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O fundador da FedEx admitiu que recorreu ao acaso para fazer a sua empresa funcionar — Foto: Getty Images (via BBC)
O fundador da FedEx admitiu que recorreu ao acaso para fazer a sua empresa funcionar — Foto: Getty Images (via BBC)

FedEx é hoje um nome familiar. E não é à toa, porque com uma frota de 697 aviões, cerca de 210 mil caminhões e vans e cerca de 600 mil funcionários, a empresa entrega diariamente 16,5 milhões de encomendas em 220 países e territórios, segundo dados próprios.

Em 2021, a companhia americana atingiu um valor de mercado de US$ 84 bilhões , o que a transformou em uma das principais empresas do setor de entregas e logística a nível mundial.

No entanto, a gigante de hoje teve um início difícil e houve até um momento, há apenas cinco décadas, em que esteve perto de desaparecer, mas graças ao acaso foi salva.

Com uma frota de quase 700 aviões, a FedEx opera em 220 países e territórios em todo o mundo — Foto: Getty Images (via BBC)
Com uma frota de quase 700 aviões, a FedEx opera em 220 países e territórios em todo o mundo — Foto: Getty Images (via BBC)

Uma ideia revolucionária, mas cheia de dúvidas

A ideia de uma empresa que entregaria correspondências e pequenos pacotes, usando aviões e veículos motorizados, e fazendo isso muito mais rapidamente do que o correio normal, pode parecer ultrapassada hoje. No entanto, no final da década de 1960, significou uma revolução.

O conceito foi colocado na mesa pelo então estudante de Economia da Universidade de Yale, Frederick W. Smith, hoje conhecido nos Estados Unidos como Fred Smith, e que nasceu em 1944 na cidade de Memphis (Tennessee), no sul do país, no seio de uma família que fez fortuna no setor de transportes.

Porém, a proposta mal foi aprovada quando ele a apresentou em uma aula.

“O conceito é interessante e bem formulado, mas para conseguir mais do que um 'C' a ideia deve ser viável”, alertou o professor.

Apesar da recepção fria por parte dos acadêmicos, o jovem insistiu. Assim, em 1971, após cumprir duas missões no Vietnã, ele investiu os US$ 4 milhões que recebeu de uma herança familiar e outros US$ 80 milhões que obteve de investidores e empréstimos em uma empresa que chamou de Federal Express Corp (hoje FedEx).

Ele usou os recursos para comprar 14 pequenos aviões e vários caminhões.

Embora no primeiro dia de operação tenha recebido apenas 186 pacotes, a demanda começou a crescer gradualmente, operando em 25 cidades dos EUA em questão de meses, lembrou Smith em entrevista há alguns anos.

No entanto, o aumento dos preços do petróleo devido à Guerra do Yom Kippur em 1973 aumentou os custos operacionais da empresa e, em meados de 1974, a companhia perdeu quase um milhão de dólares por mês, informou a revista Entrepreneur.

A ideia de uma empresa que utilizava aviões e veículos para entregar, em questão de dias, pequenos pacotes foi revolucionária na década de 70 — Foto: Getty Images (via BBC)
A ideia de uma empresa que utilizava aviões e veículos para entregar, em questão de dias, pequenos pacotes foi revolucionária na década de 70 — Foto: Getty Images (via BBC)

A aposta da vida

Sobrecarregado por dívidas, Smith pediu mais dinheiro aos seus investidores para manter a empresa funcionando, mas eles recusaram.

E diante da ameaça iminente de falência, tomou uma decisão arriscada e de legalidade duvidosa: sacou os últimos US$ 5 mil (R$ 27 mil) que a FedEx tinha em suas contas bancárias, embarcou em um voo para a cidade de Las Vegas e passou um fim de semana jogando em seus famosos cassinos.

A sorte lhe sorriu e ele voltou para Memphis, onde fica a sede da empresa, com dinheiro suficiente para manter os aviões voando por mais uma semana.

O aporte de fundos chamou a atenção de outros gestores, incluindo Roger Frock.

Frock, que foi o primeiro vice-presidente de operações da FedEx (1971-1982), não apenas investigou a origem do dinheiro, mas também registrou a explicação incomum que recebeu em seu livro Changing How the World Does Business: FedEx's Incredible Journey to Success – The Inside Story (Mudando a forma como o mundo faz negócios: a incrível jornada da FedEx para o sucesso, a história interna, em tradução livre).

"Perguntei a Fred de onde vieram os fundos e ele disse: 'A reunião do conselho da General Dynamics foi um fracasso e eu sabia que precisávamos de dinheiro até segunda-feira, então peguei um avião para Las Vegas e ganhei US$ 27 mil (cerca de US$ 146 mil).'", o fundador da empresa confessou.

"Quer dizer que você pegou nossos últimos US$ 5 mil. Como você pôde fazer isso?" Frock repreendeu, mas Smith retrucou: "Que diferença isso fez?" Sem os fundos para pagar as empresas de combustível, não teríamos conseguido voar de qualquer maneira."

Diante da ameaça de quebrar, Smith apostou os últimos fundos da FedEx em Las Vegas e assim conseguiu dinheiro para seguir operando por alguns dias — Foto: Getty Images (via BBC)
Diante da ameaça de quebrar, Smith apostou os últimos fundos da FedEx em Las Vegas e assim conseguiu dinheiro para seguir operando por alguns dias — Foto: Getty Images (via BBC)

Nos anos seguintes, o próprio Smith mencionou várias vezes a sua jogada arriscada.

“Reza a lenda que consegui dinheiro para pagar a folha de pagamento, mas isso não é verdade. O que ganhei, comparado ao que devíamos, foi uma gota no oceano”, declarou em 2008 em uma entrevista.

No entanto, ele observou que os recursos eram “muito simbólicos” na época e lhe deram uma trégua.

Posteriormente, a pedido de Arthur – um de seus filhos – ele participou de um podcast, no qual voltou a se referir ao assunto e deixou claro que não acreditava ter colocado em risco o pouco que lhe restava com sua decisão.

"No Vietnã jogávamos muito poker e blackjack [também conhecido como vinte-e-um], por isso naquela altura eu era um bom jogador de blackjack", disse ele.

Poucos dias depois, a FedEx conseguiu que os seus investidores injetassem mais US$ 11 milhões que lhe permitiram continuar a operar e em 1976 começou a obter lucros.

Smith, que deixou sua cadeira de presidente da FedEx em 2022, não demonstrou nenhum arrependimento por suas controversas ações — Foto: Getty Images (via BBC)
Smith, que deixou sua cadeira de presidente da FedEx em 2022, não demonstrou nenhum arrependimento por suas controversas ações — Foto: Getty Images (via BBC)

Longe de ser um exemplo

Mas como se recorrer ao jogo não bastasse, Frock, no seu livro, também conta que nos primeiros anos turbulentos da FedEx, a gestão recorreu a outras práticas polêmicas.

Emitir cheques sem fundo aos seus funcionários e fornecedores ou pedir aos pilotos de avião que pagassem as contas de combustível com os seus cartões de crédito pessoais, com a promessa de que o dinheiro seria devolvido, foram outras ações a que recorreram.

Apesar do acima exposto, ao longo dos anos a FedEx floresceu, tornando-se uma das maiores empresas americanas e Smith conquistou o respeito do mundo dos negócios.

No entanto, há quem acredite que as ações de Smith não são o modelo a seguir.

“Esta é uma ótima história, mas não é um grande exemplo de boas práticas empresariais”, disse Katie Best, pesquisadora da London School of Economics e especialista em liderança empresarial.

Atualmente, a FedEx garante que distribui mais de 16 milhões de pacotes em todo o planeta — Foto: Getty Images (via BBC)
Atualmente, a FedEx garante que distribui mais de 16 milhões de pacotes em todo o planeta — Foto: Getty Images (via BBC)

“A história das origens da FedEx é brilhante, porque está cheia de movimentos ridículos e arriscados para realizar um projeto”, explicou a especialista à BBC Mundo.

“No entanto, eu não recomendaria que ninguém tomasse essas decisões, algumas das quais são de legalidade duvidosa, como usar fundos da empresa para apostar em mesas de blackjack.”

O economista venezuelano e fundador da consultoria OIKOS, Daniel Cadenas, foi mais duro. Ele não hesitou em descrever as ações de Smith como “irresponsáveis” e “irracionais”.

“Não é isso que se espera de um empresário e muito menos do presidente da empresa, que tem como principal missão proteger o patrimônio da empresa”, afirmou.

O economista estranha que esse fato tenha se espalhado. A razão? “O risco de danos reputacionais é muito elevado (…) Com que cara aquele homem foi pedir dinheiro aos bancos e aos investidores depois do que fez?”, disse.

Milko González-López, professor do Instituto de Estudos Superiores de Administração da Venezuela (IESA), falou em termos semelhantes, lembrando: “Os cassinos de Las Vegas foram construídos com o dinheiro dos perdedores. Para ganhar ali é preciso apostar muito dinheiro e nem sempre se ganha muito".

Especialistas consideram que as ações de Smith estão longe do que se espera de um empresário — Foto: Getty Images (via BBC)
Especialistas consideram que as ações de Smith estão longe do que se espera de um empresário — Foto: Getty Images (via BBC)

Além da anedota

Mas, para além das questões éticas que as ações de Smith levantam, outros especialistas acreditam que o caso FedEx deixa lições importantes.

“O verdadeiro problema não é o ato de apostar em si, mas o conceito de assumir riscos”, alertou Xinyu Hou, economista da universidade de Cambridge (Reino Unido).

"Se olharmos para a decisão de Smith, podemos ver que sem ela a empresa teria falido e teria de vender ativos valiosos a preços baixos. Fornecedores e credores provavelmente teriam recuperado muito pouco do que lhes era devido, porque as falências são caras e de longo prazo.", disse ele à BBC Mundo, o serviço da BBC em espanhol.

E concluiu imediatamente: “Ao arriscar, Smith salvou a empresa e beneficiou todos os envolvidos. E, portanto, no sentido estritamente econômico, a sua ação foi boa, pois ele não fez apostas muito grandes e só obteve o suficiente para a empresa continuar."

Para defender a sua posição, Hou lembrou que atualmente muitas empresas se dedicam a especular nas bolsas com derivativos (instrumentos financeiros cujo valor depende de outros ativos).

“E isto não é muito diferente de jogar num casino”, acrescentou o economista.

Smith, que deixou o cargo de presidente da FedEx em meados de 2022, admitiu que algumas de suas ações iniciais foram controversas.

No entanto, ele não demonstrou o menor sinal de arrependimento.

“Nenhuma escola de negócios apontaria que o jogo é uma estratégia financeira, mas às vezes vale a pena fazer coisas malucas no início da carreira”, escreveu o empresário agora aposentado em um artigo publicado na revista Forbes.

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