Nos últimos meses, uma cirurgia controversa tem ganhado popularidade nos EUA — e, consequentemente, gerado polêmica nas redes sociais do mundo todo: a ceratopigmentação, que tem como objetivo mudar a cor da íris dos olhos. O procedimento é considerado de alto risco e pode causar danos irreversíveis, incluindo a cegueira.
Cada vez mais procurada para fins estéticos, a cirurgia pode custar até 12 mil dólares em cidades como Nova York. A seguir, explicamos mais sobre os riscos da ceratopigmentação.
Como funciona a cirurgia de ceratopigmentação?
"Trata-se de uma cirurgia de pigmentação realizada na córnea, que é a estrutura externa do nosso olho, como se fosse o vidro transparente do relógio. Para isso, é feito um túnel nesse "vidro", onde se insere tintas específicas que cobrem o tom real da íris, que é parte responsável por dar a cor aos olhos", explica a médica oftalmologista Tatiana Nahas, especialista em cirurgia plástica ocular.
Quais são os maiores riscos desse procedimento?
"Os riscos são inúmeros, e incluem a possibilidade de perda funcional da visão", afirma Tatiana Nahas. "Há também a chance de infecções ou inflamações que podem atrapalhar o diagnóstico e o tratamento de doenças futuras nos olhos. Isso porque o paciente pode ficar impossibilitado de fazer exames de rotina e cirurgias como a de catarata e de retina". Os riscos ainda envolvem uma alteração na curvatura da córnea, provocando o astigmatismo.
Em quais situações a cirurgia é recomendada?
A cirurgia foi desenvolvida especialmente para pacientes com cegueira, que não tenham mais potencial visual, como conta a médica. "Geralmente, esse olho tende a ficar totalmente branco. Por isso, fazemos o procedimento de tingir a córnea com uma coloração parecida à que o paciente tinha originalmente. Nesses casos, a cirurgia tem um potencial transformador, melhorando a inserção social do indivíduo", completa.
Como é no Brasil?
Atualmente, o procedimento é proibido no Brasil. "Justamente por todos os riscos, a cirurgia não é recomendada nem pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) nem pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)", destaca a oftalmologista. "A indicação do CFM para quem deseja mudar a cor dos olhos é o uso de lentes de contato, mais seguras e com menos riscos de danificar a visão".
Tatiana Nahas deixa um alerta para técnicas similares que também podem ser prejudiciais para os olhos: "a aplicação de uma lente colorida permanente na frente da íris pode provocar inflamações crônicas e até perda da visão. Além disso, existe uma tinta usada para colorir a esclera, parte branca do olho, que pode causar perfuração ocular com perda completa da visão. O produto, que é bastante utilizado por pessoas que fazem cosplay, deve ser evitado", finaliza.