O Brasil tem hoje 203,1 milhões de habitantes, um avanço de 0,52% ao ano com relação à população de 2010 (190,8 milhões de habitantes). De acordo com o IBGE, a taxa de crescimento anual foi de 2,99% na passagem de 1950 para 1960; o percentual encolheu nas décadas seguintes até atingir 1,17% em 2010 e, em 2022, é a primeira vez que o crescimento fica abaixo de 1%.
O número médio de moradores por domicílio caiu de 3,31, em 2010, para 2,79, em 2022, o que mostra a tendência das famílias brasileiras serem cada vez menores. Fatores como a pandemia de Covid e a crise econômica parecem ter acelerado ainda mais essa tendência. A taxa de fecundidade no Brasil começou a cair no final da década de 1960. Desde então, o número de filhos só diminuiu enquanto ocorreu uma redução das taxas de mortalidade.
A queda da fecundidade e o aumento da expectativa de vida fazem com que os especialistas se preocupem com “o desperdício do bônus demográfico”: quando o país tem menos pessoas em idade de trabalhar do que crianças e idosos. A tendência é que a parcela da população em idade de trabalhar diminua cada vez mais, enquanto aumenta a de aposentados. A transição demográfica que está acontecendo não é um desafio apenas para o Brasil. A principal característica demográfica do mundo atual é o envelhecimento populacional. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo tinha 1,1 bilhão de indivíduos com 60 anos e mais em 2018 (13% da população total), devendo atingir 2 bilhões em 2047 (21% do total) e podendo saltar para 3,1 bilhões em 2100 (30% do total).
Os impactos mais evidentes da transição demográfica são: a diminuição da população economicamente ativa; muito mais aposentados; famílias cada vez menores com menos filhos; menos pessoas morando no mesmo domicílio; mais pessoas morando sozinhas; a demanda cada vez maior dos serviços de saúde com mais pessoas precisando de cuidado, tratamento e atendimento médico; menos trabalhadores recolhendo dinheiro para Previdência Social e mais idosos precisando receber benefícios.
Venho acompanhando essas transformações há mais de três décadas por meio das minhas pesquisas sobre envelhecimento e felicidade com mais de 5 mil homens e mulheres de mais de 60, 70, 80 e 90 anos. Atualmente, estou realizando uma pesquisa de pós-doutorado para refletir sobre alguns dos desafios que estão sendo colocados em função do rápido envelhecimento da população brasileira:
Como mulheres e homens estão se preparando para enfrentar os desafios da velhice? Quem vai cuidar das pessoas na velhice? Como as transformações das famílias irão impactar o envelhecimento da população brasileira? Mulheres e homens com menos filhos ou nenhum terão mais dificuldades na velhice? Quais são os fatores que mais impactam a saúde física e emocional das pessoas 60+? Qual a importância da amizade na velhice? E dos projetos de vida? Quais são os obstáculos e/ou benefícios que as mudanças tecnológicas trarão às pessoas 60+? Como inserir as pessoas 60+ no mercado de trabalho? Como estão sendo elaboradas as políticas públicas e iniciativas privadas para a população que está envelhecendo? Como as empresas e instituições estão se preparando para enfrentar o envelhecimento da população? Como combater os preconceitos e estigmas associados à velhice? Como respeitar a autonomia das pessoas mais velhas, dentro das nossas próprias casas e dos nossos trabalhos?
Em breve, pretendo aprofundar essas e outras questões nas minhas colunas para a Vogue. Para concluir, quero dar um exemplo inspirador de envelhecimento que citei no meu livro A Invenção de uma Bela Velhice.
Tive a alegria de entrevistar o cirurgião plástico Ivo Pitanguy pouco antes de ele completar 90 anos. Ele me contou que o dinheiro não era a principal motivação para continuar trabalhando. Para ele, o trabalho era o que dava significado à sua vida. Seu projeto de vida era continuar sendo útil, ativo, produtivo e relevante para a sociedade. Ele desejava continuar aprendendo até o fim da vida, aproveitando ao máximo sua experiência, sabedoria e energia. Ivo Pitanguy morreu aos 93 anos, em 2016. Ele me ensinou que o lema para uma velhice mais feliz, saudável e significativa poderia ser: “Eu não preciso mais, mas eu quero!”, mostrando que as pessoas de todas as idades precisam estar abertas, curiosas e flexíveis para aprenderem coisas novas todos os dias e realizarem o propósito das suas vidas:
“Pode parecer clichê, mas é a mais pura verdade: o passado não existe mais, e o futuro ainda não chegou. Só existe o momento presente. É preciso ter a alegria e o encantamento de viver intensamente cada momento, e aprender coisas novas todos os dias. Sempre considerei o meu tempo o meu bem mais precioso. Eu tenho alegria de viver cada momento da minha vida. Eu nunca parei de trabalhar. Trabalho o dia inteiro com muito prazer. Não penso em me aposentar. O mais importante para encarar a velhice numa boa é não levar a velhice tão a sério, rir um pouco dela e rir de mim mesmo. Cada problema que aparece eu penso: se for só isso, dá para administrar. Vou me adaptando ao momento presente: se não consigo mais correr, ando um pouco mais devagar. Se não consigo mais beber como antes, tomo só uma dose de uísque. Mas a vida continua. É preciso manter o tesão pela vida e a paixão pelo trabalho. Quero trabalhar até o último dia da minha vida”, disse ele.