Rita Lobato: quem foi a médica brasileira homenageada pelo Google?

A Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), a mais antiga instituição de ensino superior do Brasil e uma das poucas existentes na época, começou a admitir mulheres em seus cursos em 1849. Isso foi uma exceção no cenário nacional, que só passou a permitir a matrícula de mulheres em cursos de graduação a partir de 1879. Mesmo sem impedimentos burocráticos, os preconceitos sociais da época travavam a participação feminina no mundo acadêmico.

Em 1883, Rita foi a primeira a quebrar essa barreira e realizar a sua matrícula, em um primeiro momento, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde seu irmão mais velho cursava Farmácia. Filha de Francisco Lobato Lopes, um grande comerciante e fazendeiro, e Rita Carolina Velho Lopes, a menina demonstrou interesse em seguir carreira desde pequena, quando falava à sua mãe que gostaria de ser igual ao médico de sua família, um italiano chamado doutor Romano.

Essa vontade foi impulsionada por seus pais, que acreditaram no sonho da filha. No mesmo ano de seu ingresso, a mãe de Rita faleceu aos 41 anos de hemorragia depois do seu 14º parto. A morte dela marcou profundamente a vida e a trajetória profissional de Rita e, no leito de morte da mãe, prometeu que ninguém morreria por cesárea em suas mãos.

Desavenças entre sua família e os professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro fizeram Rita se mudar para Salvador e se transferir para a Faculdade de Medicina da Bahia. Seu pai, sempre a apoiando, a acompanhava diariamente à faculdade, onde ficava sentado na praça em frente esperando o término das aulas. De acordo com relatos, esse ritual continuou até a sua formatura, em 10 de dezembro de 1887 – quando ela se tornou a primeira mulher brasileira e a segunda latino-americana a obter um diploma de medicina.

Rita completou a graduação de 6 anos em apenas 4. Sua tese de conclusão de curso recebeu o título de “Paralelo entre os Métodos Preconizados na Cesariana”, na qual dissertou sobre obstetrícia e os métodos clínicos do parto por cesária. Ela recebeu inúmeras críticas pela escolha do tema, já que a saúde feminina era negligenciada e considerada um assunto reservado na época. À frente de seu tempo, Rita então se especializou em ginecologia e obstetrícia.

Pouco tempo depois de se formar, a gaúcha se casou com o advogado Antônio Maria Amaro Freitas e retornou ao seu estado natal, onde começou a oferecer seus serviços em clínicas municipais. Porém, foi na medicina a domicílio que Rita encontrou sua vocação, atendendo gratuitamente mulheres de todas as classes sociais e fornecendo medicamentos para aqueles que precisavam. Após 40 anos de participação ativa na saúde de sua comunidade, ela se aposentou da carreira médica com quase 60 anos de idade.

A médica, no entanto, não parou por aí. Em paralelo com a medicina, Rita se tornou uma militante pelo sufrágio feminino e lutou pela igualdade de direitos, após se inspirar na bióloga e ativista Bertha Lutz. Em 1934, concorreu ao cargo de vereadora do município de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, pelo Partido Libertador – e ganhou. Em 21 de agosto do mesmo ano, foi empossada, se tornando a primeira mulher a ocupar esse cargo no estado.

Seu mandato foi interrompido com a implementação do Estado Novo em 1937, após o golpe de Getúlio Vargas que suspendeu as Câmaras Municipais, o Congresso Nacional e extinguiu os partidos políticos. Mesmo depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) que a fez perder parcialmente a visão e a audição, Rita não se afastou da vida política, continuando sua luta até o final da década de 1950. Ela faleceu aos 87 anos, em 6 de janeiro de 1954, após uma vida dedicada à medicina e à causa que abraçou.