Como ela faz e acontece: Silvia Merati, CEO da Golden Goose nas Américas

Maria Laura Neves – Como começou sua carreira na moda?

Silvia Merati – Moda sempre foi uma das minhas maiores paixões, desde criança. Basicamente eu roubava todas as roupas do guarda-roupa da minha avó, costureira, e experimentava na frente do espelho. Aí meu pai me incentivou muito a estudar administração, porque achava que moda era mais uma paixão do que uma profissão. Sou de Milão e , ainda estudante, tive o privilégio de trabalhar em showrooms. Depois, fui trabalhar como buyer. No início, em Londres até que voltei para Milão e trabalhei muitos anos na Net-a-Porter, onde viajei o mundo e pude conhecer o mercado de consumo americano, europeu e asiático. O que aconteceu foi que, meu marido, que também trabalha com moda, se mudou para os Estados Unidos e aí comecei minha aventura com a Golden Goose, em merchandising, até virar CEO das Américas. Lembro que quando me ofereceram o cargo de CEO eu disse: "Vocês estão bem? Tem certeza? Eu nunca fiz isso antes”. (risos)

ML – Como é um dia típico na vida de uma CEO?

SM – Geralmente acordo por volta das 6h. Faço um pouco de alongamento, um pouco de ioga e um treino bem suave. Nunca fui muito forte nos esportes, então costumo praticá-los principalmente para relaxar e para minha saúde mental. Depois disso minha filha acorda, e tomamos café da manhã junto com meu marido — isso quando não viajamos, porque nós dois viajamos muito. Então eu a deixo na escola, a poucos quarteirões de onde moro — no Brooklyn. Depois vou direto para o escritório onde começa meu dia.

ML – Como chega ao escritório?

SM – Se tiver tempo, gosto de passear na ponte do Brooklyn. São vinte minutos de caminhada e é o momento perfeito para atender ligações. Essa é com certeza a minha maneira preferida de ir ao escritório porque, principalmente em Nova York, de manhã é super fresquinho. Em julho faz muito calor, então é uma forma super refrescante de começar o dia. Se não tenho tempo, costumo pegar o trem, um jeito rápido de chegar ao escritório, que fica no centro de Manhattan. Raramente pego Uber, só se estou com muita pressa. Gosto de caminhar ou pegar trem para ver os nova-iorquinos, o que me inspira muito pela manhã. Então, quando chego no escritório, fico focada até a noite. Tentei manter meu dia o mais eficiente possível com reuniões curtas. No final do dia, por volta das 18h30, volto para casa e passo um tempo com minha filha, lendo livros e colocando ela na cama.

ML – Como cuida da saúde física e mental?

SM – Reservo o meu tempo do alongamento, das caminhadas e, quando posso, fico com minha mãe, meu pai e amigos mais próximos. Quando tenho tempo livre, adoro ficar com eles. Também tento fazer acupuntura uma vez por semana.. Me ajuda a tirar a pressão, a energia ruim do corpo e relaxar. Faço na minha cabeça, especialmente quando tenho dor de cabeça e estou estressada. E também tento não me pressionar demais. Se algo que eu quero não acontecer hoje, pode acontecer amanhã.

ML – E como você se cuida durante as viagens?

SM – Eu viajo muito, entre 30% e 50% do meu tempo. Viajo muito para a América, A boa notícia é que adoro viajar, isso estimula muito a minha curiosidade, então não poderia viver sem passear. Isso realmente me ajudou a encontrar inspiração constante, conhecer pessoas. É algo que me energiza. E aí quando viajo, procuro ter uma rotina, me manter muito saudável, comer bastante verdura, beber água, me alongar um pouquinho pela manhã.

ML – Quais são as outras fontes de inspiração?

SM – Estar rodeada de beleza. Sou italiana e há um grande componente na nossa cultura de beleza em geral. Acho que isso é um conector na cultura brasileira também. A forma como comemos a nossa comida, a nossa cultura, o coração, o design, a moda. Tento atiçar constantemente o senso de beleza por meio das pessoas, me exponho a pessoas completamente diferentes para aprender com elas. Quando tenho tempo, sinto que explorar a natureza também é inspirador.

ML – Que conselho você daria para iniciantes na moda ou para quem quer seguir seus passos?

SM – Trabalhar com moda é complicado e exige muito, muito de você. Então a pessoa precisa amar de verdade. Começamos com raízes super humildes. Trabalhar em uma loja, por exemplo, é uma maneira perfeita de se expor ao ambiente da moda para conhecer os clientes, que são as pessoas mais importantes do negócio. Para os mais criativos, diria que o primeiro trabalho talvez não seja necessariamente que deseja, mas pelo menos é algo que vai te dar conhecimento. [E preciso saber também que a caminhada é longa e o processo de aprendizado é grande.

ML – Você acha importante viver em capitais como Milão, Paris e Nova York?

SM – Acho que antigamente mais do que hoje. Agora quando viajo para São Paulo, Cidade do México, encontro tantas coisas interessantes, novos designers. A moda mais do que nunca busca ter um vínculo com as comunidades locais. Sinceramente, não acho que isso esteja se tornando uma exigência como era há 20 anos, quando comecei.

ML– Você tem algum projeto ou desenvolvimento futuro que possa compartilhar conosco?

SM – O que realmente me entusiasma é a viajar com a minha família. Então é isso que realmente me motiva e me faz feliz. Temos um globo terrestre e, sempre que viajamos, colocamos estrelinhas nos lugares que visitamos.