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Por Chames Oliveira


Futebol. Nossos atletas são referência no mundo inteiro e a jogadora mais famosa do mundo é, veja só, brasileira! A alagoana Marta Silva foi considerada pela FIFA seis vezes (cinco delas consecutivas!) a melhor do mundo. Mesmo assim, a modalidade feminina, infelizmente, ainda é muito desvalorizada em relação à masculina. Mas há motivos para acreditar na mudança. Quem sabe o futuro do futebol ainda será feminino? Conheça Júlia Rosado de Souza, Natália Pereira e Luiza Travassos, três meninas da nova geração que estão desafiando o status quo e levando reconhecimento para o futebol das manas.

Juju Gol é um dos talentos do futebol feminino (Foto: Arte: Erik França) — Foto: Glamour
Juju Gol é um dos talentos do futebol feminino (Foto: Arte: Erik França) — Foto: Glamour

Juju Gol, 9 anos

São quase 20 mil pessoas que seguem Júlia Rosado no Instagram. Por lá, elas comemoram cada vitória da carioca conhecida como @jujugol, que estreou no campo quase engatinhando. O esporte, que começou como uma brincadeira durante os recreios da escola, virou coisa séria: com 5 anos, Juju era a única menina entre os 200 selecionados para integrar o time mirim do Barcelona. Agora, aos 9, continua jogando em times de meninos. O motivo? A falta de equipes femininas de alto rendimento. O Centro Olímpico, em São Paulo, é o único clube no Brasil com a categoria. "Jogar com meninos é bom para minha evolução como atleta, mas não é uma escolha. É a única opção. Na minha idade, existem poucas meninas jogando futebol. Nossa luta é para que o futebol feminino cresça e que, em breve, tenhamos competições e equipes femininas com atletas da minha idade", explica. A existência desses torneios exclusivamente femininos, aliás, é um dos grandes sonhos da jogadora do Resende Futebol Clube.

O principal, como podemos imaginar, é ser profissional. Promissora, a garota participa do Elite Team, a equipe com viés competitivo e treinos intensivos da escolinha do Paris Saint-Germain no Brasil. As ambições, no entanto, não acabam aí. Apesar da pouca idade, Juju já entende a importância de ser referência no futebol feminino: "Quero deixar um legado na luta pela igualdade de gênero e no crescimento da modalidade. Eu entendo que não adianta lutar apenas pelos meus sonhos, pois existem muitas meninas que também sonham em ser grandes atletas. Preciso lutar pelo sonho delas também", afirma – assim mesmo, esbanjando empoderamento.

Às meninas que curtem jogar bola, aliás, Juju acrescenta mais uma dose de palavras girl power e incentiva: "Os nossos sonhos precisam ser maiores que os obstáculos que encontramos. Precisamos encontrar motivação sempre, lutar uma pelo sonho da outra, e juntas pelo crescimento do futebol feminino e pelo espaço da mulher no esporte". Diz aí: o futuro está ou não em boas mãos?

Jovens talentos do futebol feminino (Foto: Arte: Erik França) — Foto: Glamour
Jovens talentos do futebol feminino (Foto: Arte: Erik França) — Foto: Glamour

Natália Pereira, 9 anos

A inexistência de equipes femininas de base não impediram Natália, 9 anos, de mostrar que é boa de bola. Em janeiro, a catarinense ganhou os holofotes ao se tornar a primeira e, até então, única menina em todo País a integrar um time de base masculino da série A. A atleta, que já jogava profissionalmente, entrou para o time sub 10 do Avaí depois de provar o talento no peneirão, seleção da qual só conseguiu participar após esforços e negociações feitas pelos pais, Karyna e Fabiano. "Falamos desde o começo que a nossa função é apoiar. Orientá-la para que faça boas escolhas. Então, cabe a nós abrir espaço para fazê-la alcançar seu sonhos", afirma a mãe, orgulhosa.

O preconceito e a dificuldade encontrados fora do campo, no entanto, não acontecem no convívio com os coleguinhas de time. "Os meninos a acolhem muito bem. Tratam de igual para igual", comenta Kariny. "O problema muitas vezes são os pais da torcida adversária, que acham difícil ver o filho perder para uma menina. Ela é muito raçuda, vai sem medo e é superconcentrada, então não percebe." Embora adore estar onde está, Nati sente falta de amigas no esporte: "Torço para que o futebol feminino possa crescer e ter o mesmo espaço que o masculino. Hoje, várias meninas são muito boas mas não têm oportunidade de mostrar". Para as colegas jogadoras, ela aconselha: "Sempre corram atrás dos seus sonhos. Com muito treino e muito esforço, vocês vão chegar aonde quiserem”.

Jovens talentos do futebol feminino (Foto: Arte: Erik França) — Foto: Glamour
Jovens talentos do futebol feminino (Foto: Arte: Erik França) — Foto: Glamour

Luiza Travassos, 15 anos

Convidar meninas para o universo do futebol é também o objetivo de Luiza Travassos com seu Futblog, que a fez ser considerada uma das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo em documentário realizado pela BBC London em 2017. Nele, estavam também personalidades como Angela Merkel, Michelle Bachelet e Marta Silva. Criada em 2014, a plataforma funcionava como um diário aberto no qual a adolescente compartilhava a rotina de atleta. "Descrevia, por exemplo, os detalhes dos meus jogos aos fins de semana. Era um blog como outro qualquer, mas minha mãe não deixava eu contar que era uma menina", revela.

Luiza só deixou de ser anônima dois anos mais tarde, quando fez uma viagem à Espanha e gravou vídeos para registrar as visitas que fazia aos estádios renomados de lá. "Aí a página bombou! Várias meninas começaram a me escrever", lembra. Foi dessa forma, aliás, que convenceu a mãe, Valéria Santos, sobre a importância de contar para os seguidores que era uma garota, sim, que estava por trás da blog.

O receio da mãe veio de más experiências: "Aos 7 anos, minha filha pediu para jogar futebol. Achei que fosse algo momentâneo, então não liguei. Mas ela insistiu", começa Valéria. O julgamento alheio, no entanto, não demorou para aparecer. Ao tentar fazer a matrícula da Luiza na escolinha da colégio, ouviu que mulheres não eram permitidas. "Primeiro, precisei driblar meus próprios medos internos para deixá-la jogar e, na hora em que aceitei que ela podia, sim, jogar como qualquer menino, a escola me disse que não. Fiz um discurso sobre preconceito, sobre o papel da escola na igualdade de gênero e escrevi pra direção da escola", conta. A permissão para que meninas participassem do time só veio no ano seguinte, quando, aos 8 anos de idade, Luiza enfim começou sua jornada na modalidade.

Atualmente,a adolescente joga no time de base sub-16 de fut campo do Fluminense e integra a equipe Society do PSG Academy Brasil, grupo com o qual viajará este mês a Paris para participar de dois campeonatos femininos. Na França, as meninas ficarão até o início da Copa do Mundo de Futebol Feminino, que acontece em junho. Animada, Luiza espera com ansiedade pelo evento: "Vai ser uma nova fase, com milhares de meninas descobrindo o futebol", comemora.

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