• Redação Galileu
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Nathan Copeland, 36 anos, convive com uma interface cérebro-computador há mais de sete anos e três meses (Foto: Universidade de Pittsburgh )

Nathan Copeland, 36 anos, convive com uma interface cérebro-computador há mais de sete anos e três meses (Foto: Universidade de Pittsburgh )

Nathan Copeland, de 36 anos, consegue mexer seu braço robótico, controlar um computador e até mesmo jogar videogame apenas com seus pensamentos. O norte-americano convive com um implante cerebral há mais de sete anos — e acaba de quebrar o recorde como a pessoa que tem há mais tempo essa tecnologia.






A marca foi completada nesta quarta-feira (17), quando Copeland somou sete anos e três meses com sua primeira matriz de eletrodos, segundo o site Wired. O minúsculo implante, do tamanho de uma borracha de lápis, está em seu córtex motor, traduzindo seus impulsos neurais em comandos para controlar dispositivos externos.

Acidente aos 18 anos

Em 2004, Copeland ficou paralisado do peito para baixo, incapaz de se mover ou sentir seus membros. De acordo com comunicado da Universidade de Pittsburg publicado em 2016, ele estava dirigindo à noite em tempo chuvoso quando sofreu um acidente que quebrou seu pescoço e machucou sua medula espinhal, deixando-o tetraplégico.

Um acidente de carro em 2004 deixou Nathan Copeland paralisado do peito para baixo (Foto: Universidade de Pittsburgh )

Um acidente de carro em 2004 deixou Nathan Copeland paralisado do peito para baixo (Foto: Universidade de Pittsburgh )

Na época com apenas 18 anos de idade, o rapaz que cursava o primeiro ano da faculdade de nanofabricação passou a precisar de ajuda em todas as atividades diárias. Apesar de tentar continuar seus estudos, seus problemas de saúde o obrigaram a adiar o curso.

Cirurgia experimental

Mas Copeland não desistiu: ele se inscreveu em um registro de pacientes dispostos a participar de ensaios clínicos e passou por testes de triagem. Juntou-se em 2014 a um estudo na Universidade de Pittsburgh para pessoas com grandes lesões na medula espinhal, sendo submetido a uma cirurgia na qual microeletrodos foram implantados em seu cérebro.

Antes do procedimento, técnicas de imagem identificaram as regiões cerebrais exatas que correspondiam às sensações em cada um de seus dedos e na palma da mão. A primeira matriz foi implantada em 2015 e depois Copeland ganhou mais três matrizes, dando a ele um total de quatro implantes ativos.






Nem mesmo os médicos e cientistas sabiam ao certo por quanto tempo a interface funcionaria, mas o jovem não hesitou em aceitar a oportunidade. “Eles disseram: 'Ah, provavelmente vai durar cinco anos.' E esses cinco anos foram baseados em dados de macacos, porque nenhum humano jamais havia feito isso”, contou ele.

Chamadas de matrizes de Utah, os aparelhos que formam o implante são de silício duro e se parecem um pouco com a parte eriçada de uma escova de cabelo. O sistema, chamado BrainGate, envolve, além das matrizes, um cabo que vai de um pedestal na cabeça a um dispositivo externo que amplifica sinais neurais. Um computador executa um software para decodificar esses sinais.

Recorde mundial

Antes de Copeland, o detentor do recorde de mais tempo com um implante cerebral era o também estadunidense Ian Burkhart, que, segundo seu site oficial, ficou tetraplégico durante um acidente de mergulho em 2010. Ele removeu seu dispositivo em 2021, quando o estudo do qual participava terminou.

Até agora, sabe-se que a matriz de Utah durou até 10 anos em macacos. Em Copeland, suas matrizes ainda estão funcionando, mas não tão bem quanto no primeiro ano após a implantação, de acordo com Robert Gaunt, membro do grupo responsável pelo procedimento. “O corpo é um lugar muito difícil de colocar eletrônicos e sistemas de engenharia”, afirma.

Em 2004, quando tinha 18 anos, Nathan sofreu um acidente de carro que quebrou seu pescoço e machucou sua medula espinhal (Foto: Universidade de Pittsburgh )

Em 2004, quando tinha 18 anos, Nathan sofreu um acidente de carro que quebrou seu pescoço e machucou sua medula espinhal (Foto: Universidade de Pittsburgh )

As matrizes implantadas podem provocar uma resposta imune no tecido neural que envolve os eletrodos, sondas pontiagudas que grudam no cérebro. Estudos mostraram que essa inflamação pode levar à diminuição da qualidade do sinal. Além disso, um tecido cicatricial pode se formar ao redor dos implantes no cérebro, o que também afeta a capacidade de captar sinais de neurônios próximos.

A pesquisa da qual Copeland faz parte conta com mais de 30 participantes. Alguns deles tiveram suas matrizes de Utah retiradas e substituídas, mas essas cirurgias apresentam risco de infecção ou sangramento local. Gaunt diz que os cirurgiões provavelmente não colocariam um novo implante no mesmo lugar de um antigo, mas certificar-se de que uma substituição ocorra na área cert é importante para não prejudicar o funcionamento do implante. 

Por enquanto, Copeland e outros participantes do estudo precisam se conectar ao sistema por meio de seus pedestais de cabeça. Para Copeland, isso é um aborrecimento leve em troca de poder fazer as coisas que consegue com a interface cérebro-computador, promissora por ainda funcionar sem efeito colateral ou complicação.

Dadas as incertezas, Copeland sabe que seu implante pode parar de funcionar algum dia, mas ele tenta não se preocupar. “Eu sou supertranquilo com a maioria das coisas. Apenas vou com o fluxo”, diz ele. “Em cinco ou 10 anos, se houver algo que tenha melhorias significativas, eu simplesmente faria a cirurgia novamente”.