Prematuros
 

Por Vanessa Lima


Muitas vezes, as famílias só compreendem, de fato, as dificuldades de ter um bebê prematuro quando estão diante do problema. O baque é imenso e pais e mães se assustam com a insegurança, diante de um ser tão frágil, que corre tantos riscos e precisa de tantos cuidados, com a atenção — e com a tensão! — de uma UTI Neonatal. Com Naiara Cosmo de Araújo, 35, foi diferente.

Naiara com um de seus prematuros no colo: momentos tensos e emocionantes — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo
Naiara com um de seus prematuros no colo: momentos tensos e emocionantes — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo

Mesmo antes da gestação, ela já sabia muito bem o que esperar, caso tivesse seus bebês antes da hora. Isso porque ela é médica pediatra e neonatologista. Já conhecia de cor a rotina de uma UTI, os perigos, os riscos, as probabilidades. Ainda assim, nada poderia tê-la preparado para todos os desafios que enfrentou desde a gravidez de múltiplos até poder, finalmente, ir para casa com dois de seus bebês.

Em um depoimento exclusivo à CRESCER, ela conta como foi se descobrir grávida de quíntuplos, perder duas das bebês ainda na barriga e outro com três meses de vida. Ela também fala da importância de manter a fé e a esperança vivas, já que foi assim que ela conseguiu lutar o tempo todo e ir para casa com os pequenos João e Lucas, hoje com 10 meses.

“Minha gestação foi planejada. Eu já tinha um filho, o Davi, agora com 6 anos, e fizemos uma fertilização, em que implantamos dois embriões, porque as chances de gravidez eram pequenas. No entanto, esses dois embriões se dividiram e eu descobri, em um ultrassom de rotina, que estava esperando quíntuplos. Fiquei muito assustada! Como médica, sabia dos riscos da prematuridade e de uma gestação de alto risco. Deixei a família toda assustada também porque, no início, eu só conseguia chorar muito. No entanto, depois, com o passar do tempo, fui me acostumando com a ideia.

Eu tinha duas placentas, uma com as duas meninas e outra com os três meninos. Como era uma gravidez de risco, fiz acompanhamento em Alfenas (MG), onde moro, e também em São Paulo (SP). As consultas e os exames de ultrassom eram, praticamente, semanais. Eu tomei vários medicamentos. No início, pude continuar trabalhando, mas em um ritmo bem mais devagar, sem fazer muitos plantões.

A mãe levou um susto quando descobriu que esperava quíntuplos — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo
A mãe levou um susto quando descobriu que esperava quíntuplos — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo

Meu medo maior era justamente o da prematuridade, pois eu sabia que eles eram fortes candidatos a nascer prematuros extremos. Eu tinha muito receio de que algo acontecesse com os bebês. Mas apesar de toda essa sensação e da mudança muito rápida do meu corpo, porque era um barrigão imenso, eu estava gostando da sensação de ser mãe de múltiplos.

Então, com 19 semanas, aconteceu o pior: ao fazer um outro ultrassom de rotina, descobri que minhas duas meninas, Laura e Júlia, tinham ido a óbito. A placenta das meninas era monoamniótica, ou seja, elas dividiam o mesmo líquido, o que pode gerar mais complicações em uma gestação gemelar. Foi o que aconteceu. Fiquei arrasada, porque eu queria muito todos os bebês. Foi um grande choque. Lá no fundo, eu também estava muito empolgada por ser mãe de meninas. Me senti muito abalada. Além disso, as meninas teriam que ficar na barriga até o dia do parto porque retirar antes poderia colocar os outros bebês em risco. Com o tempo, aceitei a perda e tentava não pensar no que aconteceu.

Seguimos a gravidez com os trigêmeos, fazendo um acompanhamento ainda mais intenso para monitorar possíveis infecções e distúrbios de coagulação. Passei a fazer ultrassons semanais e vários exames de sangue. Sou muito otimista e fazia tudo o que a minha obstetra pedia, portanto, acreditava que tudo daria certo. Entrei de repouso com 24 semanas de gestação.

Então, com 25 semanas e 6 dias, entrei em trabalho de parto. Tive que passar por uma cesárea de urgência, com vários médicos e enfermeiros. Todos no hospital já estavam de sobreaviso de que isso poderia acontecer. Eu, como médica pediatra, neonatologista, me vi, naquele momento, de frente com a prematuridade extrema. Tive medo no parto. Estava muito preocupada.

Justamente por ser médica e trabalhar em UTI, eu entendia tudo o que estava acontecendo com os bebês. Entendia todas as intercorrências. Sofria junto. Mas, naquele momento, eu era a mãe e não a profissional. Tentava não interferir. Confiava muito na equipe que estava cuidando deles.

Os bebês nasceram com apenas 25 semanas e 6 dias de gestação — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo
Os bebês nasceram com apenas 25 semanas e 6 dias de gestação — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo

João nasceu com 785 g, Gabriel com 880 g e Lucas, 810 g. Então, eles foram para a UTI. Durante a internação, foram vários momentos de alegria e também momentos muito difíceis. Foi um período muito longo.

Eu passei a extrair o meu leite de 3 em 3 horas para os trigêmeos e isso, de certa forma, me ajudava a ter um objetivo. Eu podia visitar meus bebês durante o dia e, no final da tarde, tinha sempre um boletim médico.

Tive todo o apoio dos meus colegas médicos que cuidavam dos meus bebês. Eles foram extremamente atenciosos comigo, inclusive com o meu psicológico, que ficou abalado em vários momentos. Contei muito também com o apoio da minha família e do meu marido. Acho que o maior desafio foi lidar com o tempo, ter paciência.

Com 20 dias, um dos bebês, o João, teve de passar por uma cirurgia cardíaca. Ele foi o gêmeo que nasceu menorzinho. Ele precisava fazer uma correção do canal arterial, também por decorrência da prematuridade. O canal não fechou com medicações, então, a cardiopediatra deles indicou a cirurgia. Mas deu tudo certo. São os desafios da prematuridade .

Já o Gabriel, infelizmente, também por complicações da própria prematuridade extrema, faleceu com três meses. Ele teve uma infecção e estava em estado bem grave. Então, quando me ligaram pedindo para ir ao hospital eu já imaginei que o tínhamos perdido. De novo, fiquei muito triste, arrasada mesmo. Mas, mais tarde, consegui entender que ele veio ao mundo para passar esses três meses que ficou comigo e que veio para me ensinar a ser mais forte. Guardo os bons momentos que passei com ele na UTI. Ele foi o primeiro bebê que peguei no colo. Lembro que ainda estava entubado. Foi uma sensação maravilhosa.

A todo momento, mesmo diante de todas as dificuldades, eu acreditava que seria possível porque já tinha visto vários prematuros saírem da UTI muito bem e saudáveis. Acreditei nos meus filhos e rezei muito. Confiei na equipe e dei o meu máximo para estar perto deles a todo momento. A prematuridade tem seus desafios, suas etapas e suas vitórias.

O Lucas teve alta primeiro, com três meses. Foi uma festa em casa, só alegria. Optamos por restringir visitas e curtir aquele momento em família. Não tive medo. O João veio para casa um mês depois, com quatro meses. Também foi uma felicidade e nos sentíamos completos.

A alta foi um dos momentos mais esperados: João e Lucas venceram a batalha — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo
A alta foi um dos momentos mais esperados: João e Lucas venceram a batalha — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo

Alguns dos momentos de maior alegria foram o dia em que eles foram extubados, quando pude amamentá-los no seio e, claro, o que a gente mais espera, que é a alta.

Já com eles em casa, vivemos outro susto: o João teve bronquiolite, que é uma infecção viral, e teve que voltar para a UTI. De novo, fiquei muito arrasada. Ele passou 21 dias internado e depois recebeu alta .

Hoje, os meninos estão ótimos e se desenvolvem muito bem. Devido à prematuridade, nós os estimulamos muito. Eles fazem acompanhamento com fisioterapia, fonoaudiologia e osteopatia. Eles também fazem natação.

Uma das partes mais difíceis de tudo isso também foi explicar tudo para o Davi, meu filho mais velho. Tentávamos falar de formas lúdicas. Conseguimos. Hoje, ele sabe e entende que tínhamos o Gabriel, eu mostro fotos para ele, mas dizemos que é uma estrela. Quando perdemos as meninas, eu falei que o papai do céu não as mandaria mais para nós porque já tinha muito trabalho lá no céu e ele ia precisar da ajuda delas. O João e o Lucas são as paixões dele.

Os bebês são a paixão de Davi, 6 anos, o irmão mais velho — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo
Os bebês são a paixão de Davi, 6 anos, o irmão mais velho — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo

Ele entendia muito também quando eu precisava ficar com os bebês na UTI. Eu os visitava de duas a três vezes por dia. Como ele vai para a escola, eu conseguia me organizar. Ele entendeu que os irmãos eram pequenos e precisavam ficar na UTI. Eu sempre mostrava fotos para ele. O que ajudou é que moro em uma cidade pequena, então, da minha casa ao hospital levava apenas 10 minutos. Então, dava para fazer essa rotina de visitas.

Quando olho para trás, vejo que cada pessoa nessa Terra tem seu destino, tem seu desígnios. Que nada foi por acaso. Vejo que tudo o que aconteceu foi para deixar minha família mais forte. Meus bebês me escolheram como mãe e não o contrário. É nisso que eu acredito. Como pediatra, acho que fiquei mais evoluída e tenho mais empatia com as famílias.

Hoje os pequenos estão com 10 meses, saudáveis e felizes — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo
Hoje os pequenos estão com 10 meses, saudáveis e felizes — Foto: Arquivo pessoal/ Naiara Cosmo de Araújo

Para outros pais de prematuros, que estão de frente com essa realidade agora, depois de ter passado por tudo isso, eu diria que devemos sempre acreditar e que não podemos perder a esperança. É preciso ter muita paciência porque são internações longas, mas a gente tem que ter fé e acreditar que tudo vai dar certo. Os que os bebês prematuros mais precisam é a presença dos pais, do carinho e do amor. Aqueles pequeninos são mais fortes do que imaginamos”.

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