Nenhuma outra espécie além do Homo sapiens comemora os seus aniversários. E isso é uma pedra no sapato dos cientistas, que precisam recorrer a técnicas avançadas para descobrir esse tipo de informação em animais. Mas o passar dos anos pode deixar marcas importantes em diferentes espécies. É o caso dos cangurus, por exemplo, cuja idade é detectável a partir de sua dentição. Bem, pelo menos é o que diz um novo estudo.
Um artigo publicado na revista Archives of Oral Biology por uma equipe de pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, indica ter encontrado provas de que é possível saber quantos anos tem um canguru a partir da análise de seus dentes. Mais do que isso, o estudo do material também revela o sexo do espécime – o que pode ser particularmente útil para o estudo arqueológico de fósseis.
A maioria dos marsupiais da Oceania são membros de uma ordem do reino animal conhecida como Diprotodontia, que reúne espécies que possuem dentes incisivos grandes e retos na mandíbula inferior. Entram aqui cangurus, wallabies, coalas, vombates e gambás, por exemplo.
Ao verificar que o crescimento dos dentes incisivos em diprotodontes acontece durante toda a vida, o grupo percebeu que esse crescimento contínuo poderia ser usado como um fator para a identificação da idade. Assim como as árvores têm anéis que ilustram o seu crescimento, os dentes detêm linhas que se formam à medida que os diferentes tecidos duros (esmalte, dentina e cemento) são adicionados ao longo dos anos.
“Observamos as linhas de crescimento nos dentes incisivos dos cangurus para ver se também havia um registro de idade. Acontece que linhas anuais podem ser encontradas em duas regiões diferentes dos dentes”, explicam os autores do estudo, William Parker e Alistair Evans, em artigo ao portal The Conversation.
Para além das linhas de crescimento, outra maneira de se identificar a idade de um canguru por meio de seus dentes é medindo o movimento de seus molares. Como comer grama pode desgastar rapidamente os dentes, os cangurus têm uma adaptação especial em que os molares avançam na mandíbula ao longo do tempo.
“Dentes velhos e desgastados são empurrados para a frente e caem, para dar lugar a dentes novos, capazes de mastigar bem melhor. É um pouco como uma correia transportadora de dentes”, descrevem. “Esse processo continua até que os cangurus mais velhos tenham apenas alguns dentes restantes”.
Por isso, medir a velocidade com que ocorre a "progressão molar" informa com precisão à idade dos indivíduos. Essa técnica já havia sido registrada em outras espécies, como os elefantes, cuja dentição se move de maneira muito semelhante a dos cangurus.
Novas portas abertas para a arqueologia
Informações como esta são importantes para a compreensão da ecologia animal, pois apontam diferentes comportamentos para indivíduos da mesma espécie. Isso pode trazer insights sobre hábitos alimentares e padrões de evolução.
Atualmente, existem quatro espécies de canguru vivas. Mas, há milhares de anos, estima-se que a Austrália era palco de uma grande diversidade de cangurus gigantes. Especula-se que alguns deles provavelmente corriam em vez de pular e pesavam cerca de 250kg. Hoje, o maior exemplar vivo, o canguru-vermelho (Macropus rufus), pode chegar a apenas 90kg.
“Nossos novos métodos ajudarão os cientistas a aprenderem mais sobre a vida desses gigantes extintos. Pode ser muito difícil determinar a idade e sexo de um fóssil, por isso esperamos que as técnicas de desenvolvemos possibilitem que novas informações cheguem à mesa”, concluem os pesquisadores.