• Por Isadora Moraes com Alex Alcantara
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O prédio The Vessel, construído em Manhattan, Nova York, foi fechado depois de várias pessoas cometerem suicídio no local  (Foto: Flickr / Diane Wildowsky / CreativeCommons)

O prédio The Vessel, construído em Manhattan, Nova York, foi fechado depois de várias pessoas cometerem suicídio no local (Foto: Flickr / Diane Wildowsky / CreativeCommons)

A nossa casa e os lugares que frequentamos afetam diretamente o nosso estado mental. A relação entre indivíduo e espaço é uma experiência única, que pode desencadear diversos pensamentos ao longo do dia. Hoje (10), no dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, é importante enxergar como o meio e a arquitetura afeta o nosso interior. Segundo Maria Eugênia Ximenes, bacharel em Psicologia e mestre em Arquitetura pela USP, a arquitetura pode aliviar pressões, caso for percebida como arte na sua vertente que proporciona, principalmente, o conforto.

“Nesta ótica, o espaço que abriga as atividades humanas pode provocar sensações e traduzir por intermédio da forma, acalanto, ajudando a diminuir conflitos internos e pressões sócio-culturais que o indivíduo pode sofrer em seu cotidiano, uma vez que ele estaria aconchegado pelo espaço que foi projetado, abrigado e protegido”, completa. Por isso, as construções arquitetônicas devem oferecer todas as condições necessárias para que as pessoas se sintam seguras, evitando possíveis tragédias futuras.

Em Londres, vários prédios possuem sacada de vidro, a fim de evitar suicídios  (Foto: Pexels / Yoss Traore / CreativeCommons)

Em Londres, vários prédios possuem sacada de vidro, a fim de evitar suicídios (Foto: Pexels / Yoss Traore / CreativeCommons)

“Nesta ótica, o espaço que abriga as atividades humanas pode provocar sensações e traduzir por intermédio da forma, acalanto, ajudando a diminuir conflitos internos e pressões sócio-culturais que o indivíduo pode sofrer em seu cotidiano, uma vez que ele estaria aconchegado pelo espaço que foi projetado, abrigado e protegido”, completa.

De acordo com Mirtes Birer Koch, arquiteta e urbanista, doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP, no Brasil, o suicídio em pontes, infelizmente, é uma prática constatável e as medidas para minimizar o problema variam. Algumas contam com câmeras de segurança e profissionais treinados que fazem o monitoramento. “Outras recebem anteparos físicos para ampliar a altura da mureta ou uma rede de proteção embaixo da estrutura, e é bastante comum a oferta de aparelhos telefônicos com serviço de emergência”, conta Mirtes.

As pontes e passarelas concentram altas taxas de suicídio  (Foto: Pexels / sergio souza / CreativeCommons)

As pontes e as passarelas concentram altas taxas de suicídio (Foto: Pexels / sergio souza / CreativeCommons)

Além das pontes, os prédios também são um grande alvo para quem quer cometer suicídio. A estrutura The Vessel, construída em Manhattan, Nova York, é um grande exemplo. Em 2019, o edifício foi inaugurado e contava com diversos lances de escadas e apenas um elevador. Considerado pouco acessível para pessoas com deficiência, o espaço já gerou uma grande polêmica. Em 1º de fevereiro de 2020 houve o primeiro caso de suicídio no local. Desde então, outras pessoas também pularam do prédio e morreram na hora. No dia 29 de julho de 2021, o empreendimento foi fechado.

A profissional Maria Eugênia faz uma análise sobre o The Vessel: “estar perdido em um emaranhado de circulação vertical, recorda um labirinto, que denota angústia para alguns indivíduos – o beco sem saída. Esta é uma outra vertente da arte contida na arquitetura, a que instiga, a que mexe no profundo do indivíduo e não se tem controle do desfecho emocional que esta provocação espacial pode acarretar”.

A arquitetura pode afetar diretamente no bem-estar humano, promovendo a tranquilidade ou causando sentimentos como ansiedade e estresse (Foto: Pexels / sergio souza / CreativeCommons)

A arquitetura pode afetar diretamente no bem-estar humano, promovendo a tranquilidade ou causando sentimentos, como ansiedade e estresse (Foto: Pexels / sergio souza / CreativeCommons)

Por outro lado, existem locais que a estrutura arquitetônica instiga a segurança das pessoas. “Em Londres, por exemplo, depois de um certo andar, todas as sacadas são de vidro e isso tem a ver com as taxas suicídio, pois acaba sendo uma forma de prevenir”, afirma Ana Clara Cartagena Reis, psicóloga clínica.

Conforme Geslline Giovana Braga, doutora em Antropologia pela USP e especialista na área de patrimônio cultural, o suicídio é um tema clássico na sociologia e ele tem uma motivação individual, mas tem causas, muitas vezes, por função do meio.

Vale lembrar que não é apenas a parte externa da arquitetura que importa. O interior de um ambiente também pode ajudar a melhorar ou piorar um quadro de uma pessoa suicida. Ana Clara explica que um projeto pode ajudar na questão de implementar natureza, luz e cores em um lar, pois quando o indivíduo fica apenas trancado em casa e sem nenhum contato com elementos naturais, isso acaba contribuindo para a depressão.

A neuroarquitetura busca trazer a natureza para os ambientes, para proporcionar bem-estar para os indivíduos (Foto: Pexels / Valeria Boltneva / CreativeCommons)

A neuroarquitetura busca trazer a natureza para os ambientes, para proporcionar bem-estar para os indivíduos (Foto: Pexels / Valeria Boltneva / CreativeCommons)

A neuroarquitetura estuda exatamente a influência que os locais físicos têm sobre o bem-estar humano. Assim, ela é uma saída para a criação de projetos mais humanizados, caminhando para unir, cada vez mais, a estética e o conforto.