• Redação Galileu
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Resina composta adequada para fazer pás de turbinas eólicas pode ser reciclada  (Foto: Divulgação/John Dorgan)

Resina composta adequada para fazer pás de turbinas eólicas pode ser reciclada (Foto: Divulgação/John Dorgan)

Apesar da energia eólica ser considerada uma das formas sustentáveis mais populares de se produzir energia, a maneira como as pás das turbinas são descartadas atualmente contraria a iniciativa proposta por essa atividade ecológica. Quando chega a hora de substituir as enormes lâminas das hélices, muitas acabam parando em aterros sanitários.

Pensando nisso, uma equipe de cientistas da Universidade do Estado de Michigan, nos Estados Unidos, desenvolveu uma nova resina para fabricação de pás, capaz de ser reutilizada quando o objeto em questão atingir sua vida útil ou quando for trocada por algum outro motivo. Os resultados deste trabalho foram apresentados em uma reunião da Sociedade Americana da Química (ACS) nesta terça-feira (23).

Segundo os pesquisadores, a matriz dessa nova resina pode ser utilizada como base para fabricação de outros materiais como: bancadas, lanternas traseiras de carros, fraldas e até balas de goma.

A nova tecnologia combina fibras de vidrocom polímeros sintéticos e derivados de plantas. A mistura é chamada de resina composta, e seu diferencial está no fato de que ela pode ser reciclada muito mais facilmente do que a fibra de vidro pura, que hoje é a base para produção das lâminas eólicas.

“A beleza do nosso produto é que, no final de seu ciclo de uso, podemos dissolvê-lo, e isso o libera de qualquer matriz em que esteja para que possa ser usado repetidamente em um loop infinito”, disse John Dorgan, engenheiro químico da Universidade do Estado de Michigan e principal pesquisador do estudo, em comunicado.

Lâminas gigantes

A maior dificuldade de lidar com a fibra de vidro é que ela é um material muito difícil de cortar, transportar e reutilizar em outras coisas. Além disso, de acordo com o Conselho Global de Energia Eólica, em 2020, houve um crescimento de 53% em novas instalações de energia eólica em todo o mundo a partir de 2019, o que também aumentou o descarte de material.

“Pás maiores de turbinas eólicas são mais eficientes, então as empresas continuam aumentando os tamanhos”, diz Dorgan. “Muitas vezes, os parques eólicos substituem as pás das turbinas antes do fim da vida útil, porque os parques podem gerar mais eletricidade com pás maiores”, completa.

O engenheiro destaca que, com esta nova iniciativa, é possível reciclar lâminas antigas para produção de novas e, devido a flexibilidade molecular do material, também podem ser fabricados objetos como caixas de computador, alto falantes, liquidificadores, entre outros.

“Estamos realmente entrando em um  tipo bem conhecido de commodity material. Permanecemos confiantes que esses materiais podem ser vendidos em mercados secundários”, comemora Dorgan.

Transformando turbinas

Depois de cumprir sua função como turbina, a nova resina utilizada na fabricação pode ser separada em várias partes. Com isso, os cientistas conseguiram realizar diversas modificações químicas materiais. Digerindo os componentes — principalmente o polímero poliácido láctico (PLA) — e adicionando ou retirando outras substâncias, o material se transforma. Os pesquisadores também podem triturar o material recuperado e misturá-lo com outras resinas plásticas para moldagem por injeção.

Quando a resina é diluída em uma solução alcalina, por exemplo, é obtida uma substância acrílica que pode ser usada na fabricação de janelas e lanternas traseiras de carros. Ao aumentar a temperatura durante a dissolução, os pesquisadores conseguiram produzir um polímero superabsorvente, frequentemente usado para fazer fraldas.

No caso das balas de goma, a "digestão alcalina" foi purificada por destilação, possibilitando a produção do lactato de potássio de grau alimentar, comum em bebidas esportivas como Gatorade. De acordo com o pesquisador, não há perigo em consumir esses doces.

“Um átomo de carbono derivado de uma planta, como milho ou grama, não é diferente de um átomo de carbono que veio de um combustível fóssil”, explica Dorgan. “Tudo isso faz parte do ciclo global do carbono e mostramos que podemos ir da biomassa no campo para materiais plásticos duráveis ​​e de volta aos alimentos”.

Até o momento, a equipe fabricou apenas um protótipo de sua invenção. Para ir do protótipo ao produto final, existem algumas limitações. Dorgan informa que não há bioplástico suficiente para satisfazer esse mercado. É necessário um volume de produção maior para começar a fazer turbinas eólicas com esses materiais.