Sua Idade

Por Claudia Lima


A atriz Ingrid Guimarães — Foto: Divulgação
A atriz Ingrid Guimarães — Foto: Divulgação

Ingrid Guimarães é uma mulher multifacetada. Atriz, humorista, autora e apresentadora, é um dos maiores nomes da comédia no país. Mas ao contrário das pessoas que vêm na maturidade um momento de quietude, ela Ingrid vem redesenhando sua carreira com maestria e coragem. Aos 50 anos, a atriz abraça maturidade no modo como enxerga a vida e nos rumos que deseja para sua carreira.
Depois de 28 anos na Rede Globo, ela está de "casa" nova. No canal de streaming Amazon, Ingrid se prepara para a estreia, em 2023, de novos projetos. Entre eles o especial Feliz Ano Novo... De Novo, ao lado de Lázaro Ramos que estreia em janeiro. E não para por aí: estão a caminho o reality Match nas Estrelas, com a astróloga Papisa e um filme junto à colega humorista Tatá Werneck, ambos ainda sem previsão de lançamento.


Foi num intervalo de uma dessas gravações, direto do camarim, que Ingrid Guimarães conversou com exclusividade com a Vogue Brasil. Durante uma hora, ela falou sobre maturidade e tudo o que a acompanha. A alegria de chegar aos 50, a coragem de trilhar novos caminhos na profissão, o desafio de lidar com um mundo pautado pelo etarismo, do machismo no humor e o orgulho de não seguir padrões. "Hoje, eu tenho a consciência de que a minha diferença é o que fez a diferença".

Você completou 50 anos este ano e deu uma grande festa para comemorar. Como foi?
Eu quis fazer uma festona! Convidei todas as pessoas que tiveram significado real na minha vida. Foi tão complexo para mim fazer essa lista porque eu sou uma pessoa que adora ter amigos. Meu marido falou: pensa nas últimas pessoas com as quais você falou nos últimos seis meses. Quem te ligou nos últimos seis meses? Eu nunca fiz esses ritos de passagens tradicionais, não casei na igreja, não tive festa de 15 anos, então pensei: 'Vou fazer uma festa mesmo, para mostrar logo que eu tenho 50 e acabar com esse assunto. Vou debutar, vou casar comigo mesma.'

Como está sendo viver esta idade?
Quando eu comecei a chegar nos 46, 47, 48, eu pensei: 'Meu Deus, daqui a pouco eu estou com 50 anos!' E via também o espanto das pessoas quando eu falava que ia fazer 50. É um pouco difícil para mim lidar fisicamente. Não menstruar, ter secura vaginal, dormir mal, ter insônia, esses calores, tudo isso é muito complexo. Mas minha cabeça é muito jovem e eu me sinto muito jovem. Não me sinto envelhecendo.

Você sentiu muita cobrança por estar amadurecendo?
Agora todo mundo já sabe que eu tenho 50, mas até pouco tempo atrás era assim: '50? Mentira! Não, parabéns, você está ótima!' Aí, eu comecei a entrar em crise. Parabéns? Por que? Parabéns por não se mostrar a velha como você é, que você tem uma idade avançada, por ter acesso a todos os procedimentos possíveis e conseguir não mostrar que você está ficando velha? Eu me lembro, quando era mais nova, de participar de esquetes de programa de humor, com piadas do tipo, brincar com a mulher que tinha calores como se aquilo fosse uma coisa de 'velha'. Isso era piada que a gente fazia na época de Chico Anysio! Dá para imaginar?

De onde você acha que vem este preconceito?
No Brasil, envelhecer ainda é um tabu. Não é uma coisa fácil. Muitas vezes a pessoa até nem faz por mal, mas há um preconceito enraizado. Eu já tive conversas com pessoas de 20 e poucos que falavam: "Não, gente, a mulher já fez 50 anos!", é como falar que somos senhoras, sabe?

E não somos né?
Zero! Se não fosse a menopausa, eu não teria nem percebido. Eu fui a uma massagista ayurvédica que me falou uma coisa linda que mudou um pouco a minha percepção. Ela disse 'você já reparou que a menopausa tem escrito a palavra pausa', e aí, ela começou a me contar o sentido de pausa. Não é só porque pausa o período, não é só pausar o seu sangue. É um recado da vida para que você também comece a desacelerar o teu corpo, a tua mente e ver o que você quer da vida. Eu gosto mais de falar que eu estou entrando no terceiro ato do que na menopausa.

E como é este terceiro ato?
Eu tenho pensado muito em como eu quero viver os meus próximos dez anos. Tem sim aquela sensação da urgência, do agora ou nunca. Eu tenho uma rede de amigas, todas de áreas diferentes da minha e vejo como é para elas: a vida de quem é funcionária e não a dona de um negócio, a colega de trabalho mais jovem que te ultrapassa, a que saca muito de internet… Aquela coisa de que sua experiência conta, mas também não conta, sabe como é? Tem também as que estão solteiras e a pressão com o mundo masculino e os homens de 50 estão com meninas muito mais novas. Isso é uma coisa muito brasileira.

O etarismo é algo que eu só estou percebendo agora. E eu nem conhecia essa palavra, é uma palavra nova no meu vocabulário. Quando a gente chega nessa idade é que percebe o quão cruel é o preconceito de idade que vai te deixando cada vez mais invisibilizada. Também tenho pensado em como e com o que eu quero gastar o meu tempo. Como eu quero viver? Com o que eu quero me estressar? Para mim é difícil porque eu sou uma pessoa indignada, e emocionada. Eu não sei passar pela vida sem me envolver com tudo e com todos. Então, para quem tem esse tipo de personalidade, é complicado.

A maturidade afetou o seu trabalho como atriz e humorista?
O Brasil é muito esquisito nesse assunto, até com os personagens que dão para a gente nessa profissão. Eu vejo amigas minhas tentando se reintegrar no mercado de trabalho, mas quando falam a idade, tem um puta preconceito. Se você chegou aos 50 sem ser dona da sua própria história, é muito mais difícil. Meus filmes e todas as coisas que eu estou fazendo agora têm esse viés de como é que a gente aproveita o nosso tempo, ressignifica a nossa vida e lida com o envelhecer de forma saudável, alegre e feliz. Estou sentindo necessidade de contar não só a minha história, mas a história das mulheres que estão em volta, de ser autoral.


Como é ser uma uma mulher humorista?
Se eu não tivesse sido uma atriz que foi fora dos padrões a vida inteira, que nunca se encaixou em nenhum personagem e que sempre teve que batalhar para poder ter voz, não sei como seria. Porque o humor é um dos meios mais machistas do Brasil no mundo todo, foi a vida inteira escrito e dirigido por homens. Historicamente, os grandes comediantes também: Charles Chaplin, Buster Keaton, os Irmãos Marx, Monty Python… E no Brasil Jô Soares, Chico Anysio, Os Trapalhões...

É, realmente não havia muitas mulheres…
Não tinha nenhuma mulher protagonista. Elas eram sempre coadjuvantes. Eu comecei no Chico Anysio sendo coadjuvante e depois nas novelas, fazendo papéis bem pequenos. Inclusive quem fazia os filmes de comédia quando eu comecei eram as atrizes de novela. Então, justamente por ter vivido muito nesse lugar, eu fiz a minha própria história, partindo do teatro, com a Heloísa Perissé. Eu e a Lolô fizemos uma coisa que foi muito importante na época, a peça Cócegas, onde a gente falava da mulher contemporânea fora do estereótipo. A peça ficou mais de 10 anos em cartaz, talvez porque fosse algo que não se via muito.

"Não sou padrão. Hoje, eu tenho a consciência de que a minha diferença é o que fez a diferença", reflete Ingrid Guimarães — Foto: Divulgação
"Não sou padrão. Hoje, eu tenho a consciência de que a minha diferença é o que fez a diferença", reflete Ingrid Guimarães — Foto: Divulgação

E hoje você consegue enxergar mudanças?
A geração da Tatá Werneck, já chegou fazendo protagonista de novela, ela mesma diz isso. Mas a gente abriu essa porta antes. E quem abriu para mim foi o TV Pirata, Regina Casé, Fernanda Torres, Marisa Orth, a Claudia Gimenez. E para elas, a Dercy Gonçalves e outras, que ficaram subjugadas a papéis superestereotipados. Nós todas já estávamos ali, desbravando, fomos as primeiras a ter nossos próprios programas, com o nosso nome e ter papéis de protagonistas. Quando eu comecei a fazer De Pernas para o Ar, era a época do boom dos blockbusters da comédia popular. Tinha o Bruno Mazzeo, Leandro Hassum, Fábio Porchat e eu. Havia poucas mulheres. Hoje, graças a Deus, temos a Mônica Martelli, a Fabiana Karla, a própria Tatá e várias outras mulheres que já são protagonistas.

Hoje a gente tem muito mais voz. Inclusive para poder fazer algo sobre uma mulher de 50 e ter público para isso. Na época, ninguém se interessaria. Esse nicho existe, é um público que compra e consome muito, que sabe o que quer, gosta de produtos de qualidade. Isso vai ser cada vez mais comum. Eu me sinto, hoje, querendo, podendo e tendo meios de falar sobre isso.

Você saiu da Globo depois de 28 anos, está filmando ao lado da Tatá Werneck e estreia em janeiro um especial na Amazon com o Lázaro Ramos. Como está sendo essa mudança?
Coincidentemente, os meus 50 anos vieram com uma mudança na carreira e a saída de uma empresa onde eu fui super feliz. Eu não tive nenhum problema, saí porque eu quis, para contar a minha história num lugar como a Amazon, que me perguntou: o que você quer fazer aqui? Eu queria ter voz. Não que eu não tivesse voz na Globo, não se trata disso. Mas numa empresa maior, é mais difícil. Essa mudança teve muito a ver com o fato de eu estar fazendo 50 anos. Talvez, se fosse aos 40, eu não iria.

Por que? Você acha que a idade te trouxe mais coragem?
Eu tive sim. E percebi que o tempo que eu tinha talvez não fosse tão longo - como aos 30 anos - para fazer tudo o que eu quero fazer. Eu passei a vida inteira ouvindo, de amigos mais velhos, que aos 50 você vai fazer papel de mãe de uma atriz de 30 anos e logo vai ser chamada de vó.

Se você pensar na sua trajetória até aqui, qual é seu maior orgulho?
Eu sou muito vaidosa, sempre fui. E vim de uma geração onde a comediante era sempre a que tinha que usar peruca, ser colocada no grupo das feias, das esquisitas, das piranhas… Eu lutei muito contra esse estereótipo, disso eu tenho orgulho na minha vida. De ter lutado, de não ter topado e dito não muitas vezes e de ter colocado pilha em todo mundo à minha volta para não aceitar certos tipos de papel. Eu falo muito isso para minha filha, que vive nessa era TikTok, onde todo mundo acha que tem de ter o padrão das outras pessoas: 'Sua mãe nunca foi padrão. Hoje, eu tenho a consciência de que a minha diferença é que fez a diferença'.

E como é a sua relação com a beleza? Vai mais para o lado da estética ou da saúde?
Meu envelhecer veio junto com o pós-Covid e também com a morte de muitas pessoas queridas. Tudo isso foi muito ruim, mas foi bom para repensar. 'Ok, eu estou envelhecendo, mas eu estou viva'. É um privilégio. Eu me preocupo com a saúde, com certeza. Minha avó vai fazer 100 anos, eu venho de uma família de mulheres fortes. Eu fui mãe tarde, com 37 anos. Tenho uma filha de 12, quero vê-la se casar, constituir família. Mas eu gosto de me sentir bonita, cuidar da pele, do cabelo, do corpo. Isso é para o meu bem-estar, entende? Então eu me dedico, malho, e não só pela questão da beleza, mas da saúde também. Eu sou a louca do tratamento, faço o que tiver ao meu alcance. Mas já aconteceu várias vezes de eu ter apenas um dia de folga e pensar: vou malhar ou vou para a terapia? Eu vou para a terapia, com certeza. Prefiro ter uma cabeça boa do que uma pele boa. Mas se puder ter os dois… a gente está querendo!

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