Psicodermatologia: entenda a relação entre mente e pele

Você já deve ter ouvido – ou até mesmo usado – a expressão “sentiu na pele” para se referir a emoções como medo, ansiedade ou estresse. Mais que perceber fatores do ambiente externo, como frio e calor, a pele está diretamente ligada a nossa mente e sentimentos, e essa conexão, que une físico e psicológico, é tão profunda que remete ao período gestacional. O corpo humano é desenvolvido a partir de três folhetos embrionários: endoderma, que concebe o sistema respiratório e órgãos do sistema digestório; mesoderma, responsável pelos ossos, músculos, derme e o sistema circulatório e reprodutor; e ectoderma, este último dá origem à pele e ao sistema nervoso. “Esse vínculo, que ocorre desde a nossa formação, cria uma ligação íntima e direta entre ambos – não à toa, algumas pessoas ficam com as bochechas vermelhas ao sentirem vergonha ou transpiram mais quando estão nervosas”, fala a psicóloga porto-alegrense Jéssica Schmitt, especialista no assunto. Apesar de conhecida, a conexão mente-pele ganhou mais atenção nos últimos anos, afinal, nós nunca estivemos tão estressados e ansiosos. Desde 2017, o Brasil possui o maior índice de pessoas com transtorno de ansiedade em todo o planeta. São 18,6 milhões de brasileiros (o equivalente a 9,3% da população) que sofrem com algum tipo de enfermidade relacionada à ansiedade, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Esse cenário trouxe a saúde mental para o foco e contribuiu para o desenvolvimento de um olhar multidisciplinar para a questão, que passou a englobar inclusive a indústria da beleza. Combinando áreas como psicologia, psiquiatria e dermatologia, um braço de estudo batizado de psicodermatologia promete pautar o setor em 2023. Inovações em fórmulas cosméticas propõem explorar a conexão íntima entre pele e mente, proporcionando um ganho além do skincare tradicional, com sensações como relaxamento e até mesmo felicidade sendo despertadas pelos produtos. Batizados de neurocosméticos, os itens que trazem essa perspectiva integral sobre o bem-estar levam uma gama de ingredientes que estimulam respostas no sistema nervoso quando aplicados topicamente. “Ainda são necessários mais avanços científicos para podermos, com certeza, indicar esses ativos como promessa de uma melhoria na qualidade de vida. Mas alguns estudos menores apresentam resultados positivos na relação entre uso de cosméticos com propriedades neuromoduladoras e a melhora do quadro de tensão, por exemplo. Então, em termos de organismo, podemos dizer que esses componentes agem de forma complementar, somando à rotina de relaxamento e autocuidado”, explica o médico dermatologista Victor Bechara.

“Os ingredientes neurocosméticos mais populares hoje são aqueles associados à ativação de receptores de β-endorfina na pele. Estes promovem a sensação de bem-estar, relaxamento, hidratação e pele mais calma quando aplicados”, diz Giulio Peron, CEO da Feito Brasil, marca brasileira de skincare. Apesar da empresa investir na tecnologia desde 2010, foi apenas em 2021 e 2022 que começaram a notar um crescimento maior do mercado nesse segmento, como um reflexo imediato do aquecimento da indústria wellness durante a pandemia. “Mesmo não sendo considerado um fármaco, os neurocosméticos são capazes de induzir a produção de substâncias que estimulam os neurotransmissores naturais”, explica Mariana Tami, coordenadora de projetos de pesquisa e inovação da marca.

Alinhado a esse movimento, saem de cena a hipervalorização das dez camadas de skincare e rotinas de cuidados impossíveis. Pouco a pouco, a conversa se volta para a essência do autocuidado, priorizando o momento de olhar para si como uma prática que flerta com o ritualismo e se inspira na atenção plena. Lançada em setembro de 2021, a Marina Shore, da empresária Marina Montagner, é pioneira em aliar o conceito de beleza e saúde mental na estratégia de marketing. Os produtos, pensados como um ritual básico e enxuto de cuidados, são à base de ingredientes adaptógenos. “Esses ativos, como extrato de jambu e óleo de lavanda, por exemplo, são plantas não tóxicas que ajudam o corpo a lidar com fatores estressores, sejam eles físicos, químicos ou biológicos. Então, agem não só no tratamento da pele, mas também ajudam a reduzir o estresse”, defende Marina. Somando a esse compromisso, a marca.

Bem na própria pele: conheça os neurocosméticos

Com ingredientes como CB2 e extrato de cherimoya, confira neurocosméticos que oferecem um cuidado de beleza integral, estimulando sensações prazerosas enquanto garantem um skincare potente. O seu ritual de autocuidado nunca esteve tão completo.