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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

Bonnie e Clyde estavam sendo procurados devido a uma série de roubos e assassinatos cometidos na região central dos Estados Unidos no começo dos anos 1930. O casal de criminosos vinha recebendo a atenção de toda a imprensa americana depois de assaltar dezenas de bancos, lojas e postos de gasolina, deixando várias pessoas mortas pelo caminho e sempre escapando da polícia. Até que, no dia 23 de maio de 1934, há 90 anos, eles foram surpreendidos numa estrada perto de Arcadia, no estado da Louisiana, por um grupo de detetives que estava no encalço da dupla.

Naquela quarta-feira, às 9h15, Bonnie Elizabeth Parker, de 23 anos, e Clyde Chestnut Barrow, de 24 anos, foram fuzilados com mais de 130 tiros quando estavam a bordo de um automóvel Ford V8 roubado. Desde então, o casal de ladrões teve a sua trajetória contada em livros, filmes e séries que alcançaram milhões de pessoas no mundo. Após a divulgação do trailer do game "Grand Theft Auto VI", em dezembro do ano passado, rumores dão conta de que o casal Jason e Lucia, protagonistas do novo jogo, é inspirado em Bonnie e Clyde. Mas o que torna a história da dupla tão atraente?

Bonnie e Clyde foram personagens de um período nos Estados Unidos conhecido como a era dos inímigos públicos, da qual também fizeram parte o mafioso Al Capone e o bandido John Dillinger, que foi interpretado pelo astro Johnny Depp no filme "Inimigos Públicos" (2009).

O carro de Bonnie e Clyde cravejado de balas, em 1934 — Foto: Reprodução
O carro de Bonnie e Clyde cravejado de balas, em 1934 — Foto: Reprodução

Na primeira metade do século XX, a fama de Bonnie e Clyde ficou bastante restrita ao país do Tio Sam, mas, a partir dos anos 1960, a saga do casal começou a se espalhar pelo mundo. Nos arquivos do Jornal O GLOBO, por exemplo, a gente quase não encontra referências sobre a dupla de bandidos até a década de 1960, mas, a partir de 12 de novembro de 1962 e até 31 de janeiro de 1963, a publicação carioca contou tudo o que se sabia na época sobre o casal e sua gangue em uma série diária de quadrinhos com mais de 50 capítulos chamada "Os criminosos selam seu destino".

Os dois namorados se conheceram no Texas, em 1930. Bonnie tinha 19 anos e era casada com um presidiário que ela nunca mais viu depois que ele foi preso. Logo depois do encontro, o próprio Clyde foi preso por roubo, mas ele fugiu de uma fazenda prisional no Texas usando uma arma que a Bonnie levou pra ele escondida dos carcereiros, num dia de visitas. O bandido foi recapturado e chegou a ser espancado e estuprado várias vezes dentro da prisão por outro detento, mas matou o seu agressor esmagando a cabeça dele com um cano, durante uma briga na cadeia.

Em janeiro de 1932, Clyde quebrou dois dedos do próprio pé só pra não ser submetido a trabalhos forçados, mas, ironicamente, ele ganhou liberdade condicional seis dias depois.

Frank Hamer: Policial liderou equipe que matou Bonnie e Clyde — Foto: Reprodução
Frank Hamer: Policial liderou equipe que matou Bonnie e Clyde — Foto: Reprodução

Foi aí que a dupla começou a sua sequência de crimes em estados americanos como Texas, Novo México, Oklahoma e Missouri. Ao longo dessa trajetória, Bonnie, Clyde e a gangue da qual o casal fazia parte se tornaram suspeitos do assassinato de pelo menos nove policiais e quatro civis. Em agosto de 1932, por exemplo, os criminosos do bando foram abordados por um xerife e um delegado numa danceteria e abriram fogo contra os dois, matando o delegado e ferindo gravemente o xerife.

Pode-se imaginar, então, quantos policiais nos Estados Unidos estavam doidos pra se vingar da gangue. Em fevereiro de 1934, o departamento de polícia do Texas convenceu o capitão aposentado Frank Hamer, um ex-agente dos Texas Rangers, a caçar a quadrilha de Bonnie e Clyde. Na época, aliás, o bando era conhecido como a gangue dos Barrows, por causa do sobrenome de Clyde e de seu irmão, Buck, que também fazia parte do grupo (a mulher de Buck também integrava a quadrilha).

Existem diferentes versões explicando como a equipe de seis policiais liderada por Frank Hammer descobriu que os bandidos passariam por uma estrada do estado da Louisiana no dia 23 de maio de 1934. O fato é que os investigadores se esconderam em um matagal na beira dessa estrada na noite anterior e passaram várias horas lá até que eles viram o Ford V8 roubado chegando com a dupla.

Bonnie e Clyde não conseguiram disparar nenhum tiro, eles foram surpreendidos pelos policiais, que, com o carro ainda em movimento, começaram a descarregar a munição de todas as suas armas no casal. Clyde, no banco do motorista, foi alvejado 17 vezes e Bonnie, no assento ao lado dele, recebeu 26 tiros. Vários disparos atingiram as cabeças dos dois, além de outros órgãos vitais.

Desde então, várias produções culturais contaram a história do casal, sendo que a mais famosa delas é o filme "Bonnie e Clyde", de 1967, dirigido pelo cineasta Arthur Penn com os atores Warren Beaty e faye Dunnaway nos papéis principais. Hoje considerado um clássico, o filme recebeu algumas críticas negativas na época de seu lançamento por glorificar uma dupla de bandidos. Já o longametragem "Estrada sem lei", lançado em 2019 pela Netflix, conta a mesma história da perspectiva dos policiais que perseguiram e mataram o casal Bonnie e Clyde.

O local onde Bonnie e Clyde foram mortos, em 23 de maio de 1934 — Foto: Reprodução
O local onde Bonnie e Clyde foram mortos, em 23 de maio de 1934 — Foto: Reprodução
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