A Febre do Oropouche tem causado preocupação com o aumento dos casos em diferentes regiões do Brasil. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, atualizados até a última terça-feira (21), o país já contabiliza 5.530 registros da doença, sendo 3.548 no Amazonas e 1.746 em Rondônia. Os demais casos foram registrados ou estão em investigação na Bahia, Acre, Espírito Santo, Pará, Rio de Janeiro, Piauí, Roraima, Santa Catarina, Amapá, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso e Paraná.
“Há algumas semanas está acontecendo um espalhamento para outras regiões do Brasil. A gente não está só naquela concentração na Região Norte, que foi o primeiro momento. A gente acreditou que ia ficar concentrado, mas vimos que houve um espalhamento”, alerta a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel.
“Introduzimos a vigilância dessa nova doença, fizemos a construção das orientações para observação clínica. A gente não tinha nenhum manual ou protocolo para febre Oropouche. Distribuímos os testes para toda a rede Lacen [laboratórios centrais] e, por isso, estamos conseguindo captar, fazer o diagnóstico correto para essa doença. Estamos monitorando de perto e entendendo melhor essa nova arbovirose”, esclarece.
A maioria dos casos de febre Oropouche no país foi diagnosticada em pessoas com idade entre 20 e 29 anos. As demais faixas etárias mais afetadas pela doença são 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 10 a 19 anos. Também houve alguns casos registrados em crianças com menos de 10 anos, mas, até agora, são a minoria.
"Não há uma explicação para esse aumento. Na verdade, sempre ocorreram casos de Febre do Oropouche na região Amazônica e é claro que os deslocamentos da população de mosquitos que transmitem a doença faz com que nós tenhamos casos também outros locais. A gente provavelmente vai achar muitos desses outros vírus circulando por aqui em quadros que parecem dengue", afirma Renato Kfouri, pediatra neonatologista e infectologista, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e colunista da CRESCER.
Como ocorre a transmissão?
A Febre do Oropouche é causada pelo Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), um vírus transmitido principalmente por mosquitos (arbovírus). Depois de picar uma pessoa ou animal infectado, o vírus permanece no sangue do mosquito por alguns dias. Quando esse mosquito pica outra pessoa saudável, pode transmitir o vírus para ela.
De acordo com informações do Ministério da Saúde, existem dois tipos de ciclos de transmissão da doença:
- Ciclo Silvestre: Nesse ciclo, os animais como bichos-preguiça e macacos são os hospedeiros do vírus. Alguns tipos de mosquitos, como o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus, também podem carregar o vírus. O mosquito Culicoides paraenses, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, é considerado o principal transmissor nesse ciclo.
- Ciclo Urbano: Nesse ciclo, os humanos são os principais hospedeiros do vírus. O mosquito Culicoides paraenses também é o vetor principal. O mosquito Culex quinquefasciatus, comumente encontrado em ambientes urbanos, pode ocasionalmente transmitir o vírus também.
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Sintomas da Febre do Oropouche
A febre do Oropouche apresenta sintomas parecidos com a dengue. "O período de incubação do vírus é de três a cinco dias depois da picada do mosquito", afirma o infectologista. Veja os sinais mais comuns, de acordo com Kfouri:
- Febre
- Dor no corpo
- Manchas na pele
- Dor de cabeça
- Náusea
- Diarreia
"A princípio, a gravidade da Febre do Oropouche é menor que a da dengue. São pouquíssimos os casos de complicações, elas ocorrem especialmente em imunocomprometidos", ressalta Renato Kfouri. Em casos muito raros, é possível que a pessoa infectada tenha complicações neurológicas.
Como é feito o diagnóstico?
Como a Febre do Oropouche apresenta sintomas muito parecidos com os de outras viroses, a única forma de ter certeza do diagnóstico é através de um exame laboratorial. "Existe teste específico para diagnosticar a doença: o PCR", afirma o infectologista. Ele é feito através da análise de amostra de secreção respiratória. O vírus também pode ser detectado pelo sangue, pelo exame de sorologia, de acordo com Kfouri.
Existe tratamento?
"Assim como outras arboviroses, como dengue, zika, chikungunya, não existe um tratamento específico para a Febre do Oropouche", explica Renato Kfouri. Os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico. "Em geral, a cura se dá em cinco a sete dias. Primeiro se dá a fase aguda e depois melhora", acrescenta.
Como prevenir?
A prevenção da Febre do Oropouche é a mesma para qualquer doença transmitida por mosquitos. Veja as dicas de Kfouri e do Ministério da Saúde:
- Evitar áreas onde há muitos mosquitos, se possível.
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele.
- Usar mosquiteiro.
- Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas.
- Se houver casos confirmados na sua região, siga as orientações das autoridades de saúde local para reduzir o risco de transmissão, como medidas específicas de controle de mosquitos.
"Se tiver qualquer sintoma, é importante procurar atendimento médico, especialmente se esteve em zonas endêmicas do vírus, como a Amazônia", destaca o infectologista.