• Redação Galileu
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Âncora no naufrágio de um navio baleeiro em 1836 no Golfo do México (Foto: NOAA Ocean Exploration)

Âncora do navio baleeiro naufragado em 1836 no Golfo do México (Foto: NOAA Ocean Exploration)

Um navio baleeiro naufragado em 1836 foi descoberto no Golfo do México, segundo anunciou nesta quarta-feira (23) a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos. Chamada Industry, a embarcação de 207 anos e 19,5 metros data de um período pouco conhecido da história norte-americana, quando descendentes de africanos escravizados e nativos americanos faziam parte das tripulações da indústria marítima.

Don Graves, vice-secretário de Comércio dos EUA, comenta que a descoberta é um lembrete importante das vastas contribuições que os dois grupos tiveram para os EUA. "Este navio baleeiro do século 19 nos ajudará a aprender sobre a vida dos marinheiros negros e nativos americanos e suas comunidades, bem como os imensos desafios que enfrentaram em terra e no mar”, afirma Graves, em comunicado.

Fogão de ferro com duas panelas usadas para transformar gordura de baleia em óleo (Foto: NOAA Ocean Exploration)

Fogão de ferro com duas panelas usadas para transformar gordura de baleia em óleo (Foto: NOAA Ocean Exploration)

O achado do barco ocorreu graças a uma equipe de especialistas que embarcou no navio NOAA Ship Okeanos Explorer para controlar um veículo de operação remota em 25 de fevereiro. O time contou com uma orientação fornecida via satélite por cientistas parceiros em terra.

A jornada ocorreu em um local descoberto por uma empresa de energia em 2011 e visualizado por um outro veículo autônomo em 2017. Os pesquisadores acreditam ter confirmado que por lá naufragou o navio Industry.

Construído em 1815 em Westport, no estado norte-americano de Massachusetts, o barco foi utilizado para caça de baleias no Caribe e no Golfo do México por 20 anos. Porém, acabou afundando durante uma forte tempestade que quebrou seus dois mastros e abriu seu casco em 26 de maio de 1836.

Foto tirada em 25 de fevereiro de 2022 mostra a área do naufrágio da embarcação  (Foto: Bureau of Ocean Energy Management)

Foto tirada em 25 de fevereiro de 2022 mostra a área do naufrágio da embarcação (Foto: Bureau of Ocean Energy Management)

Até então, o que ocorreu com a tripulação era um mistério, mas Robin Winters, bibliotecária da Westport Free Public Library, desvendou a questão ao encontrar um artigo de 17 de junho daquele mesmo ano. O texto publicado no jornal Nantucket Inquirer and Mirror dizia que os marinheiros foram salvos por outro navio baleeiro de Westport.

"Foi uma sorte para os homens a bordo", conta James Delgado, líder da investigação que trabalhou em colaboração com Winters e vários outros historiadores. "Se os tripulantes negros tivessem tentado desembarcar, eles teriam sido presos sob as leis locais. E se eles não pudessem pagar por seu sustento enquanto estavam na prisão, teriam sido vendidos como escravos."

Localização do naufrágio do barco baleeiro que afundou durante tempestade em 1836 (Foto: NOAA Ocean Exploration)

Localização do naufrágio do barco baleeiro que afundou durante tempestade em 1836 (Foto: NOAA Ocean Exploration)

A equipe da NOAA soube que se tratava do navio Industry por meio de sua localização e também ao confirmar suas medidas com as descritas em documentos históricos. No naufrágio, eles encontraram um fogão de ferro com duas chaleiras usadas para transformar gordura de baleia em óleo.

Mas quase não havia objetos no barco naufragado. “O fato de haver tão poucos artefatos a bordo foi outra grande evidência de que era o Industry", explica o arqueólogo marinho Scott Sorset. "Sabíamos que [o navio] foi resgatado antes de afundar."

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Além disso, os especialistas acreditam que a embarcação estivesse ligada ao empresário Paul Cuffe, cujo pai era um escravo liberto e a mãe, uma índia Wampanoag. Seu filho, William, era um navegador do Industry e seu genro, o oficial Pardon Cook, foi o negro que fez mais viagens baleeiras da história norte-americana.

"Encontrar Industry é uma oportunidade incrível de contar uma história muito mais completa das realizações de Paul Cuffe como capitão baleeiro, empresário e ativista social empenhado em encontrar uma maneira de acabar com o tráfico de escravos", conta Lee Blake, presidente da New Bedford Historical Society, que atua para preservar a herança cultural afro-americana.