Bolsas e índices

Por Beatriz Pacheco e Gustavo Ferreira, Valor Investe — São Paulo


O mercado tem uma visão quase unânime sobre o Ibovespa em 2024: foguete pode até balançar, mas não dá ré.

De 21 casas ouvidas pelo Valor Investe, 12 enxergam o principal índice da bolsa no próximo ano entre 140 mil e 145 mil pontos. Entre a aposta mais pessimista e a mais otimista há uma diferença de 26 mil pontos. A projeção média mira 146.143 pontos, ou seja, alta de 13,4% contra o patamar do último fechamento, no dia 22, o que supera a Selic média projetada para 2024, atualmente ao redor de 10%, segundo o mercado de juros futuros.

Onde o "foguete" Ibovespa vai parar?

Banco ou casa de análise Cenário-base para dezembro/2024 (em pontos)
Way Investimentos 134.000
Ativa Investimentos 138.000
Levante Corp 140.000
BB Investimentos 141.000
XP Investimentos 142.000
Banco Inter 142.000
Safra 142.000
Rico 142.000
Genial Investimentos 142.700
Hike Capital 143.000
Warren Rena 143.294
Itaú 145.000
Bank of America 145.000
Terra Investimentos 145.000
BTG Pactual 147.000
AZ Quest 150.000
Guide 155.000
Monte Bravo 155.000
Bradesco BBI 157.000
EQI Research 160.000
Santander 160.000
Média 146.143
Ibovespa em 22/12 132.750

A expectativa de voo alto se baseia em três premisas: a continuidade da entrada forte de estrangeiros na bolsa; a fase final do corte de juros básicos no Brasil, eventualmente mais vertiginosa do que os preços de ações consideram hoje; e no simples fato de a bolsa estar "barata".

Sobre esse último ponto, uma das réguas para se medir o que está caro ou barato na bolsa é a comparação entre valor de mercado e lucro das empresas, o chamado múltiplo P/L (P de preço da ação, dividido pelo L de lucro por ação). Em tese, quanto menor o múltiplo, menor o tempo para a empresa gerar valor suficiente para cobrir o preço que o investidor para para comprar as ações. Assim, quanto menor essa relação, mais barata estaria a bolsa ou a empresa.

Nas contas da XP, o múltiplo P/L do Ibovespa está abaixo da média histórica. Nos últimos 15 anos, essa relação apontava que investidores demorariam por volta de 11 anos para ter de volta o quanto investiram. Em 2023, mesmo após a alta recente, esse índice está perto de oito anos.

A volta dos estrangeiros

O otimismo geral renasceu faz pouco tempo. Após arrancada anual de 11% até julho, o Ibovespa caiu 7% entre agosto e outubro, reduzindo o saldo positivo no aucmulado no até então a módicos 3%. Mas veio a reviravolta de novembro. Antes de o mês começar, o ingresso estrangeiro em 2023 estava em R$ 6 bilhões. Num só mês, o fluxo saltou para R$ 27 bilhões. E o índice bateu mais de 16% de alta anual.

Analistas enxergam esse movimento apenas como o início da retomada do apetite pelo Brasil

“É algo que já havíamos mapeado em outubro, quando fizemos duas reuniões com 45 investidores da Europa e dos Estados Unidos. À época, eles disseram que tinham uma visão positiva para o mercado brasileiro, mas esperavam uma estabilização das taxas americanas para voltar a aplicar”, contou Aline Cardoso, chefe de pesquisa do Santander Brasil.

Dito e feito. Nos meses de sangria por aqui, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) havia reduzido os cortes de juros projetados para 2024. A reboque, rendimentos dos títulos americanos foram às máximas de 16 anos. Mas a turma começou a considerar que a autoridade monetária dos EUA estava blefando. O retorno dos títulos americanos voltou aos níveis de setembro. E, assim como foram embora, estrangeiros voltaram com tudo e o Ibovespa teve o melhor novembro em três anos.

Em meio a essa reviravolta, a equipe do Santander Brasil recebeu três grandes investidores estrangeiros no país. Não acontecia desde o primeiro semestre deste ano.

“Um desses investidores nunca tinha vindo para cá e agora está interessado no mercado brasileiro. Os outros dois já são alocadores de longo prazo no Brasil, mas vieram atrás de novas oportunidades”, diz Cardoso. “O investidor europeu tem bastante ativo brasileiro via portfólios de fundos. Já o americano e o canadense, menos, e é aí que está a oportunidade para essa alocação crescer.”

O Brasil se destaca entre os emergentes pelo baixo risco geopolítico e tamanho do mercado”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP. E, de acordo com ela, a sorte brasileira continuará sendo traçada pela economia americana. Seja com "pouso suave" da economia, seja com recessão. “Não necessariamente seria ruim, porque esse cenário pode antecipar ainda mais o corte dos juros americanos."

De acordo com levantamento do Santander, desde 1980, cada primeira pausa em ciclos de altas de juros nos Estados Unidos fez a bolsa do Brasil subir, em média, 28%. Logo, se o Fed de fato tiver encerrado seu ciclo de alta de juros, o Ibovespa iria para algo como 152 mil pontos em setembro de 2024. (*cálculo sobre o patamar do Ibovespa na data da reunião de 20 de setembro [118.695 pontos], a partir de quando o Fed manteve as taxas).

Para essa história ficar melhor, pode ser confirmada em 2024 a expectativa de aceleração e aprofundamento da queda de juros no Brasil. E, para isso acontecer um cenário benigno nos Estados Unidos é fundamental. "Esse cenário ainda não está embutido nos preços, e, caso aconteça, pode fazer a Selic cair além dos 9,25% ao ano projetados pela média dos analistas", diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter. Seria um convite e tanto, claro, para investidores locais se juntarem aos gringos na ponta compradora de ativos na bolsa, reduzindo o peso da renda fixa nas carteiras.

Com emoção no meio do caminho? Sempre é assim, mas, agora, a previsão é de que as surpresas sejam mais positivas do que negativas. Em todos os ciclos de quedas da Selic dos últimos 20 anos, o Ibovespa entregou quase três vezes o retorno no CDI [Certificado de Depósito Interbancário]”, diz a estrategista de ações da XP.

Mas nem tudo são flores. “A desaceleração do crescimento econômico da China é um dos pontos que reduz nosso otimismo com ações ligadas a commodities”, ponderou Fernando Siqueira, chefe da área de análise da Guide. Já do outro lado a Hike Capital espera uma recuperação do setor chinês de construção civil, que refletiria na retomada da demanda por minério de ferro, “elevando a cotação da commodity, com reflexo positivo em ações da Vale”, disse Jonas Carvalho, diretor-presidente da consultoria.

Oportunidades e riscos em jogo

Santander e XP têm visão positiva de curto prazo para a Vale, no embalo do minério de ferro. Mas não incluem a companhia entre as favoritas de 2024.

A conversa para a outra gigante do Ibovespa, a Petrobras, é mais difícil. Carvalho, da Hike, vê com bons olhos melhorias operacionais, enquanto Santander e Guide apontam para o enfraquecimento da demanda por petróleo. Já Flavio Conde, analista da Levante, aponta ainda para riscos mais elevados de interferência política, dadas as alterações estatutárias recentes com objetivo de facilitar a entrada de políticos na administração da empresa.

Ponto comum entre as casas: ações do setor de papel e celulose, das empresas de proteínas (JBS, BRF e Marfrig) e de bancos e instituições financeiras, que devem se beneficiar da continuidade do ciclo de cortes de juros no Brasil em 2024.

Para João Sá, co-chefe de investimentos da Arton Advisors, setores que “ficaram para trás [no último ano] podem apresentar melhoria de performance”. Ou seja, tudo que cai, sobe. Casos de metais e mineração, alimentos e bebidas, aluguel de carros e logística e algumas empresas do varejo.

“Caso esse cenário acima se concretize, a bolsa não vai operar com desconto tão relevante com relação à média, perdendo o status de ‘barata’”, concluiu o executivo da Arton Advisors.

Na cena local, Conde, da Levante, aposta as fichas na continuidade do ritmo de alta de papéis do setor de construção. "Mas não de alta renda. Estão cobrando preços muito fora da curva pelo metro quadrado, alto risco de não venderem. Já a baixa renda, ligada ao Minha Casa, Minha Vida, vai vender. Aposto, principalmente, na Direcional, que recentemente se capitalizou em R$ 1 bilhão."

Agora é esperar para ver.

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