Paternidade

Por Leonardo Ávila Teixeira


Helio Heluane, André Tonanni e o filho do casal, Filippo — Foto: Marcos Mesquita
Helio Heluane, André Tonanni e o filho do casal, Filippo — Foto: Marcos Mesquita

Os empresários paulistanos André Tonanni, 37, e Helio Heluane, 45, se preparam para seu primeiro Dia dos Pais neste domingo (13), após a realização de um sonho ainda incomum para casais homoafetivos no Brasil: a fertilização in vitro, processo no qual o espermatozoide fecunda o óvulo fora do organismo de uma mulher. “A adoção é um procedimento que foi possível há bastante tempo. Mais recentemente também a fertilização in vitro, a reprodução assistida para casais homoafetivos, é um recurso agora disponível no Brasil”, diz Tonanni sobre as opções disponíveis para um casal do perfil deles. “Mas poucas pessoas sabem que é possível realizar esse procedimento aqui de forma legal, amparado pelo estado”, comenta.

André e Helio começaram a pesquisar sobre o assunto em 2018, e deram início ao processo junto com médicos e clínicas de fertilização em 2019. Um projeto de reprodução assistida pode custar por volta de 150 a 250 mil, conta Tonanni, mas, no caso do casal, o investimento terminou sendo “muito superior”. “Tentamos durante 4 anos. Foram 8 fertilizações in vitro que a gente fez”, lembra.

A falta de referência de pais em situações similares motivou os dois a compartilharem sua jornada através do perfil @2papais no TikTok e Instagram. Em ambos, contam detalhes do processo e compartilham momentos da família junto do filho Filippo, de 7 meses. O vídeo da revelação da gravidez, por exemplo, atingiu 3,6 milhões de pessoas no Tik Tok e hoje ambos perfis somam mais de meio milhão de seguidores. “São pessoas que querem acompanhar o dia a dia de dois homens tendo filhos no Brasil. Como é essa criação, como é a rotina”, diz.

“A rede social é nosso canal de amparo, nosso canal de suporte, e também para gente mostrar que isso é normal”, comenta o empresário, que apelida algumas das internautas mais assíduas de ‘dindas do Filippo’. “Família não é uma configuração de homem e mulher. Família é uma conexão de amor. Tem pessoas que são criadas por avós, tem pessoas que são adotadas, que não tem pais. E no nosso caso somos uma família de dois papais”, explica.

Segundo dados mais recentes do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) foram realizados mais de 42 mil ciclos de fertilização em 2022 - um crescimento de 22% em relação a 2020. A busca do procedimento por casais homoafetivos vem ganhando fôlego desde 2013, ano em que o Conselho Federal de Medicina (CFM) passou a permitir a tratamentos de reprodução assistida para parceiros de mesmo sexo.

Para o andamento do processo, André e Helio contaram com apoio de um amigas interessadas em serem barrigas solidárias (em outras palavras, aquelas que vão receber o óvulo fecundado e realizar a gestação). “A pessoa que está gerando nosso filho é uma barriga solidária, ela não tem a carga genética, e o óvulo vem de uma doadora anônima, então no nosso caso, e em todas as fertilizações in vitro que são feitas para homoafetivos, não é possível você saber a identidade da doadora de óvulos”, diz o empresário.

A barriga deve ter um grau de parentesco até quatro níveis próximos (mãe, filha, avó, irmã, tia, sobrinha, prima) ou, no caso de ser uma pessoa fora da família, passar por entrevista junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM). Em ambas as situações, é preciso que a escolhida já tenha tido filhos e não pode ser ela a doar os óvulos. A pessoa passa também por uma avaliação psicológica e exames que revelem não haver riscos de saúde para a voluntária nem para a criança.

Tonanni reforça também a importância de se atentar aos ritos comuns da paternidade: “Tem que ter certidão de nascimento, tem que ter tudo regulamentado no cartório, até porque você quer se assegurar de que essa criança tenha direitos e relações paternas dentro da lei.”

“Família não é uma configuração de homem e mulher. Família é uma conexão de amor", diz Tonanni — Foto: Marcos Mesquita
“Família não é uma configuração de homem e mulher. Família é uma conexão de amor", diz Tonanni — Foto: Marcos Mesquita

A falta de referências durante os 4 anos de tentativas (somada às incertezas comuns de uma gestação) cobrou seu preço em certos momentos, e Tonanni se lembra de uma gravidez chegou a ocorrer, mas não foi para frente. “Foi realmente muito frustrante, porque além de ser uma expectativa nossa, as pessoas que estavam ao nosso redor ficavam perguntando: ‘E aí vocês vão tentar de novo? Já engravidou?’ E não conseguimos. A gente teve que ficar expondo essa situação. É muito complicado isso. É triste, mas você tem que lidar com o emocional.”

“Procure informações sobre as clínicas, procure informações sobre o médico que você está utilizando, porque todo mundo quer engravidar na primeira, mas nem sempre é isso que acontece”, aconselha.

Por outro lado, o casal conta não ter tido episódios de preconceito ou de tratamento diferenciado durante o processo. Há apenas o fato da maternidade em São Paulo ter tido dificuldade em liberar convidados sem que houvesse o nome de uma mãe, mas os empresários contam que a questão foi resolvida rapidamente. Por outro lado, o amparo da lei não foi 100% absoluto.

“Tivemos dificuldade com o convênio médico, para arcar com gastos, tivemos dificuldade com o INSS, para receber o auxílio-parentalidade, porque nossa configuração ainda não é tão reconhecida quanto a configuração pai e mãe. As pessoas sempre perguntam quem é a mãe para receber o benefício. Não, não tem, somos dois pais. Ah, mas foi adotado? Não, não foi adotado, ele tem nossa genética, foi fertilização in vitro. Ah, mas quem deu a luz? Quem deu a luz foi uma barriga solidária, ela não tem responsabilidade legal em cima da criança.”

Tonanni diz que deu entrada no processo no INSS, por exemplo, sem a esperança de receber o benefício, mas ressalta que quis abrir portas ainda assim. “São questões que a gente ainda está batalhando, para que futuros casais não precisem passar por isso.”

Hoje, Filippo tem sete meses e já está intercalando uma dieta baseada em fórmula com papinhas. Já Tonanni está em meio à produção de um livro baseado na experiência do casal, que pretende publicar ano que vem. “Fui escrevendo sem o objetivo de lançar, fui colocando pra fora durante o processo. As minhas frustrações, inseguranças como homem gay, como uma pessoa que estava tentando engravidar e não conseguia. Sobre dificuldades com as fertilizações in vitro. Fui colocando esses pensamentos pra fora e acabou se transformando numa história”, diz.

Acompanhe o dia-a-dia dessa família nas redes sociais “@2papais”.

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