Luiza
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Por Luiza Brasil (@mequetrefismos)

Luiza Brasil é empresária e jornalista dedicada a pautas que abordam o protagonismo racial e foco em moda, bem-estar e empreendedorismo feminino


Eu não assisti Them. E posso falar: eu tentei! Sim, abordar o racismo estrutural sob a perspectiva do terror e ter o embranquecido 50’s de plano de fundo pode soar instigante e muito inteligente, ainda mais com um time de diretores encabeçado por Nelson Cragg. Mas a tentativa de ver o primeiro episódio me deixou apavorada, atormentada e triste. Pensei: “por que tanto me amedronta, se toda a crítica social contida na série é um espelho do que ainda vivemos no Brasil atual?”. Este ponto de intersecção da pauta racial que me fez chegar até a série da Amazon, foio que me repeliu também.

A grande diferença entre ela e produções como Laranja Mecânica, The Walking Dead, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado ou qualquer outra que tenha na temática central eventos fantasmagóricos, é que, no segundo caso, quando os créditos sobem, tudo fica na esfera da ficção. As cenas viram comentários dos momentosmais absurdos. Conseguimos, inclusive, rir de nós mesmas. Em Them, pelo contrário, todo aquele terror psicológico vira uma verdadeira extensão do que grande parte da população preta vive nos dias de hoje. E haja racismo para contar história: do estrutural ao recreativo, passando pelo religioso e o institucional.

“Se a representatividade importa, o pertencimento humaniza” (Foto: Arte Domitila de Paulo) — Foto: Glamour
“Se a representatividade importa, o pertencimento humaniza” (Foto: Arte Domitila de Paulo) — Foto: Glamour

Expandir a consciência e estar alinhada aos debates raciais que o mundo exige são fundamentais para a manutenção de uma sociedade antirracista (e isso serve para brancos também, ok?!). Porém, reproduzir a naturalização da violência e assistir à dor de pessoas negras como forma de entretenimento é dar audiência para o desserviço e banalizar a nossa humanidade.

Tudo isso me lembra George Floyd, com sua imagem amplamente repercutida mundo afora sendo estrangulado pelo policial. Acessa a minha memória de 2014, quando um adolescente preto menor de idade teve pés e mãos amarrados em um poste e foi quase linchado na Zona Sul do Rio após um assalto. Ah, ele teve sua identidade exposta, o que é um ato infracional no Estatuto da Criança e do Adolescente. Nesse mesmo ano, também tivemos o caso Cláudia Silva Ferreira, que teve seu corpo arrastado por mais de 300 metros por uma viatura da PM. Cena esta divulgada em horário nobre sem o menor pudor.

Eu não preciso assistir à barbárie do povo preto no streaming para saber que tudo isso está acontecendo. Portanto, mais que dar audiência à carnificina que promete ser Them (li spoilers, confesso) como um banquete para os supremacistas, fico com as ações propositivas de enfrentamento ao racismo. Seja no cinema, com o necessário Kbela, da diretora Yasmin Thayná; na literatura com a já memorável Enciclopédia Negra, de Flavio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Schwarcz, ou a urgente coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro; nas artes visuais, com o disruptivo trabalho de Igi Ayedun e a sua HOA; na música, com Majur e toda a sua potência no álbum Ojunifé, entre tantos outros nomes que poderia mencionar por aqui.

Como muito bem escreveu a podcaster Morena Mariah em seu Instagram (@morenamariah), em uma crítica à série, “o racismo nunca foi secreto”. Não foram as décadas de humilhação, desrespeito e açoite em rede nacional que fizeram com que garantíssemos políticas de acesso, igualdade e oportunidade. Mas, sim, a nossa vontade de contar as nossas histórias, pela perspectiva dos nossos heróis e a celebração das nossas conquistas que nos fazem chegar até aqui. E como costumo dizer, se a representatividade importa, o pertencimento humaniza.

@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista e ativista racial. Aqui, compartilha seus insights certeiros sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Luiza Ferraz) — Foto: Glamour
@mequetrefismos Luiza Brasil é jornalista, fashionista e ativista racial. Aqui, compartilha seus insights certeiros sobre moda, comportamento y otras cositas más... (Foto: Luiza Ferraz) — Foto: Glamour
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