Alexandre Coimbra Amaral - A humanidade em nós

Por Alexandre Coimbra Amaral

Autor da coluna A Humanidade em Nós

 


Sempre me pareceu uma coisa inóspita quem consegue segurar choro. Eu nunca consegui. A lágrima sempre me chegou como um imperativo, uma ordem que eu não tinha como transgredir. Já chorei em lugares muito pouco afáveis para acolher meu choro, e costumava pedir desculpa depois que o primeiro jorro surgia.

Filho pequeno abraçando e dando beijo em pai — Foto: Freepik
Filho pequeno abraçando e dando beijo em pai — Foto: Freepik

A idade veio me ensinando a não precisar mais me desculpar, porque o choro é a manifestação da alma e do corpo, construindo uma via de escoamento das emoções e das dores de viver. Chorar reequilibra, chorar é movimento - e todo movimento da alma é melhor do que a paralisia. Prender o choro é parte de uma cultura que maltrata, já que, com isso, desprotege as pessoas em seu direito de se darem o tempo da escuta de si e do pranto que abraça a inevitável dor de viver.

Por isso mesmo, e sobretudo porque eu sou um homem, chorar é um ato revolucionário. Ele recupera direitos de existir de maneira mais íntegra e honesta com o que se sente. É uma ação do corpo produzindo um laço com o sentimento, dando coerência interna e externa sobre quem estamos sendo naquele momento.

Nossos filhos nos testemunham viver como quem assiste a uma série de inúmeras temporadas. Enquanto crescem, vão percebendo mais nossa carne e osso do que nossas virtudes ilibadas.
— Alexandre Coimbra Amaral

Acontece que chorar na frente dos filhos é um outro nível de reconhecimento desse direito. Fomos ensinados a uma postura diante deles que exigiria uma certa "performance" de exemplo de conduta quase sobre-humana. Temos que ser fortes e resilientes para "dar exemplo", tudo uma grande bobagem.

Somos exemplo em tudo, inclusive em nosso desvarios. Nossos filhos nos testemunham viver como quem assiste a uma série de inúmeras temporadas. Enquanto crescem, vão percebendo mais nossa carne e osso do que nossas virtudes ilibadas. Eles fazem o juízo interno do que gostariam que não fosse levado no coração deles como legado de quem somos. Eu, sobretudo, acredito num mundo em que eles têm o poder de ser alento e colo nos momentos em que nossa alma está tristonha.

Aconteceu isso hoje. Um dos meus filhos me viu triste, e era muito verdade. Eu estava num dia péssimo. Eu estava envergonhado com uma atitude muito imatura que tinha tido com uma pessoa que eu amo consideravelmente. E ele me perguntou: "Você está triste, pai?" Eu confirmei a impressão dele - acho importante fazer isso, para manter a honestidade da relação e também para lhe mostrar que ele sabe ler empaticamente os sentimentos das pessoas. Ele se aproximou, olhos nos meus olhos, e disse: "Se quiser, eu posso te abraçar".

Com aquela frase, eu jorrei mais um tanto de pranto. O abraço aconteceu. E ele me acalentou, melhorou meu dia, com uma simples virtude entre nós - do encontro da honestidade do sentir com a solidariedade, que é a cola entre nós, humanos.

Alexandre Coimbra Amaral é mestre em Psicologia pela PUC do Chile, palestrante, escritor, terapeuta familiar e de casais. Pai de Luã, 15, Ravi, 13, e Gael, 8. Colunista do Valor Econômico e consultor de saúde mental em escolas e empresas — Foto: Crescer
Alexandre Coimbra Amaral é mestre em Psicologia pela PUC do Chile, palestrante, escritor, terapeuta familiar e de casais. Pai de Luã, 15, Ravi, 13, e Gael, 8. Colunista do Valor Econômico e consultor de saúde mental em escolas e empresas — Foto: Crescer

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