Dados da sonda Curiosity, da Nasa, sugerem que muitas das crateras em Marte podem ter sido, em algum momento, rios habitáveis. A conclusão foi apresentada em agosto na revista Geophysical Research Letters, mas só foi divulgada no último dia 23 de outubro pela Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA.
Uma dupla de pesquisadores do Departamento de Geociências da universidade, Benjamin T. Cardenas e Kaitlyn Stacey, usou modelos numéricos para simular de modo inédito a erosão em Marte ao longo de milênios.
Os pesquisadores treinaram um modelo de computador com uma combinação de dados de satélite, imagens de Curiosity e varreduras em 3D de camadas de rocha da Terra coletadas por empresas de petróleo sob o leito do Golfo do México.
Com isso, os cientistas descobriram que formações comuns de crateras marcianas são prováveis restos de leitos de rios. Essas estruturas são chamadas de "formações geológicas de bancos e narizes" (do inglês, bench-and-nose landforms).
![Detalhes do solo no afloramento de Mont Mercou em Marte — Foto: NASA/Caltech-JPL/MSSS](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/J8gV2cDKOqQDZUeMDjaB4dpEa-A=/0x0:1000x750/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/h/S/yfUr9oQQ2nQiwJjY99pQ/fig-1-mars-rivers.jpg)
Até agora, formações comuns de crateras em Marte nunca haviam sido associadas a depósitos de rios erodidos. Anteriormente, dados de satélite identificaram somente formações erodidas, chamadas de cristas fluviais, como possíveis candidatas para acumularem água.
Contudo, desta vez, os cientistas encontraram sinais de rios que não estão associados às cristas fluviais, mas sim às "formações geológicas de bancos e narizes". Os novos indícios foram descobertos na cratera marciana Gale.
Mas, segundo Cardenas, pode haver depósitos de rios não descobertos em outras partes do Planeta Vermelho. O pesquisador afirma que "uma seção ainda maior do registro sedimentar marciano pode ter sido formada por rios durante um período habitável da história de Marte."
A equipe simulou uma erosão semelhante à marciana usando varreduras em 3D de estratigrafia real registrada na Terra. O modelo revelou paisagens erosivas originando "formações geológicas de bancos e narizes" similares aos da cratera Gale.
"Nossa pesquisa indica que Marte poderia ter tido muito mais rios do que se acreditava anteriormente, o que certamente desenha uma visão mais otimista da vida antiga em Marte", afirma Cardenas, em comunicado. "Oferece uma visão de Marte onde a maior parte do planeta já teve as condições certas para a vida."