Entre 800 e 550 milhões de anos atrás, no Neoproterozoico, o supercontinente Gondwana incorporava a atual América do Sul, a África, Oriente Médio, Índia e Austrália. Um novo estudo que analisou diamantes das profundezas da Terra explica agora como este continente antigo se desenvolveu.
A pesquisa foi realizada por uma equipe de cientistas liderada por Suzette Timmerman, da Universidade de Berna, na Suíça. Publicada em 18 de outubro na revista Nature, a análise mostra que Gondwana era sustentado pelas rochas que continham diamantes.
As pedras preciosas superprofundas foram formadas entre 300 e 700 km abaixo da superfície da Terra. "Esses diamantes nos permitem compreender como os processos tectônicos em profundidade se relacionam com o ciclo dos supercontinentes", conta Steven Shirey, um dos autores do estudo, em comunicado.
Os pesquisadores tiveram que enviar diamantes superprofundos ao redor do mundo várias vezes para estudá-los usando alguns dos espectrômetros de massa e difratômetros de raios-X mais precisos disponíveis.
A equipe descobriu que, há cerca de 120 milhões de anos, Gondwana começou a se fragmentar. Então, 30 milhões de anos depois, os diamantes — e as inclusões presas dentro deles — foram trazidas para a superfície da Terra em erupções vulcânicas violentas.
"O estudo de amostras tão raras com uma variedade de técnicas de medição exigiu um grande trabalho em equipe", conta Timmerman. "Mas o que é ainda mais notável é como análises cuidadosas de quantidades tão pequenas de material podem lançar luz sobre a evolução dos maiores fragmentos continentais da Terra."
Raízes geológicas
Dentro dos diamantes superprofundos analisados, os pesquisadores encontraram inclusões de silicato e sulfeto. "A idade dessas inclusões fornece um registro de quando o manto flutuante foi adicionado a Gondwana a partir de baixo, atuando como uma estrutura de sustentação que cresceu o supercontinente", explica Shirey.
Tais inclusões trazem vestígios de rochas do manto terrestre que ajudaram a formar as "raízes do manto" (em inlgês, mantle keel). Essas formações geológicas atuam como a base da crosta continental e ficam a cerca de 40 a 25 km abaixo da superfície.
O material que forma essas "raízes do manto" engrossou, estabilizou-se e resfriou sob os blocos continentais para formar estruturas fortes e flutuantes que podem resistir às forças destrutivas da atividade tectônica da Terra.
"Ao revelar os processos geológicos que contribuíram para o crescimento de Gondwana, os cientistas podem compreender melhor as forças que moldaram a história da Terra e o fenômeno da estabilidade continental, que é fundamental para o eventual sucesso da vida em nosso planeta", conclui Michael Walter, um dos autores do estudo.