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Depressão pós-parto_mulher triste (Foto: Shutterstock)

Cerca de um quarto das mães brasileiras apresentam indícios de depressão pós-parto. (Foto: Shutterstock)

Um estudo publicado pelo Journal of Health Economics revelou que mulheres que dão à luz de forma não planejada, por meio de cesárea de emergência, têm 15% mais chances de desenvolver depressão pós-parto (DPP).

"Cesarianas não planejadas podem ter um impacto psicológico particularmente negativo sobre as mães, por serem inesperadas e, em geral, mental e fisicamente estressantes; além de estarem associadas a uma perda de controle e a quebra de expectativas", explica a autora do artigo, Valentina Tonei, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade de York.

O procedimento, que geralmente é feito quando há complicações durante o trabalho de parto, é uma realidade em milhares de casos no Reino Unido, onde o estudo foi feito: a cada ano, cerca de 25 mil dos 165 mil nascimentos britânicos acontecem por cesáreas não planejadas.

Cesáreas: um desafio

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é recomendado que apenas 10% a 15% do total dos partos sejam feitos por cesáreas. Ao redor do mundo, no entanto, o número de cirurgias dobrou em um período de 15 anos, sendo que já se tornou a prática mais comuns em diversos países em desenvolvimento — incluindo o Brasil.

Entre 169 países analisados por um estudo publicado na revista científica The Lancet, a República Dominicana lidera o ranking de países que mais realizam a cirurgia, com 58,1% dos nascimentos via cesárea. Brasil e Egito vem logo em seguida, com 55,5% dos casos.

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A pesquisa

Para encontrar a relação entre a DPP e método de parto, o levantamento analisou dados de 5 mil mães de primeira viagem que fazem parte do projeto de pesquisa multidisciplinar Millennium Cohort Study. Além de isolar os efeitos da cesariana nove meses após o parto, o artigo também levou em conta outros fatores como as diferenças nos recursos dos hospitais e o histórico de saúde mental das mães.

"Isso tem importantes implicações para a política de saúde pública, com as novas mães que dão à luz desta forma, necessitando de maior apoio", afirma a pesquisadora.

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Segundo Tonei, as consequências da depressão pós-parto afetam todas as áreas da vida de um mãe. "Estudos anteriores sugerem que a DPP pode ter um efeito negativo não apenas sobre a saúde da mãe e suas relações com o parceiro e seus familiares, mas também sobre o desenvolvimento do bebê", explica.

Depressão pós parto

Ficar um pouco triste depois do parto é normal e esperado. Estima-se que 80% das mulheres tenham o chamado baby blues, certa melancolia que aparece nos primeiros dias do bebê em casa, dura cerca de um mês. Mas a depressão pós-parto vai além, tanto na intensidade quanto na duração dos sintomas, geralmente notados de quatro a seis semanas após o parto e que podem se arrastar por um ano (ou mais, em alguns casos). Ansiedade, irritabilidade, mudanças de humor, cansaço e desânimo persistentes estão no topo da lista de indícios, que também passam por diminuição de apetite, insônia e sensação de incapacidade.

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Segundo uma pesquisa que analisou fatores associados à doença no Brasil, mais de 25% das mães brasileiras têm sinais de DPP. “Qualquer mulher pode desenvolver a doença, mas a prevalência é maior em quem tem antecedentes de transtorno mental (incluindo depressão), vulnerabilidade socioeconômica, gravidez indesejada ou histórico de traumas e violência doméstica”, explica Mariza Theme, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz (RJ).

Outros fatores de risco passam por falta de suporte ou apoio familiar, ansiedade intensa, histórico de transtorno pré-menstrual, infertilidade, abortos ou perdas gestacionais e até problemas de saúde, como hipertensão ou diabetes.

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