O que a coroa poderia ter feito diferente no caso de Kate Middleton?

Especialistas em relações públicas analisam os erros da família real ao tentar blindar a Princesa de Gales, após redes sociais e a mídia começarem a especular sobre seu "sumiço"

Por *Victoria Fielding e Saira Ali | The Conversation*


Anúncio de Kate Middleton sobre ter câncer Reprodução/Wikimedia Commons

A família real britânica é famosa por sua imagem midiática cuidadosamente elaborada. Por isso, foi uma surpresa vê-los perder o controle da narrativa diante do que agora sabemos ser uma séria crise de saúde que atingiu Catherine, Princesa de Gales (ou Kate Middleton, como é popularmente conhecida).

Está claro que a instituição quase milenar da monarquia e sua tradição de "nunca reclamar, nunca explicar" está sendo testada pelas redes sociais e seu poder de espalhar rumores e desinformação. A equipe de relações públicas do palácio subestimou o quão difícil é gerenciar relacionamentos com o público das redes sociais. Suas tentativas reativas de conter especulações transformaram o desafio de saúde de Catherine em um desastre de relações públicas.

As redes sociais, com suas regulamentações frouxas e ambiente mais livre, oferecem um fórum mais aberto para os usuários dizerem o que quiserem sobre os membros da realeza. Serviu como um terreno fértil para conspirações sobre Catherine, especialmente no TikTok. Essas teorias são tão absurdas quanto ridículas, desde Catherine sendo prisioneira no palácio até se esconder na casa de Taylor Swift em Londres.

O que deveria ter sido um simples anúncio a um público simpático sobre uma realeza popular tendo câncer se transformou em uma teia de aranha de teorias conspiratórias concorrentes em toda a mídia social. Como tudo deu tão terrivelmente errado?

Perdi o fio da meada, o que aconteceu?

Tudo estava bem com o Príncipe e a Princesa de Gales quando foram filmados indo à igreja no dia de Natal. Como de costume quando os membros da realeza estão em público, a cena estava perfeita, com todos sorrindo obedientemente para as câmeras em trajes "coordenados".

Card do Natal de 2023 da família real. — Foto: Reprodução/X/The Prince and Princess of Wales

Duas semanas depois, o Palácio de Kensington anunciou que Catherine havia passado por uma cirurgia abdominal planejada, com fontes do palácio informando à mídia que a cirurgia havia sido "bem-sucedida" e que ela precisaria de duas semanas para se recuperar.

Em 29 de janeiro, o palácio anunciou que Catherine havia retornado para casa para se recuperar. Ao contrário do Rei Charles quando divulgou a notícia de seu diagnóstico de câncer, em 5 de fevereiro, Catherine não foi fotografada saindo do hospital. Esse foi o primeiro erro de relações públicas. Ela havia aparecido do lado de fora do hospital logo após dar à luz seus três filhos, mas desta vez permaneceu fora dos olhos do público de forma incomum.

Quase um mês depois, quando o Príncipe William se retirou inesperadamente do memorial de seu padrinho citando "motivos pessoais", os usuários das redes sociais começaram a perguntar: "Onde está a Princesa Kate?".

Acostumado a um fluxo constante de conteúdo sobre a família real, o público, sem surpresa, questionava se havia mais sobre a cirurgia abdominal de Catherine do que lhes estava sendo dito. Em uma rara medida reativa, o palácio tentou aplacar as perguntas sobre o paradeiro de Catherine, divulgando um comunicado reiterando que ela não voltaria às suas obrigações públicas até a Páscoa.

Em 4 de março, a mídia TMZ, dos EUA, publicou uma foto dos paparazzi de Catherine dirigindo com sua mãe. O público das redes sociais questionou se realmente era Kate.

Durante a semana seguinte, as teorias da conspiração sobre a ausência de Catherine atingiram níveis frenéticos. Para mostrar que tudo estava bem, o Palácio de Kensington divulgou uma foto do Dia das Mães de Kate e seus filhos em suas contas de mídia social. Os usuários das redes sociais perceberam falhas aparentemente editadas e agências de notícias globais anunciaram "ordens de exclusão", afirmando que a imagem havia sido manipulada. No dia seguinte, Catherine pediu desculpas nas redes sociais por editar a foto.

Embora os membros da realeza tenham editado suas fotos por séculos, parece digitalmente ingênuo a equipe de relações públicas do palácio divulgar uma imagem tão obviamente editada em um ambiente de mídia social já cínico, criando material para mais teorias da conspiração.

Os veículos de notícias tradicionais então se juntaram aos usuários das redes sociais em fazer perguntas sobre a ausência de Catherine. Embora essa atenção da mídia não tenha legitimado teorias da conspiração selvagens, de certa forma as alimentou.

Dias depois, o TMZ publicou imagens de Catherine e William fazendo compras. Nesse ponto do caos midiático, muitos usuários das redes sociais afirmaram que era falso. Essa intensa especulação pública finalmente acabou em 23 de março, quando Catherine lançou um vídeo explicando sua ausência prolongada após a cirurgia abdominal ter sido causada pela descoberta de um câncer.

Durante uma crise, o público anseia por transparência, autenticidade, honestidade e tranquilidade. Esses elementos estavam ausentes nos comunicados cuidadosamente redigidos pela equipe de relações públicas da realeza, feitos diretamente para a mídia convencional, juntamente com postagens reativas e excessivamente elaboradas nas redes sociais.

Ao fornecer poucos detalhes, o palácio parecia acreditar que poderia controlar a percepção pública. Mas a imagem pública está cada vez mais difícil de controlar.

A espada de dois gumes das redes sociais

Após a morte da Princesa Diana em um acidente de carro perseguida por paparazzi, leis de privacidade e regulamentos de mídia proibiram as violações mais invasivas da privacidade da família real, especialmente para seus filhos, os príncipes William e Harry. No entanto, o apetite dos tabloides por acesso não controlado logo retornou assim que os príncipes se tornaram adultos.

Recentemente, Harry e sua esposa, Meghan, estiveram envolvidos em vários processos contra empresas de mídia por violações de privacidade, incluindo hacking de telefones.

A ascensão das redes sociais tem sido geralmente vista como uma ferramenta que dá aos membros da realeza mais controle sobre sua imagem através da curadoria de seu próprio conteúdo pessoal. Anteriormente, o fato de Kate ser a responsável por tirar fotos de seus filhos era visto como um sinal de autenticidade e simplicidade (na medida do possível para uma princesa).

No entanto, as redes sociais são tanto uma benção quanto uma maldição para o gerenciamento das reputações públicas. A perpetuação de fatos e teorias contestadas nas redes sociais após a ausência inexplicada da Princesa Catherine mostra o quão difícil é curar uma imagem controlada usando as redes sociais. A falta de informações verificadas na mídia convencional ajuda a alimentar as chamas especulativas.

Enquanto os especialistas em relações públicas acreditam que é compreensível e apropriado que Catherine e sua família tenham privacidade durante esse período, uma comunicação mais direta, oportuna e honesta teria ido evitado os rumores incessantes.

Uma vez que os rumores e conspirações ganharam impulso, o palácio talvez tenha pensado que quanto menos informações fossem fornecidas, melhor. No entanto, o silêncio durante uma crise apenas alimenta mais especulações, porque a falta de informações faz parecer que há algo a esconder.

O vídeo pessoal de Catherine anunciando seu diagnóstico de câncer ajudou a encerrar a frenesi nas redes sociais. Isso mostra que uma declaração simples e clara postada pelo Palácio de Kensington nas redes sociais semanas atrás provavelmente teria evitado o desastre de relações públicas e proporcionado a Catherine a privacidade que ela claramente precisa.

O palácio está sendo criticado por complicar uma situação que, em retrospecto, era relativamente simples. Muitos usuários de redes sociais também estão chateados por Catherine ter assumido a culpa publicamente pelo incidente de edição de fotos.

Qualquer organização que lida com a mídia para manter reputações positivas, incluindo a monarquia britânica, não tem escolha senão se adaptar a todos os tipos de mídia, incluindo as redes sociais. A prática de manter a calma e seguir em frente em meio à controvérsia e ao ciclo de fofocas de 24 horas não funciona na era de TikTok, X e YouTube.

Na ausência de informações confiáveis, as redes sociais farão o que fazem de melhor: pegar conversas online principalmente inofensivas e amplificá-las até se tornarem virais.

*Victoria Fielding é professora e Saira Ali é professora Sênior em Mídia, ambas da Universidade de Adelaide, na Austrália.

Este artigo foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation.

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