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Por Manuela Tecchio — São Paulo


Aos 100 anos de operação e hoje sob uma holding com quatro subsidiárias, a história da Madis parece trama de série. A marca pioneira em soluções de relógio de ponto e controle de acesso no país, antes conhecida como Rodbel, é chefiada por um homem de 75 anos que prepara uma sucessão entre cinco filhos, uma passagem de bastão que tem como pano de fundo um mercado que se transformou com o avanço da tecnologia e exigiu um novo posicionamento da empresa.

A família sabe que os equipamentos físicos usados para controlar a entrada e a saída de funcionários nas empresas e de alunos nas instituições de ensino — por mais modernos que sejam — tendem a perder espaço para os serviços em nuvem. É o hardware sendo substituído pelo software. Mas no chamado serviço de acesso (tudo o que não envolve trabalho e ensino), como as catracas de estádios e de eventos em geral, é improvável que a barreira física seja eliminada, combinando-se a soluções de software, como o uso de aplicativos para a liberar a entrada.

“Ao falar em produto, o futuro é software e serviço em nuvem: fácil, simples, na mão do colaborador. Acredito que o hardware tem data para acabar quando o assunto é registro de ponto, mas no acesso ainda é muito forte. São fatores que estamos mirando para guiar a operação nos próximos anos”, diz Alex Dimas de Melo Pimenta, VP à frente da Madis e um dos filhos do dono e atual CEO Dimas II.

A empresa acaba de passar por um momento simbólico em termos geracionais. Enquanto o CEO conduz a transição, a companhia tirou da marca o antigo Rodbel, uma combinação do sobrenome dos fundadores, Rodrigues e Bellotti. O negócio, criado em 1923, foi então comprado pelo pai de Dimas II, Dimas de Melo Pimenta, até então um concorrente. Desde 2014, a empresa usava o nome Madis Rodbel. Agora, passou a ser apenas Madis, uma inversão das sílabas de Dimas.

Fundadores da Rodbel, hoje Madis: Bellotti e Rodrigues com suas criações — Foto: Divulgação
Fundadores da Rodbel, hoje Madis: Bellotti e Rodrigues com suas criações — Foto: Divulgação

Entre as principais clientes da Madis hoje estão desde pequenas farmácias e padarias de bairro, já que as portarias do MPT exigem controle da jornada em empresas a partir de 10 funcionários, até os maiores players da indústria, grandes escritórios e grupos de educação. Alguns nomes no portfólio incluem Uninove, Rede D’Or, Magalu e Americanas. A companhia realiza também projetos menos óbvios, como a cronometragem do tempo do desfile das escolas de samba no Carnaval do Rio e de São Paulo: os relógios gigantes na Sapucaí e no Sambódromo do Anhembi ficam a cargo da empresa.

A necessidade de dar um salto tecnológico foi sentida pela marca em 2010, quando passou a dispor de biometria em seus aparelhos. Quatro anos depois, resolveu criar também o próprio software, passando a oferecer a plataforma para o controle dos registros e atendendo o cliente de ponta a ponta. A virada antecipou o grupo frente às concorrentes e preparou a marca para atravessar a pandemia. Quando o lockdown chegou, a Madis já operava no digital. No ano passado, a marca faturou R$ 27 milhões, com 60% de registro de ponto e o restante em acessos.

Relógio de ponto da Rodbel, hoje Madis: máquina foi uma das primeiras no país — Foto: Divulgação
Relógio de ponto da Rodbel, hoje Madis: máquina foi uma das primeiras no país — Foto: Divulgação

Enquanto o mercado passava por transformações complexas ao longo das últimas décadas, a família também se via em meio a reviravoltas. O que hoje é a Madis um dia já foi um negócio que o patriarca Dimas pensou em deixar morrer e foi resgatado pelo filho que leva seu nome.

Antes de comprar a Rodbel — uma empresa que começou fabricando moedores de café e máquinas registradoras e só depois entrou em relógios de ponto —, o negócio de Dimas se resumia à Dimep (outra referência ao seu nome), também de controle de ponto e acessos. Quando adquiriu a concorrente, a ideia dele era deixar a marca "minguar com o tempo", concentrando tudo na Dimep.

Na época, seus cinco filhos, frutos de dois casamentos, tentavam participar do cotidiano da empresa, mas isso só adicionava complexidade à gestão. O patriarca, então, decidiu mandar todos embora e manteve apenas Dimas II, que era o seu braço direito e resolveu pedir para cuidar da Rodbel, que andava esquecida. "Ele passou a ser concorrente do pai", conta Alex.

Em 2002, após o falecimento de Dimas avô, Dimas II comprou a Dimep dos irmãos e montou o que é hoje o grupo Dimas. Anos mais tarde, teve que lidar com algo parecido: pai de três homens e duas mulheres, começou a treinar a prole para ocupar cargos de gestão.

Madis Rodbel: Dimas II, ao lado dos filhos Rodrigo, Dimas III e Alex Dimas de Melo Pimenta, ao fim de uma corrida na Old Stock Race — Foto: Divulgação
Madis Rodbel: Dimas II, ao lado dos filhos Rodrigo, Dimas III e Alex Dimas de Melo Pimenta, ao fim de uma corrida na Old Stock Race — Foto: Divulgação

Em 2018, iniciou um sistema de rotatividade nas cadeiras de CEOs da Madis, Dimep e DMP, esta última uma gráfica especializada na impressão de cartões e crachás. Por enquanto, o revezamento tem sido feito na ala masculina: hoje, Alex acumula o cargo de chefia na DMP e na Madis, enquanto Rodrigo está à frente da Dimep. O mais velho, Dimas III, tem cuidado da fábrica, em Minas Gerais. O grupo conta ainda com a Tagus, uma prestadora de serviços de instalação, suporte técnico e manutenção de equipamento.

A irmã mais velha da terceira geração, Patrícia, cursou marketing e se afastou dos negócios para se dedicar aos filhos e à casa. A mais nova, com 22 anos, mora em Portugal, onde a Dimep tem filial.

"Estamos fazendo um trabalho sério, com advogados e uma rede de conselheiros, para iniciar um processo de sucessão seguro. A ideia inicial é de que os três homens da terceira geração assumam as três maiores empresas e façam uma copresidência do grupo”, diz Alex. “Unidos somos mais fortes, já que cada um tem um perfil: Rodrigo é mais sério e sabe liderar, eu tenho um veio mais comercial, Dimas é técnico”.

Não há um prazo estabelecido para a troca no comando, mas, no que depender da linha sucessória, o grupo não terá problemas em atravessar mais cem anos. A quarta geração dos Dimas já conta com sete membros. O mais velho, Dimas IV, tem 16 anos de idade e se prepara para estudar nos Estados Unidos.

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