Sintomas gastrointestinais podem atrapalhar o andamento do sono, especialmente no primeiro trimestre da gravidez. “O que está associado ao aumento do hormônio da gravidez, o Beta HCG, do estrogênio e da progesterona, que relaxam o esfíncter do esôfago e do estômago. Isso causa certa lentidão no trânsito do trato gastrointestinal, favorecendo azia, refluxo e até náuseas e vômitos”, explica a ginecologista e obstetra Joeline Cerqueira, especialista em pré-natal e membro da Comissão de Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
O indicado, portanto, é manter uma alimentação leve antes de dormir. A obstetra da Febrasgo afirma que alimentos ácidos ajudam na digestão para algumas gestantes. Ah, e um truque antigo: comer bolacha de água e sal assim que acordar realmente ajuda na náusea que surge por conta do estômago vazio de manhã. Tente comer antes mesmo de escovar os dentes, OK?
Ronco
Nunca roncou? É possível que surja na gestação, sim. Embora as razões sejam variadas, o mais comum é que tenha relação com o ganho de peso, o aumento do volume abdominal, as dificuldades respiratórias por conta da pressão no diafragma e a posição que o corpo fica quando adormece. Outro possível motivo seria por causa do inchaço nas vias aéreas superiores, edema na faringe e alterações hormonais.
“Mas é preciso ficar atenta para ver se não há outro problema associado. Às vezes, a mulher não apresenta distúrbio de sono prévio, mas tem asma, por exemplo, que, durante a gestação, com todas as mudanças, pode reaparecer ou se agravar”, alerta a enfermeira Natália. “Além disso, o ronco pode ser sintoma de distúrbios, como a apneia, que exige acompanhamento”, acrescenta.
A obstetra pontua que, embora o ronco não traga nenhum prejuízo ao bebê e, geralmente, desapareça após a gestação, manter o ganho de peso adequado, fazer atividade física e ter uma alimentação saudável também auxiliam indiretamente a evitar o problema.
Falta de posição
Essa é a queixa mais comum quando a barriga cresce, pois fica difícil encontrar um jeito confortável na cama. Pior ainda para quem dormia de bruços… Embora alguns médicos indiquem dormir do lado esquerdo, para descomprimir a veia cava e melhorar a circulação de sangue para pernas e placenta, não existe um lado certo de verdade. O ideal é procurar a posição em que a mãe se sinta o melhor possível. Nessa hora, travesseiros ou almofadas específicas para gestante ajudam a amparar o corpo, aliviando possíveis dores nas costas e nas pernas.
Se o desconforto também é respiratório, vale a pena elevar a cabeceira da cama, o que ajuda a amenizar a falta de ar causada pela pressão que o útero exerce sobre o diafragma (músculo responsável pela respiração).
Temperatura corporal
Eis outro obstáculo capaz de incomodar o sono da gestante até mesmo no inverno: o calor. A ginecologista e obstetra Joeline Cerqueira explica o motivo: “A progesterona é um hormônio que aumenta na gravidez e ele faz subir a temperatura corporal. Não é um calor exagerado, mas de um grau, no máximo. Algumas mulheres sentem mais, outras menos”. Se for o seu caso, alguns cuidados são válidos para que o calor não a desperte na madrugada. Prefira pijamas bem frescos, evite banhos muito quentes e use o ventilador ou o ar-condicionado para manter o ambiente agradável.
Frequência do xixi
Não é incomum despertar três ou quatro vezes para ir ao banheiro durante a noite. O difícil é voltar a dormir depois... Isso acontece porque há um aumento da pressão do útero sobre a bexiga, além de o bebê já estar maior e mais encaixado. Sem contar que o volume sanguíneo eleva na gravidez. “Chega a ser 50% maior do que o estado pré-gestacional, então, se tem mais sangue, vai filtrar mais nos rins e, com isso, produzir mais urina”, diz Joeline. É fundamental se manter bem hidratada ao longo do dia. No entanto, para evitar tanto xixi na madrugada, vale diminuir a ingestão de líquidos antes de deitar.
Questões emocionais
Além dos sintomas físicos, a gestação também é um período marcado por muita expectativa, preocupação e ansiedade. Embora alguns problemas sejam passageiros, é preciso olhar com atenção para questões emocionais preexistentes, como depressão e crises de ansiedade, ou mesmo persistentes, como angústias que impedem de dormir por várias noites seguidas.
Insônia
Muitas vezes, os problemas emocionais podem evoluir para uma insônia, que é um distúrbio no qual há dificuldade para adormecer ou manter o sono – podendo ser aguda (curto prazo) ou crônica. Segundo dados da Sleep Foundation, nos EUA, 50% das grávidas sofrem com o problema.
E foi justamente o que aconteceu com Andressa Vasquez, 44 anos, mãe de Caio, 12 anos, e Giovanna, 10 meses. No terceiro trimestre da gestação da filha, a gerente de comércio exterior passou noites em claro. “Sempre tive um sono agitado, que piorava quando eu vivia uma situação de ansiedade, como um emprego novo ou provas. Na gestação, estava com uma casa em reforma, o aluguel para vencer e o bebê prestes a nascer… Um caos total!”, conta ela, lembrando que costumava despertar todos as noites às 3h da manhã. Com acompanhamento médico, Andressa recorreu a sessões de acupuntura, ajustou a dosagem de melatonina que já tomava antes da gestação e conseguiu voltar a dormir na reta final da gravidez. O sonho de todas as gestantes, não é mesmo?