Saúde
 


Em outubro de 2022, a personal trainer Deliane Silva Reis (@dani.reiis.massoterapeuta), 37 anos, de Taguatinga Norte (DF), recebeu um dos diagnósticos mais difíceis que uma mãe pode receber — o caçula estava com câncer em estágio avançado. Samuel, com apenas 2 anos e onze meses, ainda era muito pequeno para entender tudo o que estava acontecendo, mas enfrentou a longa batalha. Foram mais de 270 sessões de quimioterapia.

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E quando a família acreditou que o pesadelo tinha chegado ao fim, o câncer sofreu uma mutação e a esperança, que era o transplante, foi descartada. "Fizemos tudo o que podia ser feito, mas, infelizmente nada trouxe a cura. Eu entendi que amar, naquele momento, seria fazer a vontade dele de não sentir mais dor", conta a mãe, sobre a decisão de interromper o tratamento.

Pouco tempo depois, em 15 de maio, o pequeno partiu. Em um depoimento emocionante à CRESCER, a mãe relembrou os primeiros sintomas, falou sobre a luta contra a doença e como foram os últimos momentos com o filho. "A gente tentou fazer com que seus últimos dias fossem sem dor. Me conforta saber que ele parou de sentir dor. É preciso deixar ir por amor", disse.

Samuel partiu aos 4 anos — Foto: Reprodução/Instagram
Samuel partiu aos 4 anos — Foto: Reprodução/Instagram

"Um dia, Samuel acordou durante a madrugada, foi até o meu quarto e disse: 'Mamãe, você tem que me levar no médico, porque eu vou morar com o Papai do Céu'. Eu não levei a serio e disse para ele voltar a dormir. Pela manhã, encontramos com amigas e ele disse: 'Titia, eu vou morar com o Papai do Céu.' Duas semanas depois, notei que ele estava mais apático, triste, não queria brincar. Levei ao pediatra, fez exames e não mostraram nada. Mas meu coração de mãe dizia que não estava tudo bem. Levei a outro pediatra, e nada. No terceiro, a mesma coisa! Todos diziam que era apenas uma virose.

Ele reclamava de muitas dores nas pernas — eu fazia massagem, mas não passava. A barriga estava mais dilatada, ele suava bastante, ficava cansado muito rápido, começou a roncar, perdeu o apetite e, um dia, tossiu e sangrou. Além disso, apareceram manchinhas roxas pelo corpo. Decidi, então, fazer um raio x por conta própria e foi quando vimos que o pulmão dele já estava todo tomado. Samuel tinha uma massa tumoral muito grande.

Quando o médico mostrou o exame e disse que era grave, eu pedi licença, entrei no banheiro, me joelhei no chão e falei para Deus que me carregasse no colo dele, que me ajudasse, pois o chão se abriu sob os meus pés, eu não tinha mais chão para pisar. Naquele dia, eu entendi que não tinha chão para pisar, mas descobri que tinha asas pra voar e carregar meu Samuel. Do hospital, ele foi levado de UTI móvel para Brasília, pois o quadro era grave.

Samuel foi internado — Foto: Reprodução/Instagram
Samuel foi internado — Foto: Reprodução/Instagram

O diagnóstico

Samuel foi diagnosticado com leucemia linfoide aguda (LLA) do tipo T, o subtipo menos comum. Ele fez todos os procolos — foram mais de 270 sessões de quimioterapia e muitos medicamentos. Mas nunca deixei meu filho saber o que era câncer; ele sabia apenas que estava doente e precisava passar pelo processo. E a gente sempre levava tudo na brincadeira — eu falava que as medicações e as transfusões de sangue eram 'superpoderes de heróis'. Nos divertíamos no hospital, fazendo da desgraça uma grande graça.

Samuel fez todos os protocolos de tratamento — Foto: Reprodução/Instagram
Samuel fez todos os protocolos de tratamento — Foto: Reprodução/Instagram

Foi 1 ano e oito meses de tratamento. Ele fez todos os protocolos e, até então, estava tudo certo. Fazia sete meses que ele estava com a medula 'zerada', limpinha, durante o tratamento. Até que, em fevereiro, ele acordou na madrugada mais uma vez, foi até o meu quarto, falou que não estava bem e que eu precisava levá-lo ao hospital. Fomos imediatamente. Chegando lá, Samuel foi levado com urgência para a UTI, pois já estava em um quadro grave. Com Samuel, era tudo muito rápido, quando ele falava algo, já tinha que correr. Essa foi a primeira vez que ele foi entubado. Quando olhei para ele de novo, já notei que os glândulas estavam inchadas novamente. Ali, soube que se tratava de uma recidiva [quando o câncer retorna], sabia que a doença havia voltado.

Os médicos, então, nos procuraram e disseram: 'Olha, mãe, Samuel tinha LLA do tipo T, ela não apareceu nos exames porque sofreu uma mutação para uma leucemia mieloide aguda (LMA), o tipo mais comum e mais agressivo da doença. Então, foi iniciado um novo protocolo para esse tratamento, diferente do primeiro — e ele fez por completo. Mas, infelizmente, a medula dele não zerava, e não zerou mais. Com isso, as nossas esperanças de fazer o transplante de medula óssea (TMO) desapareceram. Foi quando veio o baque. Eu perguntei o que poderia ser feito e eles falaram que poderiam fazer outros tratamentos quimioterápicos, mas isso não o curaria mais, só daria mais algum tempo de vida à ele.

Encontro com  o irmão — Foto: Reprodução/Instagram
Encontro com o irmão — Foto: Reprodução/Instagram

Decidi, então, ouvir outros médicos — paguei consultas particulares, inclusive em outros estados. Fomos para São Paulo, Goiânia, Rio de Janeiro... Até que a fala de uma médica me chamou muita atenção. Ela disse: 'O Samuel, com essas condições que mostram os exames, passar por mais um protocolo, é muito sofrimento'. Nesse momento, a fala da médica confirmou o pedido tão doloroso que ele tinha feito pra gente.

Dando 'vida' aos dias

Quando o estado de saúde dele ficou mais grave, ele precisou fazer uma cirurgia de urgência e colocou uma bolsa de colostomia. Sabíamos que ele poderia não resistir ao procedimento, mas ele foi forte. Foram mais de 30 dias internado e, todos os dias, Samuel pedia para a gente orar pelos amigos dele no hospital; ele estava sempre preocupado com as outras crianças, mas nunca com ele. Um dia, ele me chamou pra orar, e eu comecei dizendo: 'Papai do Céu abençoa e cura o Samuel...' E ele parou, me olhou e disse: 'Mamãe, para! Eu já estou curado. Jesus já me curou.' Eu perguntei: 'Como, filho?', e ele disse: 'Jesus já me curou, vamos orar para ele curar você', e colocou a mãozinha no meu peito. Eu entendi, naquele momento, que era o meu coração que precisava de cura, porque eu não estava pronta para viver e continuar sem o meu filho.

A equipe dos paliativos nos procurou para dar assistência e, em seguida, eu estava sentada com Samuel, tomando café da manhã no hospital, quando ele falou: 'Mãe, eu quero ir para casa. Eu estou com tanta saudade do meu pai e dos meus irmãos. Eu estou cansado, eu não quero mais fazer quimio. Quero jogar videogame, passear, comer muita coisa gostosa'. Então, fui conversar com os médicos e perguntei se o novo protocolo de quimioterapia tinha alguma chance de curá-lo. Os médicos disseram que 'não', não iria curá-lo, apenas dar mais tempo — talvez um ou dois meses.

Então, decidimos dar 'vida' para os dias que ele ainda teria, e pedi para que o tratamento fosse interrompido. A médica chorou, disse que não estava preparada para perder o Samuel, porque gostava muito dele. A decisão de parar com a quimioterapia foi a mais difícil da minha vida. Primeiramente, a gente ouviu o que ele queria porque, apesar de ser criança, ele tinha voz, desejos, sonhos, então, ouvimos ele para podermos chegar a uma decisão. E a decisão foi dar vida aos dias que restavam.

Então, numa sexta-feira, recebemos liberação do hospital pra ir para casa — para que Samuel pudesse comer e se divertir com a gente. Lembro que, na época, ele disse: 'Mãe, eu não quero mais fazer quimio, quimio dói, me deixa ir para o Céu, eu quero morar com Jesus'. Ele falava muito sobre o Céu. Ficamos juntos no fim de semana, ele se divertiu muito e, no domingo à tarde, ele deitou comigo no meu quarto, percebi que ele estava cansadinho, e eu disse: 'Filho, mamãe precisa te levar pro hospital'. Ele disse: 'Não, mamãe, me deixa mais um pouquinho aqui'. Eu chamei meu marido e disse: 'Ele só tem 4 anos, não podemos deixar ele aqui'. Saímos de casa e, quando chegamos na porta do hospital, ele olhou dentro do meu olho e disse assim: 'Mamãe, você prometeu que não iria me trazer pra cá'. Eu disse que ele só estava voltando para tomar remédio e não sentir dor.

A despedida

Estava chegando o Dia das Mães, 12 de maio, e eu só pedi pra Deus que não o levasse nesse dia, pois queria ficar só mais um pouquinho com ele. E o Samuel ficou. Na madrugada do dia 14, ele já estava bastante debilitado — sempre com morfina, medicação e sedativos para não sentir dor. Lembro que estava extremamente assustada porque já tinha visto outras crianças partirem de forma perturbadora, procurando ar, e eu tinha muito medo de vivenciar isso. Então, na madrugada do dia 15, estávamos eu e a tia com ele, e ele disse: 'Mamãe, eu tenho medo de morrer' — foi a primeira vez que ele falou isso. Eu falei: 'Filho, não tenha medo. Mamãe está aqui. As pessoas não morrem, elas vão morar em outro lugar, elas vão morar no Céu'. Ele deitou e, pouco depois, falou que estava tonto: 'Eu estou caindo'. Eu falei: 'Você não está caindo, filho. Você está aprendendo a voar. E quando a gente está aprendendo a voar, a gente fica meio tonto. São suas asas que estão nascendo. Ele sorriu, ficou de bracinhos abertos, deitou novamente e dormiu.'

Samuel inventou o 'Capitão Fralda' — Foto: Reprodução/Instagram
Samuel inventou o 'Capitão Fralda' — Foto: Reprodução/Instagram

E nessa mesma madrugada, por volta das 3h30, eu cantei todos os louvores que ele gostava, e ele ficou apertando minha mão, sorriu e disse: 'Mamãe, eu vou embora hoje. Hoje, eu vou voltar para casa'. Amanheceu o dia, eu fui em casa trocar de roupa e tomar banho e, ao meio-dia, escutei ele chamar: 'Mamãe'. Chamei meu outro filho para irmos rápido para o hospital. Quando olhei o celular, meu marido havia mandado uma mensagem dizendo: 'É bom você vir, a médica disse que ele já está nos momentos finais'. Quando cheguei, ele estava sedado, mas ouvia, ele estava consciente. Cantei com ele, e ele ficou apertando minha mão.

Deitei ao seu lado na cama, beijei e falei que ele era muito importante pra mim. Fiquei abraçada com ele e disse: 'Filho, quando você ver Jesus, e ele estender a mão, você pode pegar suas asas e voar. Mamãe não vai ficar triste se você for. Vou ficar aqui e cuidar dos seus irmãos. Então, você pode ir'. Quando virei para o lado, Samuel foi embora. Ele simplesmente sorriu e dormiu. Tenho a certeza de que ele acordou em outro lugar, no Céu, que ele tanto falava. Ele sempre falou de Jesus com muito amor, dizia que era seu amigo e iria buscá-lo. E ele foi embora assim — tranquilo e em paz.

Vivendo o luto

Hoje, estou com o coração afogado em saudade, mas não sinto a tristeza da perda porque eu não perdi meu filho — a gente perde alguém quando não sabe onde a pessoa está, e eu sei onde está meu filho. Meu filho está no Céu, onde ninguém precisa usar sandália de tão macio que é, como ele me contava. E isso me faz querer continuar. Decidimos cremá-lo, pois não me sentiria bem sabendo que meu filho estaria com o corpo frio debaixo da terra. Na urna dele, gravei 'amor, esperança e gratidão' — amor porque sempre vou amá-lo; esperança, pois acredito que um dia vou encontrá-lo; e gratidão porque sou grata pelo tempo que tive com ele. Samuel era apaixonado pelo mar e pela praia. Então, decidimos levar suas cinzas no mar de Porto de Galinhas. A última coisa que ele pediu foi 'nadar com os peixinhos na água que não tem cor' — ele se referia a água transparente. Então, vamos soltar suas cinzas com os peixinhos.

Antes de partir, o acesso no peito dele vazou e ficou uma mancha de sangue. Fui limpar e, quando vi, estava em formato de coração. Mostrei pra ele, e ele disse: 'É uma gotinha de amor, mamãe'. Tenho e tive outros filhos de coração, crianças que convivemos no hospital. Algumas partiram, mas outras continuam lá. Samuel me fez prometer que eu cuidaria dos amigos dele. Então, a gente vai fazer nascer um projeto chamado 'Uma gotinha de amor', para incentivar as pessoas a doarem sangue, a doarem medula, pois isso faz muita diferença. Foram tantas a vezes que Samuel precisou de sangue... isso salva vidas! Queremos incentivar as pessoas a dividirem a 'gotinha do amor' que elas têm na veia com outras pessoas.

E o que eu diria para as mães que acabaram de receber o mesmo diagnóstico é: 'Não deixe seu filho saber o que é câncer — criança sabe o que é afeto, o que é amor. Então, dê amor, dê afeto, dê carinho. Muitos são curados, mas outros não. Todos nós nascemos com uma missão, nunca saberemos qual é a missão dos nossos filhos, mas a nossa missão é amá-los independentemente das circunstâncias'. Fizemos tudo o que podia ser feito, mas infelizmente nada trouxe a cura. Eu entendi que amar, naquele momento, seria fazer a vontade dele de não sentir mais dor. E a gente tentou fazer com que seus últimos dias fossem sem dor. Me conforta saber que ele parou de sentir dor. É preciso deixar ir por amor."

Samuel partiu em 15 de maio — Foto: Reprodução/Instagram
Samuel partiu em 15 de maio — Foto: Reprodução/Instagram
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