Dois paleontólogos amadores foram responsáveis por achar quase 400 fósseis datados em 470 milhões de anos atrás, período conhecido como Ordoviciano Inferior. Dentre as descobertas estão conchas, fragmentos fisiológicos e tecidos moles, como sistemas digestivos a revestimentos cuticulares, de múltiplos grupos do reino animal, predominantemente preservados em óxidos de ferro.
A descoberta aconteceu na região de Montagne Noire, no sul da França, que naquele período se localizava próxima ao atual Polo Sul. Pesquisadores da Faculdade de Geociências e Meio Ambiente da Universidade de Lausanne (UNIL), responsáveis pelas primeiras descrições dos fósseis, ficaram surpresos pela boa preservação e a diversidade do ecossistema encontrado. Os cientistas nomearam o depósito como Biota de Cabrières.
Eric Monceret e Sylvie Monceret-Goujon, os amadores que realizaram a descoberta do sítio, mostraram entusiasmo perante o achado. "Estamos prospectando e procurando fósseis desde os vinte anos", diz Eric, em comunicado. "Quando nos deparamos com esta incrível biota, entendemos a importância da descoberta e passamos do espanto para a excitação", adiciona Sylvie.
Os registros preliminares mostraram uma alta biodiversidade de artrópodes (grupo que inclui milípedes e camarões) e cnidários (águas-vivas e corais), além de uma abundância de algas e esponjas — similar ao observado em comunidades polares atualmente.
De acordo com Farid Saleh, pesquisador na UNIL, essa variedade revela que a região serviu como uma espécie de refúgio climático para os animais durante o período Ordoviciano Inferior, que é conhecido por suas altas temperaturas. "Neste momento de intenso aquecimento global, os animais de fato estavam vivendo em refúgios de altas latitudes, escapando das temperaturas equatoriais extremas", diz o cientista.
Os resultados encontrados foram publicados nesta sexta-feira (9), na revista Nature Ecology & Evolution. Essa é a primeira publicação de um programa de pesquisa que tem como objetivo grandes escavações arqueológicas em busca de um olhar mais detalhado sobre o modo de vida de organismos pré-históricos.