Muito se fala sobre a ascensão dos vinhos nacionais, que melhoraram assombrosamente na última década. No entanto, é no azeite extravirgem que o Brasil dá o real pulo do gato. Começamos a produzi-lo comercialmente há meros quinze anos e já alcançamos o nível de qualidade de países com séculos de experiência no assunto, como Itália e Espanha. No curto período entre a extração dos primeiros 60 litros de extravirgem em Maria da Fé, Minas Gerais, em 2008, e este ano, quando devemos produzir cerca de 1 milhão de litros em pelo menos seis estados (inclusive a Bahia), viramos um dos países mais premiados nessa área, com medalhas em torneios internacionais.
No ano que vem, daremos outro salto com a chegada retumbante da Vivenda Scapini. O proprietário, Roger Scapini, novato no ramo, pretende alcançar (ou ultrapassar) o maior produtor do Brasil, Luiz Batalha, da Azeite Batalha, que nesta safra atingiu a marca recorde de 200 mil litros. Como?
Com um olival de altíssima densidade, de 210 mil árvores em 212 hectares, que ele vem plantando desde 2019, por partes, em uma antiga fazenda de gado próxima a Porto Alegre. Entre o equipamento de ponta importado por Scapini aparecem uma velocíssima máquina colheitadeira e quatro aparelhos de extração italianos, um para cada lagar que será construído. Entre fevereiro e abril, o empreendedor deverá extrair seu primeiro lote comercial. Até lá, também terá aberto as portas de um hotel com vista para o olival.
Por mais que os números impressionem iniciantes, não passamos de uma pulguinha no contexto global. Na última safra, a União Europeia produziu 1,5 milhão de toneladas, enquanto nós, menos de 1. “O Brasil ainda se mostra muito pequeno perto dos que importam, mas o potencial é enorme. Só aqui no Sul temos 1 milhão de hectares de terra propícia para a olivicultura”, diz Batalha. Para ele, sermos novatos consiste numa vantagem competitiva. “Entramos no jogo na ponta porque fomos atrás do que há de melhor no mundo, desde maquinário italiano até mudas chilenas”, pontua.
Se tendemos a achar que extravirgem é sinônimo de óleo de oliva importado da Europa, é porque fomos condicionados a pensar assim desde a infância, sendo que alguns espanhóis e portugueses, especialmente, vendem gato por lebre. Muitas vezes, adicionam óleos de menor qualidade ao verdadeiro extravirgem, que, por lei, é só aquele tirado na primeira prensagem de azeitonas verdes, com teor de acidez de, no máximo, 0,8%.
Marcas brasileiras de peso e prestígio, a exemplo de Borriello, Lagar H, Sabiá e Orfeu, lutam para fazer o brasileiro entender que versões nacionais se mostram equivalentes às importadas, ou melhores. A espanhola Joana Munné, agente de chefs e consultora de restaurantes radicada em São Paulo, conta que cresceu usando azeite até para hidratar a pele. Como se trata de algo novo por aqui, é normal, portanto, que não imaginemos que essas árvores estrangeiras se multiplicam Brasil afora e forneçam óleos tão bons.
Se os importados chegam, na grande maioria, da Península Ibérica, os melhores extravirgens nacionais vêm, invariavelmente, do pedaço de Minas Gerais que engloba a região da Mantiqueira e da metade sul do Rio Grande do Sul, especialmente a Campanha Gaúcha.
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Não por acaso, áreas também reputadas por seus ótimos vinhos. Ali, o clima é propício, com invernos suficientemente frios para regular o ciclo reprodutivo da oliveira e provocar a florada da primavera. São imprescindíveis de 200 a 300 horas por ano de temperaturas abaixo de 12 graus.
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