texto contou com a colaboração de Stephanie Wirts Braga; acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Universidade de São Caetano do Sul (USCS).

Mais recente Próxima