É entre vilarejos pacatos Sertão adentro no interior de Alagoas que boa parte da produção de bordados da Foz acontece. A etiqueta do alagoano Antônio Castro estreou no São Paulo Fashion Week este mês, com a coleção Alambique Fantasia, que explora a importância cultural da cachaça e da produção de cana no Nordeste do país. O objetivo do estilista é trazer cada vez mais o artesanal para o contexto urbano e cosmopolita das cidades, além de apresentar um apanhado da cultura sertaneja de seu estado natal.
![Backstage da estreia da Foz no SPFW N56 — Foto: Divulgação/@agfotosite](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/M2hTPT63IzwDcLKfqZ1lxTY7iPY=/0x71:2000x2693/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/B/L/mDkt5GQCa73A1IcQuBXw/foz-n56-agfotosite-010.jpg)
O Sertão é mesmo fantástico, misterioso e multicultural, misturando sua história extremamente rica (do cangaço às festas juninas) com o folclore e as lendas urbanas, como pude vivenciar em setembro, quando acompanhei Antônio em uma viagem de quatro dias pela região, onde conferimos o desenvolvimento de parte das peças do desfile. A Ilha do Ferro, destino turístico e a primeira parada de nossa expedição, tem (segundo dados do governo do estado de Alagoas) o maior contingente de artistas populares por metro quadrado do Brasil. A cada casinha, se encontra um ateliê de um dos artistas locais, que desenvolvem, principalmente, esculturas em madeira, o bordado boa-noite e bonecas de pano. Seguindo de carro pelas margens do rio São Francisco, partimos para Entremontes, onde se localiza a maior parte da produção de bordados da Foz, dividida entre a associação de bordadeiras do vilarejo e o ateliê de dona Lourdes. A região é conhecida pela técnica rendendê, que aparece nas palavras “Pinga”, “Goró” e “Cana”, que ilustram parte dos looks da coleção de estreia de Antônio, representando as diferentes nomenclaturas que a cachaça recebe.
Visitamos ao todo cinco cidades. Por lá, cada região tem um tipo de bordado e artesanato como marca registrada. Nossa próxima parada é o município de Capela, conhecido pelo bordado livre, a base dos desenhos de caranguejos vazados, cobras e formas quiméricas que estampam bolsos e peças. Enquanto tais répteis e crustáceos fazem referência aos animais usados dentro das garrafas de cachaça para que a bebida seja “curtida”, as galinhas com cabeça de homens são assinadas pelo pintor e artesão recifense Getúlio Maurício, em uma obra encomendada por Antônio que representasse a aguardente.
![A partir da esquerda, Daira Pi usa blusa (R$ 1.280) e calça (R$ 960), Carol Ruppenthal usa blusa (R$ 1.640) e shorts (R$ 550), e Mayumi usa vestido (R$ 2.100) — Foto: Vogue Brasil/ Franklin Almeida](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/Q0Z2ATXjOSwfcCnpzD5r3dt20Jg=/0x0:2599x3249/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/K/P/B45wAVR3upIszzIhBOtw/12.jpg)
Já em Marechal Deodoro, as bordadeiras trabalham a técnica filé sobre grandes telas, quase como um tear, e criam peças inteiramente bordadas, cuja imagem se assemelha ao crochê. De origem francesa, o filé costuma figurar em criações de marcas como a Dolce & Gabbana. Por último, é em Coruripe onde Antônio constrói a múltiplas mãos as bolsas e acessórios da coleção, em cestaria crua e colorida, incluindo os chapéus com pássaros no topo que irão pontuar os looks do desfile.
O estilista começou a trabalhar com as bordadeiras do interior do estado em 2018, em seu projeto de conclusão do curso de design de moda, no Senac São Paulo, dois anos antes do surgimento da Foz, como uma forma de resgatar e valorizar esse trabalho. “O artesanato vai se deteriorando com o tempo, pela desvalorização da técnica, que é passada de geração em geração, barateando e perdendo qualidade. O nosso trabalho é manter vivo esse patrimônio e fazer com que as pessoas enxerguem o verdadeiro valor desse produto.”
Fotos: Franklin Almeida. Arte: Sthe Louise. Styling: Zazá Pecego. Assistente de foto: Victoria Cavalcante. Beleza: Jaque Vieira. Produção executiva: Felipe Vieira Souza. Assistente de beleza: Patrick Pontes.Tratamento de imagem: Felipe Mazzucatto. Agradecimentos: branco.casa