Conexão Pet

Por Por Sabina Scardua


Determinados comportamentos dos tutores podem causar ansiedade nos pets — Foto: Canva/ CreativeCommons
Determinados comportamentos dos tutores podem causar ansiedade nos pets — Foto: Canva/ CreativeCommons

Há muitos anos, a ansiedade é estudada e discutida na ciência. Com a pandemia, parece ter tomado proporções ainda maiores, o número de artigos científicos publicados cresceu – já são mais de meio milhão. 10% desses artigos são sobre ansiedade em pets. Esse movimento da ciência acompanha o número crescente de animais em estado de ansiedade no mundo todo.

Você acha que um pet ansioso é aquele que late e chora quando o tutor sai? A ansiedade de separação é apenas um dos distúrbios comportamentais dentro do espectro das desordens de ansiedade.

Muitos animais têm uma vida de recursos e presença constante do tutor, mas ainda assim estão ansiosos. Os sinais comportamentais mais comuns são vocalização em excesso, choramingos, ofegação constante, solicitação excessiva de atenção, hiperatividade, agressividade, destruição de objetos, micção e defecação em locais inapropriados e vômitos recorrentes.

Mas não é todo animal que dá sinais comportamentais de ansiedade. Alguns simplesmente mantêm um estado de agitação interna, angústia, alerta constante e sofrimento psíquico, embora ainda se mantenham contidos e comportados.

Alguns animais não demonstram sua ansiedade, por isso, é preciso ficar atento nos detalhes — Foto: Canva/ CreativeCommons
Alguns animais não demonstram sua ansiedade, por isso, é preciso ficar atento nos detalhes — Foto: Canva/ CreativeCommons

Parece que nos acostumamos com a ansiedade. As pessoas dizem com facilidade “eu sou muito ansiosa”, como se fosse um traço comum e aceitável. Para os animais, não é.

A ansiedade é um estado emocional e interno. Faz parte das emoções, em pequenas doses e em momentos específicos. Possui um mecanismo neurológico próprio, diferente do medo, embora ambos sejam acionados pelas vias neurais do estresse, que repercute de forma agressiva no funcionamento do corpo, a ansiedade de longa duração trará malefícios para o corpo, mente e alma do animal.

Algumas personalidades são mais propensas à ansiedade, mas, infelizmente, de uma forma geral, é muito fácil deixar um pet ansioso. O nosso comportamento, estados mentais, energéticos, emocionais e estilo de vida refletem em como os animais de nossa família se sentem. Pensando nisso, eu separei dez comportamentos que você não deve ter com o seu pet, pois deixará ele ansioso. Confira!

A ansiedade de separação não é a única forma de ansiedade — Foto: Canva/ CreativeCommons
A ansiedade de separação não é a única forma de ansiedade — Foto: Canva/ CreativeCommons

1. Fazer perguntas para ele o tempo todo


Os animais reconhecem muitas palavras e aprendem a contextualizá-las também. Em um estudo recente, foi evidenciado que os cães discernem mais de 300 palavras. Mas, como sabemos, eles não falam português, então, quando fazemos perguntas, eles entendem o tom de questionamento, sabem que há uma demanda, mas não conseguem atendê-la.

Eles sabem que estamos perguntando algo, mas entram em aflição por não conseguirem responder apropriadamente. Em vez de dizer “vamos passear?”, diga apenas “agora vamos passear”; no lugar de “o que você quer?”, fale “estou prestando atenção, me mostre o que quer”; em vez de “você quer biscoito?”, diga “agora você vai ganhar um biscoito”.

Troque as interrogações por afirmações. Se precisar ou quiser saber algo do cão como o que ele quer em determinada situação, do que não gosta, como se sente, use um profissional de comunicação animal.

Fazer perguntas demais para o pet pode causar angústias nele, por isso, faça frases afirmativas — Foto: Canva/ CreativeCommons
Fazer perguntas demais para o pet pode causar angústias nele, por isso, faça frases afirmativas — Foto: Canva/ CreativeCommons

2. Sair de casa alterado(a) emocionalmente


Sair de casa com raiva, medo, má vontade, triste ou muito agitado vai deixar o pet preocupado com você. Eles fazem associações muito rápidas, e a mais comum é a saída do tutor ser sinônimo de sofrimento. A forma como chega em casa também influência. Eles ficam aflitos, pois não sabem como ajudar, ficam em angústia interna, porque o tutor vai sair a qualquer momento e sofrer, sendo que não tem nada que ele possa fazer para salvar seu amado.

3. Vigiar o bicho o tempo todo


O pet sabe que está sendo vigiado, isso gera uma tensão e um cansaço a mais. Os animais precisam entender que estão seguros em casa e que podem relaxar e se esconder sem serem incomodados. Tem tutor que, se o pet não está ao seu lado, vai atrás dele pela casa para saber o que está fazendo, ou pior: chama e ainda pergunta “onde você estava e o que estava fazendo?”.

4. Esperar que coma, pedir para ele comer e dar o alimento na boca dele

Essa rotina de participação exagerada na alimentação cria uma tensão imensa para o momento. Alguns animais simplesmente param de comer por causa disso ou comem por obrigação. Criam uma dependência emocional em que só se alimentam na presença do tutor, mas, ainda assim, não é prazeroso. Pode não parecer, mas tem sofrimento envolvido. É diferente de compartilhar algumas refeições e momentos especiais de interação entre os dois.

Não dar espaço ao animal na hora da alimentação pode gerar ansiedade — Foto: Canva/ CreativeCommons
Não dar espaço ao animal na hora da alimentação pode gerar ansiedade — Foto: Canva/ CreativeCommons

5. Agir de forma inconstante

Esta receita é infalível: regras pouco claras na casa geram ansiedade. Ora tem petisco, ora não tem, sem nenhuma razão. Ora pode subir no sofá, ora não pode. Ora atende solicitação, ora não atende. Principalmente o cachorro que aprende por associação, entra em conflito interno e se torna, ao longo de pouquíssimo tempo, muito ansioso por falta de entendimento e domínio de seu mundo.

6. Interromper a brincadeira bruscamente com uma bronca

Isso dá um choque interno no animal. Uma emoção muito positiva, de prazer, satisfação e alegria é interrompida por um susto e emoção negativa, gerando um conflito interno e ansiedade na hora brincadeira, que é um momento tão importante na vida do pet.

Se o pet fez algo errado, apenas ignore e pare a brincadeira. Dar bronca nesse momento ou quando ele estiver feliz, é como um “soco no estômago” dele, deixando-o confuso em um primeiro momento e ansioso após repetidas vezes. Entra em um círculo vicioso, em que o animal fica tão agitado que não consegue mais brincar com o tutor.

7. Esperar o bicho pedir para comer, beber, limpar a caixa de areia ou ir ao banheiro

As necessidades básicas dos animais – dormir, comer, beber água, fazer xixi e cocô – devem ser executadas diariamente sem o pet ter que pedir ao tutor. O contrário disso estabelece um nível de impotência e vulnerabilidade alto demais. Independência e rotina razoáveis são fundamentais para o bem-estar dos peludos.

É dever do tutor atender às necessidades do pet sem que ele tenha que pedir — Foto: Canva/ CreativeCommons
É dever do tutor atender às necessidades do pet sem que ele tenha que pedir — Foto: Canva/ CreativeCommons

8. Falar demais em casa

A voz humana tem uma vibração muito poderosa. Falar muito e alto pode agitar demais o ambiente, e essa agitação afeta o animal, de forma sutil, mas poderosa. Usar o viva-voz também não é bom. A vibração da outra pessoa adentra e influencia o ambiente. Usar fones de ouvid e falar apenas o necessário em tom baixo vai ajudar seu pet a se manter calmo.

9. Privar o sono

Fisiologia pura. A privação de sono altera hormônios importantes que influenciam vias neurais, deixando o animal estressado e ansioso. Já contou quantas horas por dia o seu pet dorme? E qual é a duração do cochilo, ou seja, por quanto tempo seguido consegue dormir profundamente? Onde é o local de dormir? Passa muita gente ali? Tem esconderijo escurinho para ele? Pense nisso!

10. Não olhar no olho por mais de 3 dias

Um estudo publicado em 2014 na revista Science demonstrou que cães que não olhavam nos olhos do tutor por mais de três dias tornavam-se significativamente mais ansiosos, mesmo estando com o tutor no mesmo ambiente.

Segundo a mesma pesquisa, os cachorros que olhavam mais de 30 segundos nos olhos do tutor, aumentavam em mais de 400% as concentrações de ocitocina na corrente sanguínea. A ocitocina dos tutores também aumentava, mas não nessa proporção.

Não desvie o olhar quando seu cão te olhar nos olhos. Isso é muito importante para ele.

Olhar nos olhos do cão é uma ótima forma de deixar o cão mais tranquilo — Foto: Canva/ CreativeCommons
Olhar nos olhos do cão é uma ótima forma de deixar o cão mais tranquilo — Foto: Canva/ CreativeCommons

Te convido a verificar cada um desses pontos, porque eles podem moldar a ansiedade do amor da sua vida. Comece com o olho no olho. Respire fundo ao longo do dia, sinta a si próprio e conecte-se mais profundamente com seu pet, não com o mundo ao redor.

A médica-veterinária Sabina Scardua é colunista do Vida de Bicho — Foto: ( Arquivo pessoal/ Sabina Scardua)
A médica-veterinária Sabina Scardua é colunista do Vida de Bicho — Foto: ( Arquivo pessoal/ Sabina Scardua)

Sabina Scardua é médica-veterinária com doutorado em comportamento animal. Atua com Reiki em animais desde 2016 e está à frente do Reiki Pet Rio (@reikipetrio).

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