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Não é de hoje que a pediatria reconhece a importância da vitamina D na infância. Entre os benefícios já mais do que comprovados deste micronutriente, o mais conhecido é o desenvolvimento ósseo e muscular. Isso porque essa vitamina – que, na verdade, descobriu-se se tratar de um hormônio, mas continua sendo chamada assim por convenção – está relacionada à regulação de cálcio e fósforo, essenciais ao crescimento e à manutenção de ossos, músculos e dentes.

No entanto, uma série de estudos, principalmente na última década, tem demonstrado a existência de receptores de vitamina D em diferentes células do organismo, incluindo as do sistema imunológico, um indicativo de que ela pode atuar na prevenção e no tratamento de várias doenças, como asma, alergias alimentares, diabetes, problemas cardiovasculares e até câncer. E o impacto começa ainda na gravidez.

Luana veste macacão Fábula e Malu usa bata Mini Galerista — Foto: Babuska
Luana veste macacão Fábula e Malu usa bata Mini Galerista — Foto: Babuska

“Sabemos que níveis adequados de vitamina D na mulher são fundamentais para a concepção e, ao longo da gestação, diminuem os riscos de complicações, como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e parto prematuro”, explica a ginecologista e obstetra Tatiane Boute, do Fleury Medicina & Saúde (SP), mestre em medicina fetal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ou seja, além de aumentar esses riscos, a insuficiência também está relacionada à depressão pós-parto, segundo a médica.

Um estudo, publicado este ano pela Universidade de Southampton (Reino Unido), revelou mais benefícios do micronutriente para as grávidas. Feita com cerca de mil gestantes, a pesquisa mostrou que uma dose de 1.000 IU/dia de vitamina D (por meio de suplementos) durante a gestação aumenta as chances de parto normal e diminui a perda de sangue após o parto.

A gerente de projetos Anna Gabriela Schoeller Paiva, 32, descobriu logo no início do pré-natal que seus índices de vitamina D estavam abaixo do esperado – o diagnóstico, em adultos e crianças, é realizado por meio de um exame chamado de hidroxivitamina D ou 25(OH)D. “Como tenho diabetes tipo 1 e hipotireoidismo, tive acompanhamento médico e nutricional desde o começo. Depois do resultado do exame apontar a carência, eu me policiei para tomar mais sol. Mas, na região onde moro, o clima é frio e chuvoso. Então fiz a suplementação da vitamina. Deu tudo certo, tive uma gravidez tranquila, um parto normal e um bebê saudável”, comemora a mãe de Anna Beatriz, 3 meses, que vive em Ponta Grossa (PR).

De fato, diferentes estatísticas mostram que a maior parte de vitamina D no organismo – cerca de 80% – vem da exposição à luz solar. “E só 20% por meio da alimentação. Aliás, os alimentos mais ricos nesse nutriente, como salmão, não fazem parte da rotina alimentar dos brasileiros”, afirma o pediatra e nutrólogo Hélcio Maranhão, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e secretário do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Ainda que a suplementação da vitamina D não seja obrigatória, como a do ácido fólico e a do ferro na gravidez, há cada vez mais evidências de sua relevância nesse período – tanto que ela está incluída nos polivitamínicos recomendados às gestantes de modo geral. “A dica é que, antes de engravidar, a mulher já faça uma dosagem sanguínea desse micronutriente, entre outros, para facilitar a concepção e ter uma gestação o mais saudável possível”, recomenda a obstetra Tatiane Boute, do Fleury Medicina & Saúde (SP). No entanto, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a suplementação específica (em doses maiores do que normalmente encontrada nos polivitamínicos) na gestação só deve ser realizada com orientação médica, claro. Depois do nascimento, a recomendação é que a mãe siga com os polivitamínicos enquanto estiver amamentando.

E atenção: a SBP indica uma suplementação profilática de 400 UI/dia a partir da primeira semana de vida até os 12 meses, e de 600 UI/dia dos 12 aos 24 meses, mesmo para as crianças em aleitamento materno exclusivo. A medida é obrigatória desde 2014 e, a princípio, tinha a função de combater o raquitismo. “Hoje, no entanto, sabemos que, além da vitamina estar relacionada à prevenção de outras doenças, a exposição solar pode trazer riscos à pele e pode ser influenciada por diversos fatores, como a região geográfica, o tom de pele (as mais escuras sintetizam menos vitamina D pelo sol), a poluição e a genética. O que aumenta a importância da suplementação preventiva”, diz Maranhão. Vale ressaltar: a sua família não tem de fugir do sol a todo custo, claro, e sim seguir algumas medidas de proteção.

Luana usa macacão Fábula e Malu, shorts pink & blue e bata Minigalerista — Foto: Babuska
Luana usa macacão Fábula e Malu, shorts pink & blue e bata Minigalerista — Foto: Babuska

Vendas em alta

Não é que a vitamina D seja milagrosa, como muitos chegaram a pensar durante a pandemia da covid-19. Na época, de acordo com dados da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), houve um salto nas vendas dos suplementos de vitamina D ao longo do período, passando de cerca de 20 milhões de unidades vendidas em 2020 para quase 45 milhões em 2022. “Essa associação de vitamina D com a saúde do sistema respiratório é antiga. Quando não havia tratamento, as pessoas com tuberculose eram levadas a lugares altos, com ar fresco e sol para se curar”, afirma o endocrinologista Leonardo Bandeira, diretor do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Uma metanálise de 25 ensaios clínicos randomizados publicada no periódico científico Lancet, em 2021, mostrou que a suplementação de vitamina D pode mesmo ter um efeito protetor contra infecções respiratórias graves. A pesquisa se baseou em dados de adultos e crianças, anteriores à pandemia.

E em relação ao coronavírus, então? “No caso da covid-19, alguns estudos mostraram que a suplementação dessa vitamina melhora, sim, o desfecho da doença, mas não a probabilidade de contraí-la”, completa. “Além disso, os benefícios, de modo geral, são observados em pessoas que estavam com deficiência da vitamina e tiveram seus níveis normalizados com suplementos. Para os demais, não há tanta diferença”, acrescenta o endocrinologista Sérgio Setsuo Maeda, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).

Como as famílias tiveram de ficar em casa por conta do coronavírus, com menor exposição ao sol, Bandeira acredita que esse aumento do consumo de suplementos de vitamina D no período foi positivo. “No entanto, vale reforçar que a suplementação deve ser feita com orientação do pediatra, se necessário, em doses apropriadas. E não exageradamente como vimos por aí, com o risco de levar a um quadro de hipervitaminose D (isto é, excesso do nutriente no organismo)”, alerta.

Foi o que aconteceu com os filhos da jornalista Ana Paula Rodrigues Martins, 38, na pandemia. “Eles fazem a dosagem todos os anos, a pedido do pediatra. A primeira vez que os índices ficaram abaixo do recomendado foi na quarentena. Toda a família, exceto meu marido, teve de repor”, conta a mãe de Alice e Heitor, que hoje têm 12 e 9 anos, respectivamente. Heitor ainda está com os valores um pouco abaixo do recomendado, mas nada crítico, segundo a mãe. Já os índices de Alice e dos pais voltaram ao normal somente no final do ano passado, quando a família retomou as atividades ao ar livre.

Embora comum na rede privada, o exame para a dosagem de vitamina D não costuma ser realizado na rede pública rotineiramente, a não ser em indivíduos dos grupos de risco, como pessoas de pele escura, com problemas de absorção intestinal, insuficiência renal ou que fazem uso contínuo de certos medicamentos, como corticoide e anticonvulsivantes. “A obesidade também torna a criança suscetível, porque o tecido adiposo ‘sequestra’ este nutriente, assim como a falta de exposição solar”, diz a pediatra nutróloga Virginia Weffort, professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

Boa notícia

Afinal, como anda o aporte de vitamina D das crianças brasileiras? Nada mal, de acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), de 2019, maior pesquisa já realizada sobre nutrição infantil por aqui. Coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Fiocruz e outras instituições, com base na coleta de dados de 14.558 crianças de 6 meses a 5 anos, ele mostrou que a prevalência de insuficiência de vitamina D entre crianças desta faixa etária é de 4,3% no Brasil – sendo maior nas Regiões Sul (7,8%) e Sudeste (6,9%), e menor nas Regiões Nordeste (0,9%), Norte (1,2%) e Centro-Oeste (2,2%).

“A insuficiência entre crianças dessa faixa etária parece não representar um problema de saúde pública, como acontece em outros países. O que é uma boa notícia”, diz a nutricionista e pesquisadora Paula Normando, que atuou na coordenação do Enani. Para se ter uma ideia, de acordo com Paula, nos Estados Unidos, este índice é de 6,6% e, no México, 25,9%, na mesma faixa etária.

Em agosto deste ano, Paula e outros cientistas brasileiros publicaram um estudo no British Journal of Nutrition (Inglaterra) especificamente sobre vitamina D, com base nos dados do Enani. Na publicação, destacam que crianças de zonas urbanas sofrem mais com o problema em comparação com as da zona rural, como era de se imaginar. Outro ponto observado é que, quanto maior a escolaridade materna, maior a prevalência de insuficiência de vitamina D.

“Este resultado pode ser parcialmente explicado pelo fato de que as crianças cujas mães têm níveis de escolaridade mais baixos possuem piores condições socioeconômicas, residem menos frequentemente em apartamentos e têm menos acesso a dispositivos eletrônicos. Assim, tendem a praticar mais atividades ao ar livre, levando a maior exposição à radiação UVB, o que pode melhorar a síntese de vitamina D”, resumem os cientistas, no estudo.

Apesar de viver na cidade e em um país de inverno rigoroso, a pequena Rebeca, 6 anos, está com os níveis do nutriente em dia. A mãe acredita que seja por influência do estilo de vida que adotaram ao se mudar para Bonn, na Alemanha, em 2021. “Como é seguro, andamos muito a pé, percorrendo longas distâncias. No Brasil, fazíamos tudo de carro, aqui só de transporte público. Também mantemos uma alimentação balanceada, com peixe toda semana”, conta a turismóloga Mônica Utchitel, 44.

Já no inverno, segundo Mônica, a situação muda. “A temperatura chega a -10 °C. O sol fica dias, às vezes semanas, sem aparecer. Então acabamos passando mais tempo em lugares fechados. Sentimos no corpo e no humor quando a vitamina D está baixa. Ficamos sem ânimo para nada”, lamenta. Além dessa fraqueza relatada pela mãe, nas crianças, a falta do nutriente pode causar irritabilidade, palidez, déficit de ganho de peso e de estatura, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e alterações ósseas, como raquitismo.

De acordo com Mônica, os pediatras da região não costumam solicitar exames de sangue em crianças pequenas rotineiramente. Por isso, ela faz a dosagem da filha sempre que vem ao Brasil – a última foi em abril, e Rebeca “passou” no teste mais uma vez.

Fortificar ou não?

Pedro veste bermuda Hering, camiseta Mini Galerista e camisa Fábula — Foto: Babuska
Pedro veste bermuda Hering, camiseta Mini Galerista e camisa Fábula — Foto: Babuska

É comum vermos nas prateleiras dos supermercados e farmácias inúmeras opções de alimentos fortificados com vitamina D, que vão desde fórmulas infantis a biscoitos e bebidas lácteas e vegetais. Será que elas realmente fazem diferença na ingestão do nutriente? Para os especialistas consultados pela CRESCER, a resposta é… depende.

A nutróloga Karla Vilanova, coordenadora do Departamento de Nutrição Enteral e Parenteral Infantil da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), diz que eles podem ser aliados. “Como as recomendações das sociedades médicas relacionadas ao câncer de pele acabam restringindo a exposição solar, as principais fontes de vitamina D são a dieta e os suplementos. Daí a importância dos alimentos fortificados para melhorar os níveis dessa vitamina no organismo”, justifica. Para a nutricionista Paula Normando, entretanto, o problema é a baixa qualidade nutricional desses alimentos, uma vez que são ultraprocessados. “Não adianta ser fortificado se for repleto de substâncias que podem ser nocivas à saúde”, pondera.

A estratégia de enriquecer a comida com vitamina D não é tão comum por aqui quanto nos Estados Unidos e no Canadá, só para citar alguns exemplos. “Mas, mesmo que as doses encontradas nesses alimentos sejam baixas (em comparação aos naturalmente ricos em vitamina D), é preciso comunicar ao pediatra para garantir um consumo seguro”, acrescenta o endocrinologista Leonardo Bandeira, da SBEM. Isso porque a hipervitaminose D, que o especialista citou no início da reportagem, pode levar a uma intoxicação provocada pelo excesso da absorção de cálcio, com sintomas como perda de apetite, náuseas, vômitos, constipação, fraqueza e aumento da pressão arterial. E, em casos mais graves, complicações renais e cardiovasculares.

Ou seja: a conclusão que podemos tirar disso tudo é que, sim, a vitamina D é essencial para manter o corpo (literalmente) em pé e com saúde. Mas, apesar de vivermos em um país tropical e ensolarado, o estilo de vida moderno e a preocupação com o câncer de pele estão afetando – para o bem e para o mal – a maneira como obtemos esse nutriente tão importante. Por isso, cada caso deve ser avaliado individualmente, com o olhar atento da família e do pediatra, combinado?

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